• Tensão com tarifas dos EUA eleva dólar a R$ 5,58, maior valor desde 5 de junho

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  • 14/jul 17:58
    Por Antonio Perez / Estadão

    O dólar acelerou os ganhos em relação ao real ao longo da tarde e, após máxima de R$ 5,5937 na reta final dos negócios, encerrou a sessão desta segunda-feira, 14, em alta de 0,66%, cotado a R$ 5,5842 – maior valor de fechamento desde 5 de junho (R$ 5,5845).

    Operadores afirmam que a busca por posições cambiais defensivas se acentuou durante a segunda etapa de negócios, com investidores à espera da resposta do governo brasileiro à imposição de tarifas de 50% dos Estados Unidos (EUA) a partir de 1º de agosto. Após fechar o primeiro semestre com perdas de 12,07%, o dólar à vista já acumula alta de 2,76% em julho.

    Também pesou contra o real o recuo maior das cotações do petróleo, depois que o presidente americano, Donald Trump, disse que pode impor tarifas secundárias de até 100% sobre a Rússia caso não haja um acordo para um cessar-fogo na Ucrânia nos próximos 50 dias.

    “O dólar lá fora é para cima porque o ambiente é de muito risco. E aqui o mercado está se preparado para retaliação do Brasil às tarifas do Trump, que pode vir amanhã”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi.

    No fim da tarde, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse que o decreto da reciprocidade está pronto, será assinado hoje pelo presidente Lula e publicado amanhã. “O decreto não cita país não, como a lei não cita. A lei autoriza o Executivo a adotar medidas de proteção do País quando medidas extemporâneas e extraordinárias forem adotadas de forma unilateral por outros países do Brasil”, disse.

    O ministro também disse que o governo fará amanhã uma defesa de seu decreto de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no encontro com representantes do Congresso em reunião de conciliação convocada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

    Como adiantado por fontes ao Broadcast Político, um comitê interministerial montado pelo Palácio do Planalto para analisar o tarifaço de Trump sobre produtos brasileiros começará a se reunir com representantes dos setores econômicos a partir de amanhã, com a coordenação do vice-presidente Geraldo Alckmin.

    Foram negadas informações ventiladas mais cedo de que o governo trabalhava com pedido de extensão de prazo para negociação com os EUA e com a ideia de redução das tarifas a produtos brasileiros de 50% para 30%.

    O time de economistas do Itaú, liderado pelo ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita, observa que o anúncio das tarifas de Trump ao Brasil “reverteu, em parte, a dinâmica benigna” do real, que vinha se beneficiando de um dólar globalmente mais fraco e do elevado diferencial entre juros internos e externos. Por ora, o Itaú mantém projeção de taxa de câmbio em R$ 5,65 no fim deste ano e de 2026.

    “O cenário internacional, com dólar global mais fraco, poderia levar a taxa de câmbio para níveis mais apreciados. Contudo, as tarifas impostas, somadas à incerteza fiscal, limitam os ganhos da moeda”, afirma o banco, em referência às dúvidas sobre o IOF e a reforma do Imposto de Renda.

    Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o Dollar Index (DXY) superou o nível de 98,000 pontos e, no fim da tarde, girava ao redor de 98,100 pontos, perto da máxima da sessão, aos 98,136 pontos. O DXY sobe mais de 1,30% em julho, mas ainda acumula perdas de pouco mais de 0,90% no ano. No fim de semana, Trump anunciou tarifas de 30% para México e União Europeia, mas deixou a porta aberta para negociações com o bloco europeu e outros parceiros comerciais.

    “O mercado está mais cauteloso e ainda tenta entender qual será o nível efetivo de tarifas que os Estados Unidos vão adotar, o que tem puxado um pouco o dólar para cima”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, para quem, mesmo com uma melhora do ambiente externo, não há espaço para a taxa de câmbio voltar para o nível de R$ 5,40 visto no início de julho. “Temos juros altos que mantêm a atratividade para o estrangeiro. Mas os problemas fiscais devem puxar o risco para cima.”

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