• José Mojica Marins e o Zé do Caixão

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  • 07/03/2020 09:25

    Embora não tenha nenhuma afinidade com a proposta temática dos filmes do cineasta José Mojica Marins, reconheço que ele marcou, com o seu trabalho, a cinematografia brasileira, é considerado o Pai do Terror Nacional.

    Não gosto de filme de terror. Mas sei que existe uma legião de fãs fascinados pelo mistério que há sobre a outra margem da vida. O sobrenatural não é a minha praia. Vou até aonde a minha fé alcança. Contudo, sei que há um campo imaginário imerso no que chamam de “vida após a morte”, universo dantesco rotulado de vale das trevas.

    Há uma vasta Literatura que explora a personificação dos ditos “anjos caídos”. Nessa matéria, o meu conhecimento é parco. Mas resolvi escrever este texto, porque li e ouvi alguns conceitos equivocados: quem faleceu em decorrência de uma broncopneumonia, no dia 19/02/2020, às 15:46, no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo foi o paulistano José Mojica Marins, não o personagem Josefel Zanatas, conhecido como Zé do Caixão. Este continua vivo.

    É bem verdade que, dentro do senso comum, o ator se confundia com o personagem. Mas é preciso dissociar autor, ator e personagem. É válido mencionar que o mesmo ocorre com Charles Chaplin e o personagem criado por ele, de nome Carlitos. A fisionomia deste é mais conhecida do que a do seu criador.

    O Josefel Zanatas, criado com perfil niilista na década de 60, por se tratar de um agente funerário, foi apelidado de Zé do Caixão. “Josefel”, é a junção de “José” e “fel”. O sobrenome foi adotado, porque, lido de forma contrária, faz alusão ao senhor das trevas.

    Embora o Zé do Caixão apresente, esteticamente, uma ligação com outros personagens que habitam esse universo vinculado ao sobrenatural como Drácula e Nosferatu, o senhor José Mojica, que nascera em uma sexta-feira 13, em março de 1936, afirmara que ele surgiu depois de um sonho que teve, no qual se via arrastado, em um cemitério, por um vulto que o deixou em frente de uma lápide na qual havia duas datas: a do nascimento e a da morte dele.

    O ator conservava faziam parte da caracterização do personagem. Esse era outro ponto comum entre o criador e a criatura. Alguns filmes dele foram censurados, por serem considerados amorais e subversivos.

    É preciso reconhecer a luta que ele travou para manter uma produção com mais de 40 filmes ao longo de 66 anos de carreira. Faleceu com 83 anos. Deixou um legado marcante na Cultura Trash. No espaço underground da cinematografia do país, vamos encontrar José Mojica domquixotiando para levar, ao cinema, histórias ambientadas no mundo das trevas.

    Lobisomens, bruxas, fantasmas, vampiros são frequentes na literatura universal. Mas é preciso que se diga que o terror nem sempre está relacionado ao sobrenatural. Há uma face que explora o suspense pelo lado psicológico, pelas neuroses e esquizofrenias, sem vínculos com tentações demoníacas. Edgar Alan Poe, Hitchcock exploraram o inconsciente, criaram suspenses sem apelar tanto para as almas penadas.

    Na vertente em que personagens mantêm pacto com o mal, encontram-se alguns clássicos. Na literatura alemã, temos “Fausto” de J.W. Goethe. No Brasil, destaca-se “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. E não podemos deixar de citar a “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, em que há a descrição do “Inferno”, do “Purgatório” e do “Paraíso”. Para mim, a realidade já assusta com tanto horror e terror, por isso evito me aproximar da ficção distante da Luz.

     

     

     

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