
Palestra da Professora Ana Cristina Borges Lopez M. Francisco ao ensejo do 87º aniversário do Instituto Histórico de Petrópolis
O Instituto Histórico de Petrópolis realizou, no dia 22 de setembro do ano em curso, a celebração alusiva ao octogésimo sétimo aniversário de sua fundação e, no dia 6 de outubro, a palestra da associada Professora Ana Cristina Borges Lopez M. Francisco.
A sede estabelecida à Praça de Liberdade, 247, Casa de Cláudio de Souza ornada em confrades e convidados, perfeita sintonia às belas marouflages, vitrais, azulejaria portuguesa e traços arquitetônicos em estilo eclético com influências art déco (início do século XX) foram realçados ante o brilho do público das várias searas do notável saber.
A assembleia comemorativa reviveu a dedicação, e a tenacidade do Dr. Henrique Leão Teixeira Filho, e também, da Comissão constituída por Max Fleiuss, Leão Teixeira, Jacobina Lacombe, Rangel Pestana e Alcindo Sodré à elaboração do estatuto do “Instituto Histórico Dom Pedro II”, aprovado em reunião no dia 24 de setembro de 1938 e oficialmente instalado em 2 de dezembro do mesmo ano, data natalícia do Imperador, patrono do renomado panteão cultural, guardião na preservação da história e memória da Imperial Cidade de Petrópolis.



A sessão solene do aniversário do IHP foi presidida pela Sra. Dra. Elizabeth Maller, Presidente do Instituto Histórico de Petrópolis à frente dos trabalhos e, também, pela Vice-Presidente do Instituto, historiadora e professora Vera Abad, pelo Senhor Diretor Tesoureiro e historiador Luiz Carlos Gomes, também Secretário; e por mim, Fernando Antônio de Souza da Costa, Diretor de Relações Públicas e Cerimonial da Egrégia Confraria.
Depois da alocução presidencial, oportunidade em que discorreu sobre o natalício do I.H.P. procedeu-se a outorga do Medalhão comemorativo aos 200 anos do nascimento do Imperador Dom Pedro II, criado pela Diretoria do IHP.
Foram agraciados os membros titulares do IHP, jornalistas, entidades e personalidades, apoiadores em prol da preservação da história, memória e cultura.
Ato contínuo, o Diretor Secretário e Tesoureiro, Luiz Carlos Gomes rememorou fatos históricos da entidade.


No dia 6 de outubro, em prosseguimento às comemorações já mencionadas da arcádia cultural ocorreu a bela palestra da Professora Ana Cristina Borges Lopez M. Francisco cujo tema abordado foi “Mulheres que ensinam, histórias que resistem: educação feminina em Petrópolis nos oitocentos”.
A elegância, simpatia, eloquência e o requinte do vernáculo que aureolam a mestra associada Ana Cristina, ex-presidente do I.H.P. a todos encantou.
Eis uma síntese do pronunciamento da educadora e palestrante Ana Cristina; assim expressou-se:

“No Brasil oitocentista, a educação da infância desvalida, isto é, de crianças órfãs, pobres ou abandonadas, era marcada por uma perspectiva assistencialista e moralizadora, mais voltada para o controle social do que para a emancipação intelectual. Nesse contexto, a criação da Associação Protetora da Infância Desvalida, em 1883, representou um marco importante nas iniciativas filantrópicas voltadas à infância. Fundada com o objetivo de oferecer abrigo, instrução elementar e formação profissional a meninas desamparadas, a instituição expressava o ideário da caridade cristã e o papel ativo da sociedade civil na “regeneração” das classes populares. Ao mesmo tempo, refletia a transição de uma educação puramente doméstica para formas mais organizadas de instrução, inserindo-se no movimento mais amplo de construção das primeiras políticas de proteção à infância no Brasil.
A educação das crianças nobres no Brasil oitocentista era profundamente marcada pelos valores da elite patriarcal e pelas influências culturais europeias, especialmente francesas. Diferente da instrução destinada às classes populares, as crianças das famílias abastadas recebiam uma educação domiciliar, conduzida por preceptoras e tutores particulares, geralmente estrangeiros, que ensinavam boas maneiras, línguas, música, bordado, literatura e noções de ciências e história. Essa formação tinha como principal objetivo preparar os filhos para ocupar posições de destaque na sociedade e reforçar os papéis de gênero: às meninas cabia o refinamento moral e doméstico, enquanto aos meninos se destinava o preparo intelectual e político. Assim, a casa senhorial tornava-se o principal espaço educativo, onde se cultivavam hábitos e saberes que distinguiam a nobreza e reafirmavam as hierarquias sociais do Brasil oitocentista.


Na Petrópolis oitocentista, marcada pela presença da corte imperial e pelas desigualdades sociais típicas do Brasil do período, a educação refletia nitidamente as distinções de classe. Enquanto as crianças nobres recebiam uma educação domiciliar refinada, ministrada por preceptoras e tutores estrangeiros, que lhes ensinavam línguas, artes e boas maneiras segundo os moldes europeus, as crianças desvalidas eram atendidas por iniciativas filantrópicas, como a Associação Protetora da Infância Desvalida, fundada em 1883, que oferecia abrigo, alfabetização e instrução prática voltada ao trabalho. Essa dualidade educacional evidenciava a função da educação como instrumento de reprodução social, ao mesmo tempo em que consolidava Petrópolis como um microcosmo da sociedade imperial.
Enquanto umas aprendiam a comandar o mundo desde o salão e outras a servi-lo desde o berço, ambas, embora em lugares e condições distintas, compartilhavam uma carga de estudos e disciplinas muito semelhante, moldada para sustentar a ordem social vigente.”


Ao final, depois dos demorados aplausos e congratulações, os convidados reuniram-se em agradável brinde nas dependências da Casa de Cláudio de Souza.
Ambos os eventos realizados em 22-09 e 6-10-25, contaram com a presença de membros e convidados, aos quais, desde já dirigimos nossos encômios e, a especial homenagem ao associado Dom Pedro Carlos de Orleans e Bragança e à Dona Patrícia pelo prestígio a nós concedido.


Instituto Histórico de Petrópolis, oitenta e sete anos, Jubileu de Nogueira, símbolo de robustez, força e longevidade, título apropriado e merecido ao insigne sodalício a orgulhar Petrópolis, Imperial Cidade.