Para ambientalista, falta de incentivo público prejudica soluções para a reutilização de resíduos
Conforme dados divulgados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2018, foram geradas 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, um aumento de pouco menos de 1% em relação ao ano anterior. Desse montante, 92% (72,7 milhões) foram coletados, deixando 6,3 milhões de toneladas de resíduos sem ser recolhidos nas cidades. Em Petrópolis, cerca de 60 toneladas de materiais como plástico, papel, metal e vidro são recolhidas por mês, o que representa 0,8% da produção de resíduos sólidos da cidade.
Comparado com outros países da América Latina, o Brasil é o campeão de geração de lixo, representando 40% do total gerado na região, segundo a ONU Meio Ambiente. O Panorama dos Resíduos Sólidos, da Abrelpe, divulgados na última semana, apontam que 40,5% do RSU foram despejados em locais inadequados por mais de três mil municípios, o que significa que 29,5 milhões de toneladas de lixo acabaram indo para lixões ou aterros controlados, que não contam com um conjunto de sistemas e medidas necessários para proteger a saúde das pessoas e o meio ambiente contra danos e degradações.
“Existe um consenso por tarde de todos que atuam nessa área, que o aumento da geração de resíduos é natural numa sociedade em que cada dia está mais populosa. Em contrapartida, não há incentivo para que a população, em todas as camadas sociais, assuma a cultura de segregar os recicláveis dos não recicláveis. A quantidade de resíduo que poderia ser reutilizado e acaba em lixões, é exorbitante”, disse o consultor ambiental, Rafael de Abreu.
Em Petrópolis, não há dados que apontem o quanto de material acaba não sendo aproveitado, mas segundo a Prefeitura, cerca de 60 toneladas de materiais são recolhidos por mês, como plástico, papel, metal e vidro. Esse material é levado para o Centro de Reciclagem de Cascatinha, passa por triagem e é separado pela cooperativa Deus na Guerra.
Apesar das toneladas recolhidas, especialistas apontam uma deficiência na coleta seletiva e na conscientização sobre a reciclagem como empecilhos para um aumento do número de resíduos sendo reaproveitados, além da deficiência da cultura brasileira em pensar a longo prazo.
“O que acontece é que poucas pessoas sabem o que os ecopontos recebem, ou acham que precisam de uma grande estrutura para reciclar, quando são coisas simples, mas esse tipo de cultura nós não temos aqui. Gostamos do que é fácil, cômodo e barato. Em Petrópolis, nós não encontramos uma divulgação sobre a segregação de resíduos, eu ouço muitas pessoas falarem que não separam porque o lixo será misturado novamente quando recolhido, e não conhecem os locais de descarte, ou esses locais estão fora da sua área”, disse o engenheiro ambiental, Felipe Alves.
Os especialistas apontam o problema como uma questão cultural, mas a falta de incentivo público prejudica a ampliação de projetos conscientizadores e de soluções para a reutilização dos resíduos.
“A única coisa que pode acelerar esse processo é a percepção que a atuação na área de recicláveis pode ser um negócio muito rentável. E esse é outro lado da questão: falta incentivo do poder público para que haja investimentos na área e surgimento de novas empresas atuando no setor. Muitas tecnologias que são sucesso fora do país, tornam-se inviáveis de serem trazidas para cá, por questões tributárias principalmente. É um setor que merece a atenção do poder público porque ele nasce sob a premissa de colaborar com a solução de um problema que é da sociedade como um todo. Então o que falta hoje para que possamos progredir nessa área é a conscientização da sociedade e incentivo do poder público para que haja investimentos em soluções sustentáveis para a reutilização dos resíduos gerados”, disse Rafael.
Com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, além de implantar a coleta seletiva, é previsto o incentivo dos munícios à prática, viabilizando inclusive a logística reversa para que o setor empresarial cumpra os procedimentos e meios necessários para dar destinação ambientalmente adequada a resíduos sólidos.
Uma forma de aumentar a conscientização dos petropolitanos, seria divulgando mais os trabalhos dos ecopontos e ampliando o projeto de coleta Porta a Porta para outros bairros e ruas. “O lixo só incomoda quando está na nossa porta ou quando chove e alaga a nossa rua. E não deveria ser assim, deveríamos ter uma sociedade voltada para o bem comum, se houvesse um maior incentivo à segregação desse material, o número de resíduos coletados poderia aumentar drasticamente”, continua o consultor.