• Os 200 anos de D. Pedro II: O Estadista que o Brasil esqueceu de Celebrar

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  • 23/set 08:00
    Por Mauricio de Figueiredo Corrêa da Veiga

    O ano de 2025 marca o bicentenário do nascimento de D. Pedro II, que por 49 anos foi Imperador do Brasil e, sem exagero, pode ser considerado o maior dos brasileiros. Seu reinado foi pautado pela defesa da educação, da ciência, da cultura e da liberdade de imprensa — valores que, em grande medida, moldaram a identidade nacional.

    D. Pedro II era filho de D. Pedro I do Brasil (e IV de Portugal), neto de D. João VI e do Arquiduque Francisco I da Áustria, e herdeiro de uma tradição europeia que se fundiu às singularidades brasileiras.

    Ao assumir o trono, em 1840, o Brasil enfrentava índices alarmantes de analfabetismo, pois 92% da população não sabia ler. Ao final de seu reinado, essa taxa havia caído para 56%, reflexo de seu compromisso inabalável com a educação e da fundação de faculdades e escolas que tomaram como modelo a excelência do Colégio Pedro II.

    Entre tantas marcas, o Brasil do século XIX projetou-se no cenário internacional. Foi a 4ª economia do mundo, possuía a segunda maior marinha de guerra depois da inglesa e consolidou a imagem de um Império respeitado.

    D. Pedro II, patrono da Astronomia e dos Bombeiros, era um homem de seu tempo e, paradoxalmente, muito além dele. Falava 23 idiomas, traduziu diretamente do árabe “As Mil e Uma Noites”, doava metade de sua dotação anual a causas sociais e incentivava artistas como Carlos Gomes e Chiquinha Gonzaga.

    Foi amigo de inventores e cientistas como Graham Bell, Pasteur e Edison, que lhe prestaram homenagens pessoais.

    A simplicidade pessoal do Imperador contrastava com sua estatura moral e intelectual. Recusava usar recursos públicos para luxos, mantendo palácios em condições modestas e vestindo-se de forma singela, o que frequentemente servia de motivo de chacota nos jornais da época. Ainda assim, sustentava com firmeza que “imprensa se combate com imprensa”, jamais cedendo à tentação da censura.

    Seus familiares igualmente participaram de lutas nobres. A Imperatriz Teresa Cristina doou suas joias à causa abolicionista; a Princesa Isabel enfrentou ameaças diárias pela defesa da liberdade dos escravizados; seus filhos chegaram a editar um pequeno jornal abolicionista em Petrópolis.

    Mesmo diante de tamanha grandeza histórica, o que se observa hoje é um silêncio eloquente. O bicentenário de nascimento de D. Pedro II passa quase despercebido pelas instâncias oficiais. Não há grandes celebrações nacionais, monumentos erguidos ou políticas de memória capazes de dar a este brasileiro ilustre o reconhecimento que lhe é devido.

    Enquanto outras nações preservam e reverenciam a lembrança de seus estadistas e soberanos, o Brasil insiste em relegar o Imperador que projetou o país ao mundo científico, cultural e político a uma condição de quase esquecimento.

    Essa ausência de homenagens não é apenas um descuido: é um retrato da fragilidade da nossa memória histórica. Ao negar a devida visibilidade a D. Pedro II, perdemos a oportunidade de reafirmar valores de cidadania, liberdade e compromisso com a educação que ainda hoje são urgentes.

    Celebrar D. Pedro II é reconhecer que um dos maiores estadistas brasileiros foi injustamente apagado do panteão oficial. Sua vida e obra continuam a ser fonte de inspiração para um país que precisa olhar para sua história não com desdém, mas com orgulho crítico.

    O esquecimento que envolve D. Pedro II não diminui sua grandeza; ao contrário, denuncia nossas próprias falhas como nação em cultivar a memória dos que verdadeiramente honraram o Brasil.

    **Fonte: Biblioteca Nacional RJ, IMS RJ, Diário de Pedro II, Acervo Museu Imperial de Petrópolis RJ, IHGB, FGV; Museu Nacional RJ; Paulo Rezutti; Aristóteles Drummond; Bibliografia de José Murilo de Carvalho; José Luiz de Mendonça Costa; Fernando Costa.

    **Sobre o autor: Advogado, formado pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP); Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade Autónoma de Lisboa, Titular da Cadeira nº 3 da Academia Nacional de Direito Desportivo; Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB; Professor de Cursos de Pós Graduação na Itália, Portugal, Brasil e Espanha;

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