Moradores do Vale do Cuiabá denunciam maus-tratos e comércio ilegal de animais
Soltos às margens da estrada no Vale do Cuiabá, cavalos, bois e vacas disputam espaço com os veículos. Animais que são vítimas de maus-tratos e usados como moeda de troca em feiras clandestinas que acontecem na região. Os moradores, que já denunciaram a situação diversas vezes ao Curral Municipal e até a Polícia Civil, dizem que já não sabem mais o que fazer e temem pela vida dos animais.
Uma moradora contou que é comum vê-los soltos. Nessa terça-feira (15), por exemplo, vacas e bois andavam livremente pela pista. Nesta semana, foi encontrado um cavalo morto na margem do rio Santo Antônio, próximo a uma ponte no início da estrada principal do Vale do Cuiabá. “O cheiro do animal já estava horrível, e os funcionários do condomínio próximo que o enterraram”, contou a moradora, que preferiu não ser identificada.
Ela não é a única, outros moradores da região que conversaram com a Tribuna temem represálias. Segundo a denúncia, estes animais são fruto de tráfico, feiras de troca e transações ilícitas na região. “O que sabemos é que as feiras são organizadas por um grupo no whatsapp, onde horário e a data são escolhidos. Eles sempre trocam o local para que não seja descoberto”, disse. Os animais são trocados por objetos, como bicicletas, e por outros animais, inclusive silvestres.
Quando não estão na pista, os animais ficam dentro do terreno da Fazenda Boa Esperança. “Colocamos placas indicando que o terreno tem dono. Nós mesmo já pedimos às pessoas que trazem estes animais para o terreno para que não façam, e não respeitam o pedido. O terreno é cercado, mas não adianta. Eles invadem, arrebentam cercas e cadeados”, relata um funcionário da fazenda.
As invasões têm causado prejuízos à Fazenda. “Uma vez um cavalo morreu no terreno e tivemos que pagar a hora de uma máquina para enterrá-lo, além dos constantes reparos na cerca”, relata o funcionário.
Na denúncia, os moradores relatam que tentaram contato com o Curral Municipal, mas a cada solicitação há uma justificativa diferente. “O curral está com superpopulação. Eles dizem que com a nova regra do estado em que todos os equinos devem ser registrados no Núcleo de Defesa de Agropecuária, os animais só entram e não saem. Porque são animais clandestinos e os proprietários não têm registro. Outra justificativa é a carretinha, que vira e mexe está quebrada”, relata a moradora.
“Morre um animal por semana. É nítida situação de maus-tratos. Além de não ser um local adequado para eles fiquem, os proprietários destes animais estão cometendo um crime de invasão. A impunidade impera”, desabafou a moradora. São mais de 10 animais que ficam expostos na via todos os dias.
No ano passado, um destes animais foi resgatado pela AnimaVida. Com a ajuda de profissionais voluntários, a égua, que ganhou o nome de Vida, conseguiu se recuperar e foi adotada. A denúncia foi feita na 106ª Delegacia de Polícia, o responsável pelo animal era um menor. “O agravante nestas situações de maus tratos no Vale do Cuiabá é que envolve menores”, desabafa Ana Cristina Ribeiro, da AnimaVida.
“Infelizmente estes animais são vítimas de maus tratos. Os cavalos são pele e osso, e já flagrei eles sendo montados por três pessoas. Batem nos animais para provocá-los, como se fosse um rodeio. Muitos morrem, porque não recebem alimento adequado, as vitaminas, andam sempre em galope”, disse um morador.
A prefeitura foi questionada sobre a denúncia, e disse que uma equipe da Coordenadoria de Bem-estar Animal (Cobea) será enviada ao local para atender a denúncia. E disse que o curral tem capacidade para receber até 10 animais – hoje são 4. E acrescentou que nesta gestão 94 cavalos foram resgatados e encaminhados para o curral. Já a carretinha passou por manutenção, mas voltou a ser utilizada na última sexta-feira, dia 11.
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