Mudanças de hábitos
Há muito tempo que não via o mundo tão perplexo diante da ação de um vírus. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já se conscientizou de que se trata de uma pandemia em função do número de mortos pelos diversos continentes e pela proliferação fora do controle de órgãos que atuam na área de saúde em diversos países. A constatação desse fato já interfere na nossa rotina, pois se instalou um clima de apreensão.
O medo do contágio preocupa, embora não haja razões para pânico. Contudo, o clima de insegurança se alastra em virtude dos boatos sem fundamentos. No momento, as medidas preventivas devem ser priorizadas. É nesse ponto que observamos as mudanças de hábitos no comportamento social. Os cumprimentos efetuados com aperto de mão estão se restringindo. Os abraços, os beijos nas saudações estão sendo contidos. Uma simples tosse como sintoma de uma gripe comum já exige cuidado.
Na verdade, o simples ato de lavar as mãos com frequência já deveria ser rotina. O tossir com proteção do antebraço para não espalhar perdigoto não pode ser algo raro, mas comum. Em síntese, a assepsia é imprescindível não somente no combate ao novo coronavírus (Sars-Cov-2), causador da doença Covid-19, mas também para evitar outras doenças que são transmitidas por vias respiratórias, pelo contato físico e por superfícies contaminadas.
A falta de higiene está na raiz de várias doenças que também levam à morte. Por isso que é necessária uma política que invista em saneamento básico, em assistência social, em educação, saúde, exercendo assim um trabalho de prevenção. Isso, consequentemente, diminuiria até o índice da mortalidade infantil. No mundo, morrem, aproximadamente, dois milhões de crianças por causa da diarreia. As mais afetadas são aquelas que vivem em países pobres. Desculpem o meu ceticismo, mas, para mim, a fome é uma pandemia que mata milhões de pessoas lentamente há séculos. Se não houvesse fome também no território chinês, talvez não estaríamos atravessando por esta situação tão crítica.
No momento, vejo uma preocupação maior com a desaceleração da economia do que com as pessoas infectadas. Estas aparecem nas estatísticas. As oscilações das bolsas de valores, a alta do dólar acenam para um processo recessivo, por causa da diminuição do consumo. Mas há quem esteja lucrando com essa instabilidade. A indústria farmacêutica está mais aquecida, pois, em situações alarmistas, a automedicação aumenta.
Quando colocamos os olhos na história, é possível enxergar situações críticas no passado que também deixaram marcas profundas, como a peste negra, a gripe espanhola. Esta, na época, afetou o ex-presidente Rodrigues Alves que veio a falecer, vítima da citada pandemia. Os números de mortos, nesses casos, sempre são por estimativas. Não se tem o número exato, porque nem todos os óbitos são registrados.
Triste é saber que, em pleno século XXI, com um evidente avanço tecnológico e científico, ainda estamos sofrendo com doenças que poderiam ser evitadas se tivéssemos, pelo menos, as condições básicas para que cada ser humano pudesse viver dignamente. Não importa o regime político em que vive, nem o continente que habita.
Não tenho dúvidas que iremos superar mais essa crise “Made in China”. Só que precisamos aprender com estas árduas lições: os vírus não têm pátria nem ideologia, a fome não tem fronteiras, a morte não adota processo seletivo, nem estabelece hierarquia em função de classe social.
– Pela mão do destino, há um determinado momento em que a desigualdade social nivela todos ao nada: “és pó, e ao pó, voltarás”..