São José e a Virgem
No Quarto Domingo do Advento entra em cena Maria. Seu Filho é o Deus conosco e já se faz presente, ainda de modo velado, mas real, no seio da Virgem, que concebeu por obra do Espírito Santo (cf. Mt 1, 18 – 24). São José é apresentado como “homem justo” (Mt 1,19 ), fiel à lei de Deus, disponível a cumprir a sua vontade. Por isso, entra no Mistério da Encarnação depois que um Anjo do Senhor, aparecendo-lhe em sonho, lhe anuncia: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,20-21). Tendo abandonado o pensamento de repudiar Maria em segredo, ele a toma consigo, porque agora os seus olhos veem nela a obra de Deus.
Santo Ambrósio comenta que “em José se verificaram a amabilidade e a figura do justo, para tornar mais digna a sua qualidade de testemunha. Ele não teria podido contaminar o templo do Espírito Santo, a Mãe do Senhor, o seio fecundado pelo Mistério”. Mesmo que se tenha sentido perturbado, José age “como lhe tinha ordenado o Anjo do Senhor”, na certeza de fazer o que é justo. Também, dando o nome de “Jesus” Àquele Menino que rege todo o Universo, ele coloca-se na esteira dos servos humildes e fiéis, semelhante aos anjos e aos profetas, semelhante aos mártires e aos apóstolos – como cantam antigos hinos orientais. São José anuncia os prodígios do Senhor, testemunhando a Virgindade de Maria, a ação gratuita de Deus, e guardando a vida terrena do Messias. Veneremos, portanto, o Pai legal de Jesus ( cf. Catecismo da Igreja Católica, 532 ), porque nele se delineia o homem novo, que olha com confiança e coragem para o futuro, não segue o próprio projeto, mas confia-se totalmente à misericórdia infinita d’Aquele que realiza as profecias e inaugura o tempo da salvação.
Ao descrever a genealogia de Jesus, Mateus demonstra que é verdadeiro homem, filho de Davi, filho de Abraão; ao narrar o Seu nascimento de Maria Virgem, que foi mãe por virtude do Espírito Santo, afirma que é verdadeiro Deus; e, finalmente, ao citar o profeta Isaias, declara que Ele é o Salvador prometido pelos profetas, o Emanuel, o Deus conosco.
Nossa Senhora fomenta na alma a alegria, porque, quando procuramos a sua intimidade, leva-nos a Cristo. Ela é Mestra de esperança. Maria proclama que a chamarão bem-aventurada todas as gerações (Lc. 1, 18).
Dentro de poucos dias veremos Jesus reclinado numa manjedoura, o que é uma prova de misericórdia e do amor de Deus. Poderemos dizer: “Nesta noite de Natal, tudo pára dentro de mim. Estar diante dEle; não há nada mais do que Ele na branca imensidão. Não diz nada, mas está aí… Ele é o Deus amando-me. E se Deus se faz homem e me ama, como não procurá-Lo? Como perder a esperança de encontrá-Lo, se é Ele que me procura? Afastemos todo o possível desalento; as dificuldades exteriores e a nossa miséria pessoal não podem nada diante da alegria do Natal que se aproxima.
Faltam poucos dias para que vejamos no presépio Aquele que os profetas predisseram, que a Virgem esperou com amor de mãe, que João anunciou estar próximo e depois mostrou presente entre os homens.
A espera jubilosa, característica dos dias que precedem o Santo Natal, é certamente a atitude fundamental do cristão, que deseja viver fecundamente o renovado encontro com Aquele que vem habitar no meio de nós: Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez homem. Voltemos a encontrar esta disposição do coração, fazendo-a nossa, naqueles que foram os primeiros a receber a vinda do Messias: Zacarias e Isabel, os pastores, o povo simples, e especialmente Maria e José, que sentiram pessoalmente a trepidação, mas sobretudo a alegria pelo Mistério deste Nascimento.
Desde o presépio de Belém até o momento da sua Ascensão aos céus, Jesus Cristo proclama uma mensagem de esperança. Ele é a garantia plena de que alcançaremos os bens prometidos. Olhamos para a gruta de Belém, em vigilante espera, e compreendemos que somente com Ele poderemos aproximar-nos confiadamente de Deus Pai.
