
O amor incondicional mais potente é o auto amor
O que chamamos de expectativas alheias, nada mais são do que a nossa própria projeção.
O que isso quer dizer? É como uma fórmula. Quanto menos sou dona do que é meu, em termos de sentimentos, emoções, crenças e buracos emocionais, mais eu projeto essas demandas ao mundo.
Todos temos uma necessidade intrínseca e existencial de sermos amados. Quanto menos tivemos a sensação de termos sidos amados em nossa infância, maior o buraco afetivo. Esta sensação de desafeto na infância, cria uma crença muito forte de que não somos bons o suficiente para sermos amados. E quando isso acontece, criaremos diversas condições para que isto aconteça em todas as nossas relações durante a vida. Por exemplo: Se não sou boa o suficiente para ser amada, quem sabe se eu fizer tudo direitinho e perfeito, posso ter alguma chance? Quem sabe se for mais inteligente, mais magra, mais bonita, se tiver mais dinheiro, e por aí vai.
A crença de que não somos bons o suficiente, é uma crença muito poderosa, e é difícil tomarmos consciência do quanto ela nos afeta. Imagine sentir que não sou bom o suficiente para existir, que deve haver algo tão errado comigo, que não tenho a capacidade de ser amada por ninguém. Falando assim, parece uma loucura, mas todos nós, em algum grau, ou momento de vida, nos sentimos assim.
Dentro deste contexto, existe outro aspecto muito importante, que é sobre o impacto da idealização dos pais sobre quem os filhos deveriam ser. Pais deveriam aprender desde cedo, a incentivarem seus filhos a serem quem eles já são, e não quem eles gostariam que fossem, disse muito bem a ativista e feminista Glória Steinem. Essa idealização, somada a uma auto estima frágil, daquele que não se acha bom o suficiente, pode ser devastador. Tomamos para si, as expectativas idealizadas dos pais, que achamos que é uma representação da expectativa do mundo em relação a nós. A partir daquelas condições que vimos, estas tornam-se nossas próprias expectativas do que devemos ser no mundo, detalhe, não como um caminho para a auto realização, mas sim como via para garantirmos amor.
Mas como nos falta autoconhecimento e consciência desses padrões inconscientes, projetamos no mundo aquelas expectativas, que na verdade, são nossas.
A dura realidade é que o mundo não tá nem aí para o que você vai ser ou quem você é. Quando estamos preocupados com as expectativas dos outros, ou quando acreditamos que não estamos alcançando essas expectativas, o que ocorre, na verdade, é que é você quem acha isso. Mas delegamos ao mundo aquilo do qual não estamos apropriados.
Um fenômeno que ocorre com isso é que nos afastamos muito da nossa autenticidade. Nos afastamos do nosso próprio desejo. Ora, existe aqui uma dependência da aprovação alheia para que eu me sinta boa o suficiente. Em outras palavras, minha atenção está sempre voltada para o outro, em busca de aprovação. É como uma espécie de certificado de garantia de que, se o outro me aprova, eu existo.
Este fenômeno gera sérios efeitos colaterais. Se minha atenção está sempre no outro, existem grandes chances do meu desejo e necessidade serem negligenciados.
O antídoto radical para este mecanismo é a nossa Emancipação Emocional. Em algum momento teremos que soltar a narrativa construída da infância, de algum desafeto, e ativar nossa autonomia afetiva. Aceitação e aprovação externas serão sempre bem vindas, mas não podemos viver o resto da vida, dependentes disso.
O desafeto do outro jamais significa que não somos bons o suficiente. O desafeto do outro, é do outro. O objetivo mais difícil a ser alcançado nesta vida, existencialmente falando, é desenvolvermos o auto amor. Auto amor é auto conhecimento, auto aceitação e maturidade. É auto re-conhecimento. E em se tratando de expectativas e projeções, quando aprendemos e ativamos os nossos próprios valores, magnetizamos o amor, simplesmente pelo fato de que o outro é apenas o reflexo das minhas projeções. Se não me sinto boa o suficiente, acredito que o mundo também concorda. O contrário também é verdadeiro.
Se existe algum tipo de amor incondicional, ele deveria ser o auto amor.
**Sobre a autora: Luciana Leon é Bacharela em Psicologia; Professora de Yoga formada pelo Simplesmente Yoga; Terapeuta Ayurvédica formada pelo Centro de Medicina Indiana do Rio de Janeiro; Pós graduada em Medicina Ayurvédica pelo Suddha Dharma Mandalam sob direção do Dr. José Ruguê.
É Vedic Counselor certificada pelo American Institute of Vedic Studies, ministrado pelo Dr. David Frawley.
Seu trabalho clínico é feito sob as lentes do que que é chamado de Psicologia do Yoga e do Ayurveda, conhecimentos milenares da Índia.