Laert na trilha da saudade
Ontem, pela manhã, alimentava o desejo de escrever uma crônica. Pensei em comentar algo sobre a nossa querida e tão machucada cidade. Não gostei da ideia porque o meu espírito crítico está um tanto afiado e não desejo anavalhar meu sossego. Quem sabe, algo dizer sobre alguns planos pessoais que rodopiam pelo cérebro desejoso de continuar pensando, mas, também, não quero ocupar a massa encefálica com algum azedume que o tema escolhido possa sugerir. Quem sabe, poderia compor sentenças de devaneios sob descompromissada literatice? Contudo, à lembrança remota surge o período do meu cumprimento do serviço militar obrigatório, onde ouvia muito a forte expressão: “– Negativo!”
Uma inspiração foi surgindo de forma iluminada: divisei a expressão feliz e sempre carinhosa de um amigo que partiu, há pouco tempo; seu sorriso labial reunido ao olhar doce, perscrutador, sincero, tinha o mesmo brilho de quando conversávamos na Academia de Letras ou num encontro mais ligeiro na rua do Imperador e seu entusiasmo, ah! o seu entusiasmo pela vida, pela irmandade de bons princípios, pelo ser de agregar sentimentos de largo amor e tocante simpatia, recolocava, sim, sua presença naquele sonho de reminiscência e saudade diante, novamente, da vida, como se estivéssemos em uma sala planejando a memória que Laert Goulart escrevia sobre a Sociedade Médica de Petrópolis e quando me convidou para auxiliá-lo na empreitada, o que fiz com o melhor do meu coração porque Laert emprestava tanta força à amizade que eu o sentia pleno irmão a quem devia a sorte magna de estar junto em projeto tão dignificante quanto honroso e digno. O livro foi editado e Laert, tão feliz e realizado, recebeu os abraços e elogios de toda a classe médica pelo registro conquistado e pelo carinho que a todos prodigalizou na minuciosa pesquisa.
E revendo Laert, diante de mim, eu o vi presente como naquele dia 18 de outubro de 2005, quando lançou a obra e me obsequiou com a seguinte dedicatória: “Ao querido Mestre Joaquim Eloy, honra e glória da cultura petropolitana, esta pequena homenagem como pleito de profunda gratidão e amizade. Laert”.
Assim o Laert. Grato pela vida e amizade, bravo combatente em sua digna profissão, onde, amado e respeitado, merece todas as homenagens, no final da passagem como recebeu em vida, porque, meu Laert Goulart, a saudade, quando lacrimeja cansados olhos, é sinal de que o amor existe como – e sempre – bálsamo da vida.
Honra e glória da cultura petropolitana, sim, senhor, Dr. Laert Goulart. Mas, não eu, meu amigo, mas você pela dignidade que soube emprestar à vida, à família, aos misteres profissionais, ao quanto doou sua inteligência à humanidade, sob um único interesse: servir cristãmente.
Estamos, Laert, hoje, na trilha da saudade, por essa conversa sob o compromisso único de agradecer a Deus por sermos amigos.