• O que motivou o impeachment de Augusto Melo no Corinthians? Entenda

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  • 26/maio 22:51
    Por Bruno Accorsi e Rodrigo Sampaio / Estadão

    O Conselho Deliberativo do Corinthians aprovou nesta segunda-feira o impeachment do presidente Augusto Melo, em reunião retomada após adiamento em janeiro. A decisão é o desfecho de meses de polêmicas que abalam a gestão desde a vitória nas eleições contra André Negão, representante da chapa Renovação e Transparência, cujo grande líder é Andrés Sánchez.

    O processo que destituiu Melo o acusa de gestão temerária, um dos motivos listados no estatuto do clube para legitimar um pedido de impeachment. O artigo 106 especifica o seguinte sobre as razões para destituir um presidente:

    a) ter ele praticado crime infamante, com trânsito em julgado da sentença condenatória;

    b) ter ele acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians;

    c) não terem sido aprovadas as contas da sua gestão;

    d) ter ele infringido, por ação ou omissão, expressa norma estatutária;

    e) prática de ato de gestão irregular ou temerária.

    Tal enquadramento se deve ao contrato firmado com a antiga patrocinadora Vai de Bet, que rescindiu com o clube depois de noticiado que o valor pago pela intermediação do acordo teria passado por uma série de empresas “laranjas”.

    A última empresa na rede de transferências é a UJ Football Tallent, empresa apontada como braço do PCC pelo delator Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado no aeroporto de Guarulhos.

    Na quinta, 22, Augusto foi indiciado pela Polícia Civil por associação criminosa, furto qualificado pelo abuso de confiança e lavagem de dinheiro. O ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura e Alex Cassundé, dono da empresa intermediária do acordo, também vão responder pelos três crimes.

    Em coletiva de imprensa na sexta-feira, 23, um dia após o indiciamento, ao lado do advogado Ricardo Cury, o mandatário corintiano mostrou que sua defesa está pautada em questionar o momento da conclusão do inquérito, três dias antes da votação pela destituição, e o próprio conteúdo do relatório.

    “Nós dividimos em algumas frentes. A primeira é a frente política. Nos surpreendeu muito a divulgação do relatório final na quinta-feira, antevéspera do julgamento de segunda. Nós informamos no dia 13 de maio, ao delegado Tiago que o presidente Tuma (Romeu, do Conselho Deliberativo) tinha reconvocado a reunião para o dia 26”, afirmou Cury.

    Nesta segunda-feira, Augusto entrou na Justiça com um pedido de habeas corpus para anular o indiciamento. O tom presente no documento é o mesmo adotado por Cury, mas a petição foi feita por outros advogados: Isabella Cristine Luna e Clovis Ferreira de Araújo.

    Em meio aos esforços para impedir o impeachment, o advogado José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff, foi contratado por um grupo de aliados de Melo para tentar a suspensão da reunião.

    Augusto entendia ser necessário o encerramento das investigações pela Polícia Civil para, enfim, a reunião ser realizada. O mandatário se apegava ao fato de a Comissão de Ética do clube ter determinado a suspensão da votação de destituição até o inquérito ser finalizado. Ele é alvo de outros três processos de impeachment, que fazem referência a questões financeiras do clube, como a reprovação das contas do ano passado e o aumento do passivo.

    O processo de impeachment de Augusto Melo teve início em agosto de 2024. A Comissão de Justiça produziu um relatório citando o caso do “laranja”. Posteriormente, um grupo de 85 conselheiros intitulado Movimento Reconstrução SCCP, cujo um dos líderes é o ex-presidente Mário Gobbi, entrou com uma representação contra o atual mandatário.

    O documento foi anexado ao relatório da Comissão de Justiça e encaminhado pelo Conselho Deliberativo à Comissão de Ética, que sugeriu a suspensão do processo por entender ser razoável aguardar as investigações da Polícia Civil.

    A defesa de Augusto apelou à Justiça de São Paulo para anular a convocação da votação de impeachment por entender que o mandatário não teve direito de se defender adequadamente, mas a ação foi negada em um primeiro momento, mas depois foi concedido efeito suspensivo ao presidente corintiano, que exibiu o documento no Parque São Jorge quando os conselheiros já estavam reunidos para votar a destituição, em 2 de dezembro.

    O Conselho Deliberativo, na figura do presidente Romeu Tuma, entrou com recurso de agravo interno e o efeito suspensivo foi derrubado. Uma nova apelação foi apresentada pelo advogado de Augusto Melo, mas não foi atendida. Com a aprovação do impeachment no Conselho, a ideia é levar o assunto até a esfera federal.

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