
Com o objetivo de dar mais visibilidade ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), além de conscientizar a sociedade sobre o autismo, foi criada a campanha “Abril Azul”. Anualmente, no dia 02 de abril, também é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo.
O psicólogo João Gabriel do Carmo Severino destaca que além da campanha, é essencial que o debate resulte em ações concretas, como políticas públicas, legislação, projetos e serviços voltados para pessoas autistas, especialmente nas áreas da saúde, educação e assistência social.
“Além disso, para nós, profissionais, o mês de abril é uma oportunidade para formação continuada. Surgem eventos, mesas-redondas e discussões que ajudam todos a falarem a mesma linguagem, promovendo uma comunicação mais clara e uma atuação mais efetiva. A conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista é importante porque ainda existe muita desinformação, muito preconceito, muita gente que associa autismo a ‘doença’, ‘transtorno de comportamento’, ou até ‘falta de educação’. E não é nada disso”, disse o especialista.
O que é o autismo
O psicólogo explica que o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta principalmente a comunicação, a interação social e os comportamentos. Ele reforça que, durante a infância, são observados sinais como atrasos no desenvolvimento da fala, dificuldades de interação, pouco contato visual, além de comportamentos mais repetitivos, como movimentos estereotipados ou interesses muito específicos.
“Quando a gente fala de autismo – ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) – é importante lembrar que a gente está lidando com algo muito singular. O nome “espectro” já nos ajuda a entender que não existe uma forma única de ser autista. Cada pessoa vai apresentar manifestações muito próprias, o que exige da gente um olhar sensível, respeitoso e atento à individualidade de cada um. Sempre que uma criança não atinge os marcos esperados do desenvolvimento, é fundamental que ela seja investigada. Nem todo atraso na fala, por exemplo, significa autismo – existem outras possibilidades que precisam ser avaliadas com responsabilidade”, explicou.
João Gabriel explica ainda que o autismo é chamado de Transtorno do Espectro Autista, uma vez que a condição envolve uma amplitude de sintomas e manifestações. “Por isso a palavra “espectro”. O espectro mostra que há diferentes níveis de suporte, de dificuldades e de habilidades. Tem pessoas autistas que são altamente independentes, e outras que precisam de mais apoio no dia a dia. Isso não quer dizer que um autista é ‘mais’ ou ‘menos’ do que outro – significa apenas que cada pessoa vai ter suas características, suas potencialidades e seus desafios”, reforçou.
Diagnóstico
O psicólogo reforça que o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista é feito de forma clínica e, geralmente, quem dá esse diagnóstico é um médico neurologista, psiquiatra da infância ou o pediatra. No entanto, é muito comum que esse processo envolva uma equipe multiprofissional – psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, entre outros – uma vez que o autismo se manifesta de maneiras muito variadas.
João Gabriel ressalta que não existe exame de sangue ou imagem que detecte o autismo, e que a avaliação é feita a partir da escuta da família, da observação da criança em situações naturais de brincadeira e interação. “A gente observa como essa criança brinca, se ela compartilha brinquedos, se ela se isola, se responde quando é chamada… Tudo isso é muito importante no processo de avaliação”, ressaltou.
O especialista explica que o autismo pode ser classificado em três níveis de suporte (nível 1, 2 ou 3), conforme a intensidade que aquela pessoa precisa para lidar com as demandas da vida. “Mas é importante ter cuidado com essas classificações, principalmente quando se trata de crianças pequenas, porque o cérebro ainda está em desenvolvimento e, com estímulo, muitas vezes uma criança que hoje precisa de muito suporte pode evoluir significativamente. Também é essencial falar sobre acolhimento. Nem toda criança vai gostar de um toque, de um abraço ou de um ambiente barulhento, e isso precisa ser respeitado. O mais importante é conhecer aquela criança, escutar a família e ajustar a nossa postura para garantir uma relação de cuidado e confiança”, explicou.
Identificação
O especialista explica que uma dúvida que muitas pessoas têm é sobre como identificar uma pessoa com Transtorno do Espectro Autista e que essa identificação está ligada a três critérios principais que os profissionais usam com base no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – na versão atualizada de 2022.
“O primeiro critério diz respeito a dificuldades persistentes na comunicação social e na interação com os outros. Isso pode se manifestar como dificuldade em manter uma conversa ou responder de forma adequada, pouca ou nenhuma linguagem não verbal (como contato visual, gestos e expressões faciais) e dificuldade para criar e manter amizades, vínculos e intimidade. Os três pontos precisam estar presentes”, explicou o psicólogo.
Já o segundo critério, conforme explica o especialista, envolve interesses e comportamentos restritos e repetitivos, como movimentos repetitivos (como bater as mãos ou balançar o corpo), fixação em determinados assuntos ou objetos, resistência a mudanças na rotina e reações sensoriais incomuns – quando a pessoa pode ser muito ou pouco sensível a sons, cheiros, luzes, entre outros estímulos. Para esse critério, o psicólogo reforça que pelo menos dois desses quatro sinais precisam estar presentes.
“Além desses dois pontos, há três condições que também precisam ser observadas para se fechar o diagnóstico. Primeiro, os sinais precisam ter começado na primeira infância, mesmo que só sejam notados mais tarde. Segundo, o prejuízo precisa ser clinicamente significativo, ou seja, impactar de forma importante a vida da pessoa – no convívio social, na escola, no trabalho ou no bem-estar geral. Terceiro, esses sinais não podem ser explicados melhor por outras condições, como atraso global do desenvolvimento ou deficiência intelectual profunda. Ou seja, não se trata apenas de “ter traços de autismo”, mas sim de apresentar sinais que realmente afetem o dia a dia da pessoa. Por isso, é fundamental que a avaliação seja feita com muito cuidado por profissionais qualificados”, finalizou o especialista.
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