
C’È VINO
Você já ouviu falar em vinho orgânico, biodinâmico ou vegano? Esses três termos aparecem cada vez mais nas prateleiras e nas cartas de vinho, mas a verdade é que ainda geram confusão.
A maioria das pessoas bebe sem imaginar o que existe por trás da garrafa. A surpresa é grande quando descobrem, por exemplo, que um vinho “comum” pode ser clarificado com clara de ovo ou conter mais de 70 substâncias diferentes permitidas por lei no processo de vinificação. Mas você, leitor da Tribuna, vai saber a partir de agora o que esses termos realmente significam quando encontrar um desses rótulos na mesa.
Orgânico
O vinho orgânico nasce no vinhedo. Ele é produzido a partir de uvas cultivadas sem agrotóxicos ou fertilizantes químicos, priorizando o equilíbrio natural do solo e da planta. O resultado tende a ser uma fruta mais pura, que chega à adega com força própria, sem necessidade de correções agressivas.
Biodinâmico
Na biodinâmica, o vinhedo é tratado como um organismo vivo em harmonia com o ambiente. Além de técnicas naturais, esse modelo segue o calendário lunar: dias de fruto e flor são ideais para a colheita, enquanto dias de raiz e folha são reservados para trabalhos de solo e conservação. Plantar e colher de acordo com a lua não é misticismo. É respeitar o ritmo da natureza e buscar estabilidade no vinho.
Vegano
O vinho vegano chama atenção porque nem todo vinho é naturalmente vegano. Na clarificação, muitos produtores ainda usam clara de ovo ou gelatina para suavizar taninos e turbidez. Essas proteínas se ligam aos compostos do vinho, precipitam e são retiradas antes do engarrafamento. É uma prática tradicional e normal na enologia, mas que tira o rótulo da lista dos veganos. Hoje, alternativas minerais e vegetais como bentonita e carvão ativado permitem chegar ao mesmo resultado sem uso de insumos de origem animal.

Você sabia?
A legislação brasileira permite o uso de mais de 70 substâncias diferentes na produção de vinhos:
- 22 aditivos → conservantes, reguladores de acidez, antioxidantes.
- 48 coadjuvantes de tecnologia → clarificação, filtração, fermentação
Tudo dentro de normas de segurança e controle, mas é um dado que mostra como um vinho dito “convencional” pode carregar muito mais do que a gente imagina.
Nas últimas semanas estive em Mendoza para conhecer de perto algumas vinícolas que estão chamando atenção por sua forma diferente de produzir vinho. Nem tudo por lá se resume a Catena ou Casa Vigil. Existe uma nova geração que aposta em caminhos mais limpos e sustentáveis.


A Domaine Bousquet (Vale do Uco), é um exemplo claro. O vinhedo funciona como um organismo vivo. Há até galinhas entre as videiras, controlando pragas e adubando o solo naturalmente. O cultivo segue as fases da lua para plantar e colher, dentro da filosofia biodinâmica. No restaurante GAIA, a experiência se completa, com pratos pensados para harmonizar com vinhos de identidade pura. E um detalhe curioso: a linha “Virgen” não tem sulfito adicionado. Como o sulfito é um conservante natural contra a oxidação, essas garrafas pedem cuidado. Uma vez abertas, devem ser consumidas rapidamente.

A Uco Deus Wine, impressiona pelo uso de ovos de cimento na fermentação e maturação dos seus vinhos orgânicos. Esse método permite micro-oxigenação, dá textura e cremosidade, mas sem a marca da madeira. O resultado é um vinho mais fresco e autêntico.
Já a Anaia, aposta na arquitetura contemporânea e em processos tecnológicos avançados para criar vinhos modernos, conectados com o espírito inovador da região.

Para guardar
- Orgânico → uva limpa, sem química.
- Biodinâmico → calendário lunar, vinhedo como organismo vivo.
- Vegano → sem insumos de origem animal na clarificação.
Será que, na próxima vez que você abrir uma garrafa, vai estar bebendo só vinho ou também um estilo de vida?