
A camisa vermelha na seleção canarinho
O Brasil parece ter um caso de amor com a conhecida ideia de jerico. O dicionário nos informa ser uma expressão idiomática portuguesa que “significa ideia estúpida, irracional ou fora de propósito”. A proposta da cor vermelha para a camisa da seleção preenche com triste louvor os três deméritos que uma ideia pode ter. E logo no futebol, onde conseguimos as cinco estrelas com o penta, a estapafúrdia iniciativa está fora de lugar mais ainda.
É fato que cometemos bobagens monumentais em vários setores da conturbada vida nacional, passando pela economia, pela segurança pública e pelo ineficaz arcabouço político-institucional do País. Curiosamente, no passado, já tivemos desempenho bem melhor na economia, na segurança e na política. Basta estudar um pouco nossa História, em especial a do século XIX, ou ler o meu livro “História da Autoestima Nacional – Uma investigação sobre Monarquia, República e Preservação do Interesse Público”. (Disponível em (atendimento@linodigi.com fajutom.br ou contato@resistenciacultural.com.br).
Mas voltemos à questão da cor vermelha para a camisa da seleção canarinho. É bem verdade que houve um amplo repúdio da ideia inclusive entre craques da seleção brasileira do passado e do presente. Mas não há como negar o dedo do PT em mais uma das suas muitas asneiras sempre temperadas com uma letal mistura de incompetência e corrupção. A nova camisa exigiria, por exemplo, acordos marotos da CBF com a empresa, ou empresas, que iriam produzi-las.
Na teoria das cores, o vermelho teria a função de alertar, o lado positivo da referida cor. De fato, o sinal vermelho nos impõe dar uma parada à espera do verde, tanto para pedestres como para veículos motorizados. Mas o vermelho tem também seu lado sombrio. Eu me refiro ao sangue derramado em guerras ou crimes como o latrocínio. Designa também instituições como o famigerado Exército Vermelho, inicialmente comandado pelo revolucionário judeu Leon Trótski.
Um diálogo entre Lênin e Trótski sobre a montagem de um exército para consolidar a revolução russa de 1917 é ilustrativo. Como em todo exército, era preciso criar uma cadeia de comando com disciplina e hierarquia respeitadas. Para agilizar sua montagem, Trótski propõe a Lênin lançar mão dos oficiais czaristas. A reação de Lênin foi imediata: “Você está maluco? Como confiar neles?” Trótski dá um sorrisinho maquiavélico, e contra-argumenta: “Muito simples. Direi a eles que qualquer traição será punida com a morte de suas famílias.” E foi assim que Lênin deu sinal verde para a criação do Exército Vermelho. Já nasceu com a intenção de derramar até sangue inocente.
O vermelho, com frequência, também está presente em momentos dolorosos da vida. Uma queda mortal em que alguém bate com a cabeça numa pedra se esvaindo em sangue. Numa discussão que acaba em tiroteio e morte de um dos envolvidos. Ou até em situações mais simples, e quase indolores, como cortar um dedo inadvertidamente no preparo de um churrasco.
Hora de fazer um contraste com o verde e amarelo da camisa da seleção.
Para começo de conversa, as duas cores têm um passado nobre. Não aquela explicação bobinha das matas e do ouro. Mas do verde da casa de Bragança e o amarelo dos Habsburgo. Além disso, o verde é a cor da esperança e o amarelo nos remete ao nascer do sol. Despertam dois sentimentos positivos.
Tudo isso é bem diferente do vermelho, em especial do PT, aquele que nos desperta um semblante avermelhado de indignação diante da incompetência e da roubalheira.
As últimas notícias do desgoverno Lula são mais que preocupantes. Foi o caso das contribuições não-autorizadas pelos aposentados no INSS, que viram os valores de suas aposentadorias serem garfados por diversas associações sem dó nem piedade. É como roubar pirulito de criancinha. O mais impressionante é que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, foi alertado um ano atrás sobre o que vinha ocorrendo. E ele se escudou num biombo, dizendo que as coisas são lentas no setor público, lerdo por natureza, e bem diferente do que ocorre numa empresa privada. Palavras dele.
Ele já havia sido demitido no governo Dilma por denúncia de corrupção. E agora é demitido, mais uma vez, por corrupção e pela demora em tomar providências. Provavelmente, Lupi aguardava o fim do governo Lula para ver se tudo acabaria em brancas nuvens. Mas tinha uma pedra no caminho, a Polícia Federal, atuando agora no que lhe cabe sem se perder em investigar (intenção de) golpe de Estado que não houve. O lado vergonhoso do episódio é que quem vai substituir Lupi foi quem flexibilizou a lei para facilitar a roubalheira. Pode?
Mas a cor vermelha também pode funcionar para nos alertar sobre a mistura de incompetência e corrupção que vem marcando o terceiro mandato do presidente Lula onde as digitais do STF estão presentes ao permitir que ele fosse candidato. Mas como os ilustres ministros invalidaram provas evidentes e confessas da Lava-Jato por razões prosaicas como foro inadequado, dentre outras sutilezas jurídicas, que o comum dos mortais não consegue perceber, Lula entrou como beneficiário da desfaçatez.
Ter um STF que invalida provas válidas de corrupção e ainda abre as portas para a corrupção que viria de Lula e PT é motivo de vergonha nacional em qualquer roda de cafezinho país afora. Mais ainda: de profunda indignação, que vem se avolumando e que vai retirar a cor vermelha não só da camisa da seleção, mas também da vida política nacional nas próximas eleições.
Lula, em seu analfabetismo da própria História brasileira, e mais ainda da americana, pensa que o Brasil começou com ele em 2003. Não levou a sério a advertência de Lincoln em sua famosa frase: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos o tempo todo”. E foi assim que ele também não se deu conta de que o povo brasileiro quer ser respeitado. A ausência de povo nas paradas de 7 de Setembro é mais que sintomática.
É o não a incompetência e a roubalheira.
**Sobre o autor: Gastão Reis é economista e escritor
**Contato: gastaoreis2@gmail.com