• Uma pessoal Lava-Jato

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  • 04/07/2016 14:05

    A qualquer nova revelação de que o PMDB, consorte do azarado governo interino, pisou na bola, recomeça a cansativa gemedeira do “é golpe”. Como se o PMDB não fosse a mesma sigla teúda e manteúda que o PT cobriu de luxuosas propinas em 13 anos de enlace amoroso e que, desde o épico sumiço de Ulisses Guimarães, definhou sua decência a céu aberto. Qual a novidade, então?

    Nem deu pra entender Dinho Ouro Preto – denunciador do “golpe”, fã da vã “presidenta” – antes de cantar “Que País é Este?” em Curitiba, homenageando Sérgio Moro (ué, ele não era o inimigo?). Moro foi ovacionado. Sugiro ao Capital Inicial então cantar logo a indagação “Que Golpe é Este?” em que a “golpeada”, depois de pedalar orçamentos, livremente pedala nas ruas, fala sandices pelos cotovelos e recebe comensais no Alvorada. Ora, golpes dão exílios, cadeias, injustos grilhões. Neste ponto, claro, há os que acham injustiçados o Zé Dirceu, essa freira, Vaccari, o casto e Genoíno, um mártir. Acreditam em coelho da Páscoa.

     Indispensável, a saída da Dilma. Ponto. Solução, Temer nunca foi. Só tampão, para dar ao país o respiro de construir alternativas. Quando insuportável o sufocamento, necessário escapar da areia movediça, mesmo que para o lodo. Não há que lamentar e sim evoluir à lama, até que um dia, quem sabe, verdejem os pastos da pátria decente e íntegra que desejamos. 

    Então, chega de catar o grão da mesquinharia no pigarro do Temer, ou pelo em ovo no MINC morto-vivo, na queda do Jucá, no Picciani sinistro. Chega de ficar reclamando hoje dessa direita que ontem acasalava com o PT, e que – por vezes – governava o PT. Chega desse destempero histérico no paraíso de donos da verdade que são as redes sociais. Sem o freio da presença olho no olho, desafia-se o Tyson e xinga-se até a Madre Tereza de canalha. Militância virtual asséptica, colgate e tão abusadamente ofensiva, que chega a ser inofensiva, matando a militância verdadeira, porque esta é penosa e, aquela, facinha. Gente furibunda acusa golpistas, odeia Temer, cospe em Marina, incensa na Dilma o estelionatário projeto de poder que mentia ser de esquerda. Mas gente furibunda que, em muitos casos, sonega imposto, avança sinal, corta no acostamento, não assina carteira de empregada, compra pirataria, põe meninas no funk e acha normal crianças hipnotizadas em games proibidos. Gente que se deu bem na Lei Rouanet, ganhou sua porção caixa dois ou propina, mas que, como diz Lula, “só fez o que todo mundo faz”.

    Redenção política esse país só verá quando a fúria internética deixar de ser metralhadora giratória sobre o outro e passar a ser reflexão sobre o que precisamos consertar em nós mesmos. Se achamos ruins a Dilma, o Temer, o Cunha, é porque, como povo (não povo utópico da esquerda sonhadora) mas povo real e (des)organizado, temos sido povo ruim. Estamos doentes, como diz Teori Zavascki. A cura será difícil e demorada. Demanda de cada brasileiro uma pessoal Lava Jato.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

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