• O Caminho da Resiliência

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  • 17/set 08:00
    Por Gil Kempers

    As novas tecnologias e os velhos desafios da Defesa Civil no Brasil

    Uma das mais incríveis revoluções criadas pelo ser humano foi o advento da tecnologia. A velocidade com que as novidades surgem realmente impressiona. E se você não acompanha esse desenvolvimento, pode ser totalmente engolido pelo processo.

    Algumas pessoas mais velhas que presenciaram o início dos celulares, por exemplo, viveram antes sem a existência desses aparelhos e tiveram um curto período de transição com os teletipos (ou aparelhos de envio de mensagens por central) até a chegada dos celulares. Os mais experientes se lembrarão de que, quando os celulares chegaram ao Brasil, além de terem um custo elevado, ainda apresentavam uma grande dificuldade de comunicação e operação. No entanto, em um curto espaço de tempo, esse processo foi se moldando, assim como em outras áreas do desenvolvimento científico.

    Eu sei que isso entrega a idade, mas no meu Ensino Médio, cheguei a visitar um computador com a minha escola. Fomos a uma universidade para ver um computador. Isso mesmo. Nem dá para imaginar isso hoje, com a tecnologia de nossos smartphones na palma das mãos.

    Podemos então considerar que a Tecnologia está a serviço da vida?

    No entanto, será que estamos explorando bem essa tecnologia para salvar vidas e utilizando todas as suas possibilidades na Defesa Civil? Será que temos mapeamentos e cartografias melhores? Modelos preditivos mais eficientes? Conseguimos antecipar melhor os alertas? É possível emitir alertas mais cedo para salvar mais vidas em caso de desastres?

    Infelizmente, a grande maioria das respostas na área de Defesa Civil é “não”. Não foram desenvolvidas muitas pesquisas nem muitos elementos capazes de criar, de forma eficaz, um escopo de dados que possa antecipar desastres em larga escala.

    Eventos como terremotos e tsunamis ainda seguem com alertas que chegam após os acontecimentos, mesmo com uma grande quantidade de vítimas, danos e prejuízos. No mundo, os eventos de movimentos de massa e hidrológicos estão “engatinhando” no que se refere a sensores e tecnologias de ponta para salvar vidas.

    O conceito de predição ainda é pouco explorado, e um exemplo disso é o Brasil, onde as chuvas ainda são monitoradas apenas com pluviômetros. Ou seja, são dados de chuvas ocorridas, sem validar a quantidade de água que se infiltrou no solo nem a quantidade de chuva que escoou. Assim, continuamos com protocolos conservadores, principalmente porque eles consideram apenas os dados de chuva verificados pelos pluviômetros, sem nenhum tipo de refinamento, como sensores de umidade do solo e outros processos que pudessem melhorar essa avaliação.

    O que esperar então do futuro e a tecnologia na área de proteção e defesa civil?

    Seria leviano afirmar que as pesquisas sobre desastres evoluíram pouco na última década, mas os esforços individuais ainda não podem ser considerados uma solução adequada para um problema que se agrava de maneira mais intensa por conta das mudanças climáticas. Essas mudanças causam diretamente a redução do tempo de recorrência e uma intensificação dos eventos extremos, que estão cada vez mais extremos.

    Nesse sentido, quando vemos as tecnologias, os novos equipamentos, a Inteligência Artificial, os robôs e outros avanços tão importantes como o 6G, a rede LoRa e outros grandes progressos, começamos a ter esperança de que esses novos processos também se voltem para a redução do risco de desastres, no Brasil e no mundo.

    É importante que os sistemas sejam desenvolvidos, como o de alerta e alarme por sirenes, que precisa de um “upgrade”. O ideal seria integrar novos sensores e elementos que contribuam para a validação dos dados e para a melhora na certeza da tomada de decisão. Isso permitiria ir além dos dados de pluviômetros, incluindo novas informações e uma nova visão sobre como antecipar os alertas, tornando-os mais eficientes, eficazes e confiáveis.

    Os alertas precisam ser mais refinados e assertivos, assim como a malha de radares do Brasil, que é insuficiente para cobrir todo o território com a redundância adequada para garantir uma operação segura e eficiente, precisa ser ampliada. Um dos grandes avanços necessários é, de fato, a mudança e a inclusão da predição ao velho e conhecido monitoramento. Para isso, é possível pensar na integração de elementos como a Inteligência Artificial (IA) aos desenvolvimentos de sistemas ao redor do mundo. Muita coisa vem sendo pensada em todo o planeta para resolver centenas de problemas, e os desastres estão no rol de ideias a serem trabalhadas em prol da redução do risco, da gestão de riscos e do gerenciamento de crises.

    É certo que ainda estamos buscando novos caminhos e a tecnologia tem um papel importante nesse processo. Mas o fato de já começarmos a tratar os desastres como um elemento importante nesse contexto de evolução tecnológica já é um grande passo para buscar avanços adequados, salvar vidas e reduzir os riscos de desastres.

    Seguimos firmes!

    Contato com o autor: gkempers@id.uff.br

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