
Lula, Janja e as avoanças
Inicio este artigo, caro(a) leitor(a), pedindo desculpas por um neologismo que não existe nos dicionários – avoanças. Serve para identificar o-voa-alegre-para-lá-e-o-voa-triste-para-cá de Lula e Janja. Bom mesmo é dar “expediente” no exterior. Lula já deve ter batido o recorde de voos internacionais entre os presidentes brasileiros. E, pelo jeito, vai continuar em suas avoanças, com a novidade de que a primeira-dama chega antes dele para supostamente deixar tudo arrumado no dia em que ele chegar.
Eu, ingenuamente, sempre pensei que isso fosse função administrativa do Itamaraty. Na última viagem a Moscou, Janja chegou antes com inúmeras malas, aquelas que têm privilégio de não serem revistadas na saída e nem na entrada do país de destino. As redes sociais falam que foram 25 malas. O público em geral tem todo o direito de saber qual era o conteúdo de tantas malas. Ou vai virar sigilo de 100 anos como Lula já fez com o cartão de crédito da presidência?
Em Moscou, Lula fez parte de uma reunião com Putin em que os demais membros do encontro eram ditadores, inclusive o (podre de) Maduro estava lá. Curiosamente, Lula se diz democrata. Mas, afinal, o que um democrata estaria fazendo no meio tantos ditadores, gente da pior espécie, aqueles que se apropriam de dinheiro público sem dar satisfação a ninguém. (Este requisito Lula até já preencheu, mas não foi o suficiente.). E por isso foi colocado na segunda fila, talvez por ainda não preencher todas as descredenciais do grupo. Exemplo: ele não conseguiu calar os opositores de seu destrambelhado governo, mesmo com a ajuda do STF.
Lula, em época anterior, quando faleceu o papa João Paulo II, foi a Roma prestar as devidas homenagens a um homem santo. Eram outros tempos, não tão adversos como os atuais, e ele se dispôs a dar uma entrevista aos jornalistas brasileiros lá presentes. Um deles lhe perguntou se ele iria aproveitar a ocasião para se confessar e comungar. A resposta foi um primor de descaramento. Lula afirmou que não precisava, pois era um homem sem pecado. Até então, o único que todos conhecíamos era Cristo.
Certamente, a grande vantagem dessas viagens ao exterior é que o avião usado é o da presidência da república, onde não há espaço para populares expressarem seu desagrado, que incluiria termos pesados e desabonadores. Reflete aquela mesma sensação dos ministros do STF ao se sentirem corpos estranhos na pátria amada se valendo de salas VIPs exclusivas para não ter que dar de cara com brasileiros e brasileiras que, indignados, pagam a conta dos gastos e desmandos sem medida.
O Brasil se vê hoje diante de um descolamento da classe dirigente brasileira em relação à população sem distinção de classes sociais. Recentemente, em São Paulo, o ministro Alexandre de Moraes teve a ousadia de ir jantar em um daqueles restaurantes sofisticados e muito caros. Ato contínuo, uma frequentadora habitual do restaurante chamou o maitre e lhe disse na bucha: “Ou ele se retira, ou eu nunca mais voltarei a este restaurante”. Confesso não saber o que aconteceu depois, mas comprova o isolamento da dita classe dirigente brasileira em todos os níveis sociais.
Estranhamente, não obstante a rejeição de Lula estar em torno de 60%, algumas pesquisas ainda o apontam como favorito na próxima eleição presidencial de 2026. Esta seria uma avoança, digamos, das pesquisas pelo evidente descolamento entre as duas. Ou a primeira está mal feita, ou a segunda pisou na bola. As duas estarem certas, ao mesmo tempo, têm o sabor de uma incongruência estatística.
As avoanças no país primam sempre por uma série de cuidados. Locais estrategicamente escolhidos com público escolhido a dedo. Afinal, ficaria constrangedor se o presidente saísse por aí desavisadamente, como faz o Bolsonaro, e acabasse sendo vaiado ou tendo que ouvir palavras de baixo calão. São as agruras de um político com alta rejeição, que perdeu a eleição de 2022, nas quatro grandes regiões geográficas em que o país é dividido. E que concentra cerca de 75% da população brasileira. Só ganhou no Nordeste. E, agora, até o Nordeste está decepcionado com seu desgoverno, uma mistura de corrupção com incompetência.
Levando em conta as avoanças no exterior e aquelas dentro do país, é justo nos perguntarmos qual foi o saldo delas. No exterior, os resultados são pífios por duas razões. A primeira é que chefes de Estado e de governo dispõem de assessorias competentes de política externa, que lhes passaram a folha corrida de Lula. Ou seja, fica difícil levá-lo a sério. A segunda, mais grave, é que ele vem batendo nas portas erradas, afastando-se de nossos aliados tradicionais. Ao ser abraçado pela China, Lula corre o risco de perder o fôlego. E deixar o Brasil catatônico.
Internamente, as avoanças não resistem às denúncias de corrupção desvendadas pela Polícia Federal, como foi o caso das garfadas dadas nas aposentadorias do INSS sem autorização dos respectivos titulares. Dos 6,3 bilhões de reais surrupiados, 5 foram no governo Lula. O ministro Luppi, que já tinha sido defenestrado no governo Dilma por corrupção, o foi também agora por Lula pela mesma razão. Mas Lula aceitou o número 2 de Luppi, sobre quem pesam acusações de corrupção, como o novo ministro da Previdência. Parece aquela situação do marido traído que pegou a mulher com o amante no sofá da sala, e lavou a honra vendendo o sofá. Pode?
Não obstante, o tratamento sério que é dado a Lula pela grande mídia parece ignorar o fato de o senhor presidente da república estar a rir na cara do povo brasileiro. E o povo já percebeu. Daí a profunda indignação não só com ele como com as peripécias da primeira-dama nas viagens internacionais. E nas internas, onde ostentou uma bolsa de 15 mil reais paga por nós.
O dramático é que Lula, com toda sua experiência política, caiu na armadilha de não cortar gastos nos primeiros dois anos de mandato para poder fazer as benesses nos dois últimos. Está condenado a pagar os desmandos e malfeitos até o fim do mandato. E não vai dar tempo de consertar.
Nem com avoanças mil.
Sobre o autor: Gastão Reis é economista e escritor.
Contato: gastaoreis2@gmail.com