
Viva a cultura que sobrevive e avança
O que a cidade de Petrópolis necessita em termos de arte e cultura para seguir em desenvolvimento? O que já tivemos e que não temos mais? Qual público não tem sido considerado? Onde devemos investir os recursos?
Questões abrangentes e de certa forma subjetivas. O caminho para tentarmos elucidar da melhor maneira possível é reunir artistas e demais fazedores de cultura para que juntos possamos discutir, verificar as demandas e elencar as possíveis soluções. A presença daqueles que não produzem arte, mas consomem arte, também é muito bem-vinda.
Estamos vivendo um momento único na cultura de nosso país. Um momento de resgate e revitalização. A Política Nacional Aldir Blanc – PNAB, é uma lei federal que tem como objetivo fomentar a cultura no Brasil, investindo regularmente em ações, projetos, políticas e programas de fomento cultural. A intenção é promover e fortalecer a arte e a cultura de forma extensa, garantir um suporte financeiro contínuo para projetos culturais e estimular a diversidade e a criatividade em todas as regiões. O primeiro dos cinco ciclos programados foi repassado em 2023 e os projetos foram executados pelos agentes culturais de seus estados e municípios. Este segundo ciclo entra em vigor neste ano de 2025, com previsão do aporte para o segundo semestre.
Ao todo serão 15 bilhões de reais investidos, com repasse de 3 bilhões por ciclo. Cada estado e município recebe um valor de acordo com a sua população, que quanto maior for, maior recurso terá para receber. Petrópolis, com 278 mil habitantes, terá direito a receber um milhão e oitocentos mil reais.
O Instituto Municipal de Cultura (IMC) está promovendo uma série de Escutas Públicas de forma presencial e remota (consulta através de formulário), onde os fazedores da cultura poderão expressar suas necessidades e indicar qual será o melhor destino para a aplicação dos recursos.
É importante garantir que esse direcionamento esteja em sintonia com as necessidades reais da cena artística local. E que possamos propor ações amplas e inclusivas. A PNAB foi criada emergencialmente como um meio para ajudar os fazedores de cultura abalados pela pandemia da COVID 19, mas a verdade é que, infelizmente, não foi somente a epidemia o único problema. Ao longo de muitos anos a cultura foi preterida, deixada em segundo plano como um bem desnecessário e sempre quem mais sofre é o artista independente, visto que a indústria cultural só visa o lucro imediato, sem juízo de valor, conteúdo ou estética.
Contudo, não podemos pensar em prestar assistência aos artistas sem salvaguardar o patrimônio cultural em que ele habita. O ator, a atriz, o músico, a bailarina precisam do palco; o leitor precisa da sala de leitura, das bibliotecas e das livrarias, assim como o artista plástico precisa das galerias de arte. E mais do que isso, a principal meta de toda a realização artística necessita daquele que dará a ela significado e propósito: o público. Sem este, a arte perde sua função social de expressão e de comunicação, tornando-se apenas um objeto isolado, uma catarse, seja ela coletiva ou individualizada. Pensemos no artista, mas também nos espaços culturais e naqueles que irão desfrutar da arte onde ela for realizada.
Retornemos às questões iniciais sobre a nossa cidade.
Petrópolis, embora conhecida como cidade imperial, vai muito além deste nobre rótulo. No século XIX ela viveu importantíssimos momentos históricos, com certeza, mas no século seguinte, a cidade também criou muita história, bem como várias outras vêm se formando por aqui no atual século XXI. Lembro de uma música que compus para um evento de aniversário da cidade, num 16 de março longínquo, que num trecho da letra dizia algo como: “Minha querida cidade / Eu quero te ver contente / E viver novas histórias / Será teu melhor presente”.
Petrópolis é do império, mas também da senzala. Do Museu Imperial e do Quilombo da Tapera. Juntemos forças para celebrar essa mistura.
Petrópolis é múltipla. Há manifestações culturais e artísticas diversas. Artes sonoras, cênicas, visuais, manuais, ancestrais…
Do Hip-Hop ao Rock, passando pela música erudita, o canto coral e as bandas marciais; o teatro, a dança, o circo, a palhaçaria, a literatura, os artistas de rua, enfim, uma gama imensa de produções. A cidade de Pedro é do samba e do forró, do jongo e do concerto, de César Guerra-Peixe e de Bira Rasta. De quem já passou e de quem ainda está por vir.
Petrópolis é um patrimônio cultural vivo! E viva a cultura na alma de cada artista e no âmago de cada espaço cultural, seja na rua, no beco, na tribo, na galeria, na praça ou no teatro. Viva a Cultura que sobrevive e avança com incentivos muito bem-vindos! Apoio fundamental que favorece a quem produz, a quem consome e até mesmo a quem desdenha.
**Sobre o autor: Marco Aurêh é músico, compositor e arte-educador. Gerente de Políticas Públicas do Instituto Municipal de Cultura e Membro da Academia Petropolitana de Letras