
Petrópolis 182 anos: Cidade Imperial foi destaque no cenário internacional
Petrópolis completa, neste domingo (16), 182 anos de fundação. Conhecida como a Cidade de Pedro, o município não foi apenas um refúgio imperial, mas um importante cenário de eventos políticos e diplomáticos que marcaram a história do Brasil. Fundada por influência direta de Dom Pedro II, a cidade desempenhou um papel estratégico tanto no âmbito nacional quanto internacional. Além de ter sido um dos principais destinos da imigração alemã no estado do Rio de Janeiro, recebeu missões diplomáticas de diversos países e foi palco da assinatura do tratado que consolidou a incorporação do Acre ao Brasil.
Para resgatar essa trajetória, a reportagem ouviu a jornalista Carolina Freitas, do Petrópolis Sob Lentes, e o diretor de Pesquisas Históricas do Clube 29 de Junho, André Preisner.
O início da cidade
Neste ano, Petrópolis também celebra os 180 anos da chegada oficial dos imigrantes alemães, em junho. O movimento migratório de alemães para o Brasil teve início em 1824, quando grupos se estabeleceram no Rio Grande do Sul, inaugurando a colonização germânica no país. Duas décadas depois, em 1845, foi a vez de Petrópolis receber oficialmente os colonos alemães, que desempenharam papel fundamental na construção e no desenvolvimento do município.
No entanto, a presença germânica na cidade antecede sua fundação. Em 1837, um grupo de colonos chegou ao Rio de Janeiro a bordo do navio Justine. Dois anos depois, em 1839, instalaram-se na região ainda denominada Itamaraty, que viria a integrar o município de Petrópolis.
“Estes colonos estavam indo para a Austrália, mas reclamaram das más condições da viagem e decidiram ficar no Brasil. Foi então que Júlio Frederico Koeler os contratou para os trabalhos de abertura da Estrada Normal da Serra da Estrela. Em 1839, estes colonos se estabeleceram no Itamaraty”, contou André Preisner.
Quando, em 1845, novos imigrantes chegaram com destino certo à recém-fundada Cidade Imperial, enfrentaram desafios como o clima tropical e o idioma.
“Um dos grandes desafios também foi a questão religiosa porque o Império do Brasil era oficialmente um Estado Católico e parte destes imigrantes eram protestantes e não abriam mão de sua fé evangélica”, explicou Preisner, contando que, apenas após a Proclamação da República, quando o Estado se tornou laico, é que a torre da Igreja Luterana pôde ser construída.
Cidade dos diplomatas
Uma pesquisa do Petrópolis Sob Lentes revela que, entre 1860 e o início do século XX, a cidade sediou 26 representações diplomáticas. Mesmo após o fim do Império, a tradição de receber líderes políticos continuou, com presidentes brasileiros utilizando o Palácio Rio Negro como residência de verão e realizando encontros diplomáticos no local.
A presença de figuras influentes consolidou a vocação política da cidade. O Barão do Rio Branco, um dos principais nomes da diplomacia brasileira, mantinha residência em Petrópolis, onde negociou o Tratado de Petrópolis, assinado em 1903. O acordo garantiu a anexação do Acre ao território brasileiro, pondo fim a disputas com a Bolívia.

“Temos uma série de episódios ao longo da história petropolitana que comprovam o papel de destaque exercido pela cidade no âmbito político nacional e internacional e o Tratado de Petrópolis é um deles. Acho que revisitando o passado a partir de ocorrências como essa a pergunta que acabamos nos fazendo é: como a cidade deixou de sediar momentos emblemáticos como esse ao longo do tempo?”, refletiu a jornalista.
Essa presença dos diplomatas ainda pode ter influenciado no achado de um rico acervo na Biblioteca Municipal Gabriela Mistral. Em 2022, após as chuvas que assolaram a cidade, equipes da Prefeitura realizaram uma limpeza no espaço e acabaram encontrando alguns materiais não catalogados. À época, a primeira suspeita era que pertencessem a Barão do Rio Branco (veja mais detalhes ao final da matéria).
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Dentre os materiais, está um mapa do século XVIII, mais precisamente de 1757. A cartografia traz informações sobre as movimentações da Coroa Portuguesa e da Espanha nas chamadas Guerras Guaraníticas, quando povos da etnia Guarani lutaram pelas terras próximas ao Rio Uruguai. Havia ainda uma coleção de documentos mostrando a disputa entre Portugal e Inglaterra pela Guiana Inglesa.
Petrópolis, capital do Estado
Por um breve período, em 1894, Petrópolis assumiu a condição de capital do estado do Rio de Janeiro devido à Revolta da Armada. Na época, Niterói, sede do governo fluminense, foi considerada vulnerável ao conflito, e o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, era um território neutro.
Para a jornalista Carolina Freitas, essa mudança fortaleceu ainda mais a relevância da cidade e influenciou diretamente sua economia e estrutura.
“Não somente no período em que foi capital do Estado, mas também durante toda a época em que foi residência oficial de verão dos presidentes. Um dos meus grandes objetos de estudo na cidade é o comércio petropolitano no século XX, e a partir dos relatos que eu obtive com ex-proprietários de casas comerciais a vinda dos governantes para Petrópolis impactava diretamente na vida local. Até porque era muito comum que junto deles viessem os veranistas e a elite carioca”, afirmou.
Entretenimento na Serra
Após a Primeira Guerra Mundial, as embaixadas começaram a se transferir para a capital federal, como de praxe. Mas, anos depois, Petrópolis conseguiu destaque internacional novamente, desta vez, no entretenimento. O Hotel-Cassino do Quitandinha atraiu personalidades mundiais na cidade entre os anos 1944 e 1946, quando foram proibidos os jogos de azar. Ainda assim, o espaço se reinventou para continuar em destaque.

“Como muito bem detalhado na obra Apostas Encerradas, do jornalista Flávio Menna Barreto Neves, o Quitandinha passou então a investir na sua infraestrutura de lazer para atrair os visitantes e o fez com sucesso. Não tem quem não se encante ao pensar nos anos dourados do Quitandinha com vila hípica, praia artificial com areia vinda de Copacabana, natação na emblemática piscina interna em formato de piano de cauda, a prática de arco e flecha, patins e esportes dos mais diversos. Isso sem falar na vida social que o espaço possibilitava a partir da realização de bailes e eventos glamourosos”, conta Carolina Freitas.
Sobre os achados da Biblioteca
A Tribuna questionou a Prefeitura sobre as investigações para concluir sobre a origem dos materiais encontrados na Biblioteca Gabriela Mistral e se já foram anexados oficialmente no acervo. Sobre o mapa, o município esclareceu que ele não estava exatamente no local da enchente. Apenas não tinha sido realizado o tratamento técnico.
Já em relação ao livro, o município disse que ainda não há documento que comprove que ele seja do Barão do Rio Branco. Uma visita técnica do Instituto Municipal de Cultura (IMC) foi feita no Palácio do Itamaraty, no Centro do Rio de Janeiro, para investigar a origem. Mas não há definição sobre a origem. A Prefeitura também informou que um estudo mais aprofundado sobre a origem da obra ainda será realizado. Em relação ao local onde estão acondicionados, ambos se encontram em uma área reservada do IMC, em tratamento técnico.