• O que se sabe sobre CACs que caçaram, mataram e andaram com corpo de suspeito de roubo em carro

  • 10/dez 15:47
    Por Caio Possati / Estadão

    Cinco homens foram presos em flagrante nesta segunda-feira, 9, em São Paulo, suspeitos de atirar e matar um indivíduo que praticava um assalto no bairro Parque dos Príncipes, na zona oeste da capital paulista. O grupo arrastou e carregou o corpo da vítima na caçamba de uma picape, modelo Dodge-Ram, quando foram autuados e detidos pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).

    Veja abaixo o que se sabe sobre o caso.

    Quem são os cinco homens e quantos deles são CACs?

    Entre os cinco homens que estavam no carro, dois são CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores de armas) e um deles já tinha passagem pela polícia. Eles são empresários e autônomos, segundo o delegado Leonardo Schwartz De Simone, do 14º Distrito Policial (Pinheiros), onde o caso foi registrado.

    O advogado Daldete Sindeaux, que representa o grupo, confirmou que dois dos integrantes do grupo são CACs. Informou também que as armas estão registradas e com documentação em dia.

    As identidades deles são:

    Laércio das Neves, 63 anos (CAC)

    Leandro Soares das Neves, 20 anos

    Alexandre Soares das Neves, 35 anos

    Renato Gomes Filgueiras, 43 anos

    Erivaldo de Oliveira, 46 anos (CAC)

    Como o suspeito foi encontrado e baleado?

    Conforme as investigações, o caso teve início quando Laércio das Neves foi ao mercado na manhã de segunda-feira, 9, e foi abordado por dois criminosos, que roubaram o seu carro, um veículo modelo T-Cross, além de outros pertences pessoais. Laércio, que possui o registro de CAC, voltou para casa e comunicou o roubo para a Polícia Militar.

    Laércio tinha comprado o veículo de um amigo, chamado Renato Gomes. Ao saber do roubo, Gomes avisou que o carro era rastreável e seria possível localizá-lo por meio de um aplicativo de celular.

    “O Laércio, então, teve a ideia de colocar a arma na cintura e ir atrás dos ladrões. Para isso, ele montou um time”, explica o delegado De Simone, responsável pela investigação.

    Com a ajuda de Renato e dos dois filhos, Leandro e Alexandre Soares das Neves, ele convida o vizinho Erivaldo de Oliveira, também CAC e proprietário da Dodge-Ram usada na caçada aos criminosos, para participar da abordagem.

    Com o dispositivo de rastreamento, o grupo chegou na Rua Eusébio de Paula Marcondes, onde a dupla de suspeitos praticava um roubo a uma van do Mercado Livre. A empresa foi procurada pelo Estadão, mas não se manifestou até a publicação da reportagem.

    Pelas imagens de câmeras de monitoramento, obtidas pela reportagem, é possível ver a Dodge-Ram de Erivaldo, com os cinco do grupo a bordo, chegando ao local e emparelhando o veículo com os assaltantes.

    Um dos suspeitos já estava ao volante, com o veículo ligado, preparado para fugir. O outro suspeito, de camiseta azul, estava de pé, fora da T-Cross. Ao ver os homens armados, ele ergue as mãos em sinal de rendição. Seu comparsa acelera e foge.

    Um membro do grupo dispara no suspeito rendido, que cai no chão. Imagens de uma segunda câmera, de um prédio, mostram quando um novo tiro é disparado na direção do suspeito. O efeito é imediato e a vítima cai no chão. O atirador se aproxima e o agarra pelo braço e o arrasta até o carro, quando ele é jogado para cima da caçamba da picape.

    O que diz a investigação e a defesa?

    Conforme o delegado De Simone, um dos atiradores é Renato, que não possui o registro de CAC e que já possui passagem pela polícia por roubo. O outro a aparecer nas imagens com a arma em mãos é Laércio. As duas armas, uma pistola calibre 9mm, de uso restrito, e outra de calibre 380, foram apreendidas e levadas para a perícia.

    “Aparentemente, ainda estamos levantando a informação em vídeo (sobre quem atirou e matou o suspeito), mas quem efetuou mais disparos é o Renato. O Laércio desembarca depois e dá pra ver o armamento na mão dele também. Eu pedi exame residuográfico também para saber quem realizou o disparo e a perícia na arma”, afirmou o delegado à reportagem.

    Ainda de acordo com o delegado, os acusados quiseram passar uma versão que agiram em legítima defesa, e que houve troca de tiros. As marcas de tiros, entretanto, não foram localizadas na picape. “Todos vão responder pelo mesmo crime. Uns vão responder como autores e outros como partícipes”, acrescentou.

    Daldete Sindeaux, responsável pela defesa do grupo, discorda da avaliação do delegado. “Me causou estranheza (todos estarem respondendo pelo mesmo crime)”, afirmou. “O que me consta, dois teriam feito os disparos e outros três estavam dentro do veículo. Mas, no entendimento da autoridade policial, ele entende que os demais foram partícipes, o que eu discordo plenamente. Eles não tiveram participação.”

    Eles vão responder por quais crimes?

    De acordo com a polícia, eles vão responder por homicídio qualificado tentado e consumado com emprego de arma de fogo de uso restrito (por usar pistola de calibre 9 mm), com causa de aumento de pena por atividade típica de grupo de extermínio.

    O advogado Daldete Sindeaux, que representa o grupo, confirmou que dois dos integrantes do grupo são CACs, e informou que as armas estão registradas e com documentação em dia. “O delegado decidiu manter os cinco rapazes presos em flagrante delito sob acusação de homicídio consumado e tentado. Vão passar por audiência de custódia na terça-feira”, disse o defensor.

    Quem era o suspeito morto?

    O homem de camiseta azul que foi morto pelo grupo era Carlos Antônio Rodrigues Regis, de 36 anos. Natural da Paraíba, ele não tinha passagem pela polícia, segundo as investigações. O corpo foi identificado por um tio, que compareceu à delegacia para fazer o reconhecimento. O outro suspeito segue foragido. O veículo T-Cross, usado na fuga, foi localizado horas depois, abandonado.

    Segundo a Secretaria da Segurança Pública, “informações preliminares apontam que um suspeito foi baleado ao tentar roubar um veículo na Rua Iracema Senna Cerqueira dos Santos, no Parque dos Príncipes”.

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