• Uma nova família na terceira idade: técnica de enfermagem adota idosa vítima de abandono familiar

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  • 05/12/2019 19:16

    Elas se conheceram há oito anos, em Carangola, cidade no interior de Minas Gerais, mas há quase um ano fazem parte da mesma família. A ideia de adoção normalmente nos faz pensar em bebês ou crianças, mas, infelizmente, o abandono familiar também é uma realidade para as pessoas adultas, principalmente idosas, como é o caso de Maria Ferreira Martins, a Dona Maria, de 60 anos, adotada pela técnica em enfermagem Maria Verônica Grossi. 

    A enfermeira de 34 anos conta que seu destino se cruzou com o de Dona Maria quando ela começou a trabalhar em um posto de saúde na zona rural conhecida como Conceição, em Carangola, Minas Gerais. Parte do seu trabalho consistia em realizar atendimentos domiciliares, devido à distância entre as casas da região, o que prejudicava o acesso de muitos idosos à unidade. 

    “Quando conheci dona Maria, ela tinha acabado de ficar viúva e morava com a filha e o genro na zona rural de Conceição. Desde a primeira vez eu percebi que algo estava errado, a filha mandava a mãe calar a boca quando algo escapava, como a proibição de ir aos médicos”, conta Verônica que, mesmo não sendo bem-vinda, manteve as visitas frequentes à casa da senhora. “Ela logo virou meu ‘xodozinho’ e a gente se aproximou mais ainda quando ela se mudou para a cidade, também com a filha, para uma casa, a uns 50 metros da minha”, disse ela. Como vizinhas, a aproximação e o carinho só aumentaram, conquistando também os outros familiares de Verônica.

    Novos rumos

    No dia 22 de dezembro do ano passado, Verônica se mudou para o centro da cidade, com o filho. Apenas cinco dias depois, ela suspeitou de que algo estivesse errado ao visitar sua mãe, que lhe perguntou sobre dona maria. Verônica se deu conta de que a senhora não aparecia há dias.

    “Quando eu cheguei à casa dela, foi uma cena de terror. Os cachorros estavam amarrados com arame farpado na cerca. Eu chamei e chamei, percebi que a casa estava aberta e entrei. Estava tudo revirado e quando encontrei dona Maria, ela estava caída ao lado da cama. Eu achei que ela estava morta. Não sei como saí dali, mas fui até o meu pai para pedir o carro emprestado e, com ajuda da minha mãe, a levei para o hospital”.

    Dona Maria deu entrada no hospital com desnutrição gravíssima, além de hipertensão. Verônica ficou com ela durante os dois meses e 10 dias de internação, e conta que procurou a filha da senhora pelo menos duas vezes, levando informações, inclusive sobre o diagnóstico de câncer no tórax, mas não era bem recebida.

    “Ela perguntava da filha, mas eu arrumava desculpas para a falta de interesse da mesma, que disse que não ia visitá-la. Quando descobrimos o câncer, eu voltei para ela pedindo ajuda, e novamente ela não quis saber, disse que não cuidaria da mãe e pediu para parar de procurá-la. Meu mundo caiu, eu não sabia o que fazer”.

    Mãe de um menino de 14 anos, Verônica conta que precisou rever seus planos e tomou uma decisão: “eu conversei com o Jhonatan sobre adotar a Dona Maria, porque ela não tinha para onde ir e eu não a deixaria sozinha. Ele me surpreendeu dizendo que me ajudaria a cuidar, e que tudo bem se tivesse que deixar o cursinho, porque os gastos iam aumentar”.

    Foi a hora de contar para dona Maria, que ainda perguntava pela filha: “quando eu a convidei para morar comigo, ela agarrou minha mão e falou que não tinha dinheiro. Eu disse que não queria o dinheiro, que queria cuidar dela”. Após concordarem, junto à assistente social do hospital, Verônica deu entrada nos papéis que a tornava responsável pela idosa.“Fui na filha, dizendo que era a última vez, pedindo que fosse ao hospital assinar o documento. No dia seguinte ela estava lá, foi a primeira a assinar e a ir embora. Nunca mais apareceu”.

    Vivendo juntas desde fevereiro, Verônica mantém os custos da casa de três quartos, do filho e do tratamento oncológico da dona Maria, com a ajuda de familiares e amigos da igreja, onde consegue doações de itens básicos, como roupas e fraldas, para a nova integrante da família.

    “Hoje ela está linda, vive maravilhosamente bem, mesmo com o tratamento. Ela precisava de ajuda para levantar, fazia xixi na cama, mas hoje tem uma hortinha em casa com dois pés de couve, me fez adotar um cachorro da rua e é totalmente independente. Ela ainda fala da filha, conta o que ela passava, mas está visivelmente mais feliz. Ela é minha mãe e minha filha, e o que eu espero é que ela fique curada”.

     

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