• Dólar fura os R$ 5,70 e fecha no menor nível desde novembro de olho em China e EUA

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  • 17/mar 17:55
    Por Antonio Perez / Estadão

    O dólar experimentou queda firme na sessão desta segunda-feira, 17, e fechou no menor nível desde o início de novembro. O dia foi marcado pelo recuo global da moeda norte-americana, na esteira de indicadores de atividade mais fracos nos EUA. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities se destacaram em razão do otimismo com a economia chinesa.

    Além do anúncio de medidas para estímulo ao consumo pelo governo chinês, números de vendas no varejo e produção industrial do gigante asiático no primeiro bimestre superaram as estimativas. Vendas e preços de novas moradias caíram menos do que o esperado, diminuindo as preocupações com o setor imobiliário.

    Por aqui, a leitura acima das estimativas do IBC-Br de janeiro esquentou o debate sobre a desaceleração da atividade doméstica e aumentou as expectativas para o tom do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), na quarta-feira, 19, quando o comitê do Banco Central deve elevar a taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 14,25%, como já sinalizado.

    Em queda desde a abertura dos negócios, o dólar furou no fim da manhã o piso de R$ 5,70, considerado um suporte expressivo por operadores. Com mínima a R$ 5,6664 à tarde, a moeda norte-americana fechou em queda de 0,99%, a R$ 5,6864 – menor valor de fechamento desde 7 de novembro (R$ 5,6753).

    O dólar já acumula desvalorização de 3,89% em março, após ter subido 1,37% em fevereiro.

    Para Patricia Krause, economista-chefe da Coface para América Latina, o mercado de câmbio doméstico acabou refletindo nesta segunda-feira basicamente o ambiente externo. Ela pontua que o dólar se desvaloriza em razão das incertezas sobre o impacto das tarifas de importação de Donald Trump sobre a economia norte-americana.

    “Foi mais o movimento externo hoje, com o dólar fraco e a alta do petróleo, mas o IBC-Br bem mais forte que a estimativa do mercado também favoreceu o real”, afirma a economista.

    Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY (Dollar Index) trabalhou em queda moderada ao longo do dia e já acumula perdas de mais de 3,80% em março, operando nos menores níveis desde outubro.

    Divisas de países exportadores de commodities, como o dólar australiano e o neozelandês, além do real se destacaram. A maior valorização foi do rublo russo, com ganhos de mais de 2%, após confirmação de conversa na terça-feira entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin.

    Às vésperas da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), também na quarta-feira, 19, dados americanos desapontaram. As vendas no varejo subiram 0,2% em fevereiro, enquanto analistas previam alta de 0,7%. O índice de atividade industrial Empire State caiu para -20 em março, ante 5,7 em fevereiro. A expectativa era recuo para 1,5%.

    “Os mercados globais seguem sensíveis às idas e vindas com tarifas de Trump, uma conduta que paralisa decisões de investimento e derruba a confiança, fazendo o mercado temer uma desaceleração mais forte nos EUA”, afirma a corretora Monte Bravo, em nota.

    Analistas afirmam que o real pode se beneficiar do resultado da chamada Super Quarta. Sinais de corte de juros nos EUA ainda neste ano conjugados com aceno do Copom de continuidade do aperto monetário tendem a aumentar a atratividade do carry trade e desestimular ainda mais a manutenção de posições compradas em dólar.

    O time de economistas do Itaú, liderado pelo ex-diretor do BC Mario Mesquita, afirma que a tendência de fortalecimento do dólar no exterior perde força com a combinação de novos estímulos econômicos na zona do euro e as incertezas provocadas pela política protecionista de Trump, que pode afetar o crescimento dos EUA.

    Diante da apreciação do real neste início do ano, em especial por conta da perda global de força do dólar, o Itaú revisou projeção de taxa de câmbio em 2025 e 2026 de R$ 5,90 para R$ 5,75.

    “Por um lado, o aumento do diferencial de juros e a expectativa de um dólar mais fraco contribuem para uma taxa de câmbio apreciada”, afirmam os economistas do Itaú. “Por outro, essa apreciação tende a ser limitada pelo prêmio de risco brasileiro elevado diante das incertezas fiscais e pela deterioração recente observada nas contas externas.”

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