
Em família
Nos primeiros dias do corrente mês, somei idade e cheguei, por obra e graça de Deus, aos oitenta e um anos.
Em nenhum momento desejei que fosse realizada uma festa com a finalidade de comemorar a data, satisfeito, apenas, com um encontro familiar, o mais precioso presente, muitos abraços apertados dos queridos três filhos, dos cinco netos, da esposa, noras e dos amigos próximos.
O que mais poderia almejar?
Assim é que nada melhor, mais comovente, mais gratificante, até porque sou daqueles que se emocionam com facilidade.
E assim ocorreu o encontro fraterno e inesquecível cabendo-me cortar um bolo delicioso juntamente com uma torta feita, com todo carinho, por minha esposa.
Fez falta, realmente, uma das netas, estudiosa e resiliente que está sabendo programar o futuro sob à luz das Alturas e do incentivo de pai e mãe.
Encontra-se trabalhando no exterior e, sobretudo, brilhando pela maneira de como se comportar, justamente pelo saber, pela competência, além de outras virtudes que lhes ornam o caráter.
Que belo presente, aliado aos estimados familiares que comigo compartilharam a data.
Melhor, nada mais poderia ser-me ofertado.
Na condição de aniversariante, todavia não poderia deixar de comentar que senti-me um tanto preocupado e ansioso com os degraus ainda a serem transpostos, se assim for a vontade do Pai.
Na realidade, após ter aprendido lições paternas e bem assim resultantes da longa e extraordinária escola da vida, acabou que decidi indagar a mim mesmo: mais um aniversário ou muitos outros? Quantos ainda poderemos contar?
Porém, logo me veio a cabeça a resposta, a mais correta e sensata.
Na verdade, todos nós estamos a contar os dias na certeza de que o Criador esteja sempre presente na direção dos caminhos que devemos percorrer, seja vivenciando momentos tranquilos ou sinuosos, os últimos plenos de algumas pedrinhas que, algumas vezes, machucam.
Entretanto, a memória, e considerando o meu modo de pensar, especialmente no tocante ao tempo já decorrido, acabei por recordar inúmeros daqueles que comigo conviveram, sempre muito de perto, ou sejam, mãe, pai, avós, tias, sogros queridos, amigos que já partiram, enfim, pessoas que deixaram gravados na minh’alma momentos simplesmente inesquecíveis.
Os exemplos que me foram transmitidos por pai e mãe, sempre vibrantes e a demonstrarem quanto a prática de atos e gestos levados a cabo durante suas vidas.
A bondade e o carinho de duas tias queridas cujas lembranças nunca permiti que escapassem do meu pensamento, da minha vida.
Enfim, foram tantos os amigos e superiores com os quais tive a honra de trabalhar, em especial, na esfera do Poder Executivo, fazendo com que eu pudesse chegar onde cheguei, graças, ainda, sem dúvida, ao incentivo e sensatos aconselhamentos partidos de minha esposa.
São, portanto, “oitenta e uma primaveras”.
Por isso mesmo vem à minha mente, mais uma vez, das muitas que já me vieram chegar, trovas escritas por meu pai, exímio poeta e trovador, sendo a que se segue dirigida a algum conhecido que completava oitenta anos:
“Hoje, chegou aos oitenta,
já com a lanterna apagada,
agora, é só marcha lenta,
até o fim da picada…
Mas escreveu, também, a bela lição que fez resumir nesta linda trova:
Dê carinho ao mais idoso,
não o trate com desdém,
Pois você, jovem formoso,
vai ficar velho também”.
E a última:
“Dos bens que aqui foram meus,
nenhum teve tanto brilho,
que aquele que tive de Deus,
na pessoa do meu filho.”
Encerro, com emoção, pleno de alegria e com o coração batendo forte e, principalmente, agradecendo ao Pai por permitir chegar aos oitenta e um anos, rodeado de familiares e amigos.