“Eis que vem o Senhor todo poderoso: será chamado Emanuel, Deus-conosco”. Nestes dias repetimos frequentemente estas palavras. No tempo da liturgia, que volta a atualizar o Mistério, já está às portas Aquele que vem nos salvar do pecado e da morte, Aquele que, depois da desobediência de Adão e Eva, nos reabraça e nos abre de par em par a entrada para a vida verdadeira. Explica-o Santo Irineu, no seu tratado “Contra as Heresias”, quando afirma: “O próprio Filho de Deus assumiu “uma carne semelhante à do pecado” ( Rm 8, 3 ) para condenar o pecado e, depois de o ter condenado, para exclui-lo completamente do gênero humano. Chamou o homem à semelhança consigo mesmo, tornou-o imitador de Deus, iniciou-o no caminho indicado pelo Pai para que pudesse ver Deus e conferiu-lhe como dom o próprio Pai” ( lll, 20, 2-3 ).
Nas festas que celebramos por ocasião do Natal, lutemos com todas as nossas forças, agora e sempre, contra o desânimo na vida espiritual, o consumismo exagerado, e a preocupação quase exclusiva pelos bens materiais. Na medida em que o mundo se cansar da sua esperança cristã, a alternativa que lhe há de restar será o materialismo, do tipo que já conhecemos; isso e nada mais. Por isso, nenhuma nova palavra terá atrativo para nós se não nos devolver à gruta de Belém, para que ali possamos humilhar o nosso orgulho, aumentar a nossa caridade e dilatar o nosso sentimento de reverência com a visão de uma pureza deslumbrante.
O Espírito do Advento consiste em boa parte em vivermos unidos à Virgem Maria neste tempo em que Ela traz Jesus em seu seio.
Na noite do mundo, deixemo-nos surpreender e iluminar de novo por este gesto de Deus, que é totalmente inesperado: Deus faz-se Menino. Deixemo-nos surpreender, iluminar pela Estrela que inundou o Universo de alegria. Chegando a nós, que o Menino Jesus não nos encontre despreparados, comprometidos só em tornar mais bonita a realidade exterior. A atenção que prestamos para tornar mais resplandecentes as nossas ruas e as nossas casas nos leve, ainda mais, a predispor o nosso espírito para encontrar Aquele que virá visitar-nos, que é a verdadeira beleza e a verdadeira luz. Portanto, purifiquemos a nossa consciência e a nossa vida daquilo que é contrário a esta vinda: pensamentos, palavras, atitudes e gestos, impelindo-nos a fazer o bem e a contribuir para realizar neste nosso mundo a paz e a justiça para cada homem e assim ir ao encontro do Senhor.
Sinal característico do tempo de Natal é o presépio que é expressão da nossa expectativa, que Deus se aproxima de nós, que Jesus se aproxima de nós, mas é também expressão de ação de graças Àquele que decidiu compartilhar a nossa condição humana, na pobreza e na simplicidade. Que os corações das crianças e dos adultos possam ainda surpreender-se diante do Presépio!
A devoção a Nossa Senhora é a maior garantia de que não nos faltarão os meios necessários para alcançarmos a felicidade eterna a que fomos destinados. Maria é verdadeiramente “porto dos que naufragam, consolo do mundo, resgate dos cativos, alegria dos enfermos” (Santo Afonso M. de Ligório). Nestes dias que precedem o Natal e sempre, peçamos-Lhe a graça de saber permanecer, cheios de fé, à espera do seu Filho Jesus Cristo, o Messias anunciado pelos Profetas.
Que a Virgem Maria e São José nos ajudem a viver o Mistério do Natal com renovada gratidão ao Senhor. No meio das atividades frenéticas dos nossos dias, este tempo nos conceda um pouco de calma e de alegria, e nos faça ver diretamente a bondade do nosso Deus, que se faz Menino para nos salvar e dar renovada coragem e nova luz ao nosso caminho. Estes são os votos de um Santo e Feliz Natal para todos os que estão lendo este texto e para os seus familiares!