• Dólar fecha praticamente estável com quadro fiscal no radar

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  • 03/out 17:45
    Por Antonio Perez. Colaborou Daniel Tozzi / Estadão

    Após rondar a estabilidade ao longo da tarde, o dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 3, cotado a R$ 5,3366 (-0,05%). Apesar da alta de 0,26% nos três primeiros pregões de outubro, a divisa termina a semana praticamente no zero a zero (0,03%). No ano, recua 13,65%.

    No fim da manhã, o dólar chegou a superar o nível de R$ 5,35 e registrou máxima a R$ 5,3620. Operadores afirmam que, além de realização de lucros intradia e fluxos pontuais, a reação do real na segunda etapa de negócios pode ter sido motivada por movimentos especulativos diante do vaivém das expectativas para a corrida presidencial.

    Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro teria aceitado apoiar uma eventual candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao Planalto caso a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro componha a chapa como candidata à vice.

    É corrente entre analistas a avaliação de que parte relevante do mercado opera na expectativa de uma guinada da política econômica em direção à austeridade fiscal em 2027, com a ascensão de um quadro da direita ao Planalto.

    “Foi a única notícia que sugere que pode haver uma saída no futuro para a armadilha fiscal em que estamos. A sensação nos mercados é de que o governo vai ampliar os gastos para se reeleger. Por isso, o dólar não tem caído muito por aqui e se mantém acima de R$ 5,30, que é visto com um patamar de segurança pelo mercado”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.

    A leitura é a de que a cautela fiscal limitou o fôlego do real nos últimos dias e em parte do pregão desta sexta, apesar da continuidade do movimento de perda de força da moeda americana no exterior, com a paralisação parcial do governo dos Estados Unidos. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY encerra a semana com perdas de cerca de 0,50%.

    Além das dúvidas sobre a efetividade das medidas de compensação de perdas de receita com o projeto de isenção de Imposto de Renda (IR) para salários até R$ 5 mil, há temores de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adote novos programas sociais de olho na reeleição. Na quinta, circularam rumores de que o governo estava pronto para “tirar do forno” um projeto para zerar as tarifas de ônibus, fato negado por fontes da equipe econômica.

    “O mercado está mais ressabiado porque existe o risco de o governo lançar mão desse receituário de projetos que tem apelo popular muito grande, mas que preocupam do lado fiscal”, afirma a economista-chefe da BuysideBrazil, Andrea Damico. “Se já está difícil fechar as contas na situação atual, imagine com novos programas. Acho que a história da tarifa zero para ônibus assustou e continua reverberando, impactando o câmbio”, avalia.

    Em evento da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), em São Paulo, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, disse que 70% do movimento de valorização do real desde a virada do ano decorre da fraqueza externa do dólar.

    “Apesar da piora do déficit externo, o real está super bem comportado. Se o real fosse seguir de perto o que está acontecendo com o dólar no mundo, era para o dólar estar em R$ 4,60. Se o real estivesse acompanhando de perto uma cesta de países emergentes que têm características semelhantes ao Brasil, era para o dólar estar em R$ 4,90”, afirmou Honorato, que vê a taxa de câmbio mais próxima de R$ 5,00 do que R$ 5,50 nos próximos meses, em razão do ambiente externo.

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