Ecos de Carolina
No último sábado a Academia Petropolitana de Letras acolheu em seu seio a jornalista e escritora Carolina Freitas, ocasião em fez lançar o livro sob o título “Petrópolis – O comércio de ontem, A saudade de hoje”.
Foram inúmeras as pessoas que ali compareceram com a finalidade de cumprimentá-la em razão da obra publicada, diga-se de passagem, uma valiosa pérola relacionada com a história de nossa Cidade Imperial.
A solenidade, impecável, prestigiada pela imprensa em geral, por amigos, admiradores e por inúmeros acadêmicos integrantes de diversos Sodalícios, que só fazem elevar o nome de nossa cidade pelo Estado e o país afora.
A APL prestes a completar o centenário e a brilhante jornalista e escritora a propiciar tão belo e inesquecível encontro literário naquela Casa.
Na dedicatória que fez-me dirigir vaticinou que seu livro pudesse me transportar para o passado, “… ainda que por alguns instantes”.
Abracei suas palavras e após ler a obra, na realidade busquei voltar ao passado que já vai distante, décadas compreendidas entre os anos sessenta e oitenta, e consoante palavras bem formuladas pelo eminente professor Joaquim Eloy Duarte dos Santos, procurei concretizar o sonho de poder reviver pessoas tão queridas e que já nos deixaram.
E sem a menor cerimônia, seguindo os passos da jovem escritora, fui adentrando, em sono profundo, sem qualquer cerimônia, pelo comércio e indústrias que já não mais existem, tão bem descritos através da interessantíssima obra.
Assim é que, por haver residido por muitos anos no bairro Quitandinha, busquei relembrar o querido amigo, não só meu, como de meus pais, o Sr Souza. Cheguei a conversar baixinho com ele revivendo o auge da farmácia onde sempre nos acolheu; o mesmo, já com o pensamento distante, “fiz abraçar” Benjamin Carneiro Malta e ao abraçá-lo veio-me à mente a quantidade de discos e vitrolas que meu pai fez adquirir na “A Musical”.
Caminhando dois passos à frente lembrei-me do Sr. De Carolis e, em consequência, da importante loja que dirigiu por tantos anos; e mais dez ou vinte passos, parei defronte às Casas Pernambucanas, loja em que minha mãe adquiria tecidos e o demais encontrado naquela tradicional empresa. Voltei cinco passos e tentei adentrar no Fuka’s, porém lembrei-me que a lanchonete não mais existe, nem também vive uma querida tia que no fim de sua trajetória ali comigo lanchou; talvez, o nosso derradeiro encontro.
Não satisfeito, atravessei a rua e decidi relembrar a Casa Sloper e foi aí que o coração bateu mais forte, pois fiz recordar minha mãe, vez que se dirigia àquela loja, com frequência.
Antes, passara pela Sapataria Schettini e vislumbrei a sra. Nina sentada ao fundo da loja, rodeada de amigas. Perguntei-lhe: “Gostei de um par de sapatos exposto na vitrine”; ainda jovem, não dispunha do dinheiro para pagá-lo. Resposta: “Dª Regina ou seu pai aqui virão. Leve o par de sapatos, “disse-me sorrindo!”
Finalmente, já cansado atrevi-me a percorrer toda a Avenida e fui em busca de adquirir uma camisa, já a esta altura, com o pensamento voltado para a figura de meu pai, e lá tanto eu como ele fomos recebidos com o carinho e a amizade do Sr. Eduardo.
Já era noite, ainda assim decidi saborear um churrasco na Maloca: que decepção”, não mais existia!
Acordei cabisbaixo e a saudade bateu forte em meu coração.
Tudo realmente acabara e roguei a Deus que os sonhos pudessem ser transformados em realidade.
Impossível, só mesmo lendo e relendo a obra da jovem escritora.