• Ibovespa cai 1,50%, abaixo dos 126 mil, mas obtém ganho de 0,22% na semana

  • 06/dez 18:41
    Por Luís Eduardo Leal / Estadão

    O Ibovespa conseguiu preservar leve ganho de 0,22% na semana, ao fim de sessão que se mostrou o inverso da anterior. Hoje, o índice da B3 devolveu a alta de 1,40% registrada ontem, em baixa de 1,50%, aos 125.945,67 pontos, entre mínima de 125.833,31 e máxima de 127.871,80 nesta sexta-feira, em que saiu de abertura aos 127.856,01 pontos. Dessa forma, manteve o padrão de alternar ganhos e perdas diários desde 28 de novembro, quando mergulhou 2,40% na reação inicial ao pacote de ajuste fiscal, detalhado pela equipe econômica na manhã daquela quinta-feira.

    Enquanto a sexta-feira foi de ganhos para os principais índices de Nova York – com destaque para o Nasdaq, em alta de 0,81%, e assim como o S&P 500 em nível recorde de fechamento -, a cautela voltou a prevalecer na B3, ante a retomada de pressão na curva de juros, especialmente em vencimentos como os de janeiro de 2027 e 2029, e de elevação do dólar frente ao real. Na máxima do dia, a moeda americana foi negociada à vista a R$ 6,09 e, no encerramento, mostrava alta de 1,02%, a R$ 6,0708, com avanço de 1,16% nesta primeira semana de dezembro. No ano, o Ibovespa recua agora 6,14%. O giro financeiro desta sexta-feira foi a R$ 23,4 bilhões.

    O desempenho desta semana inicial de dezembro, contudo, pode ser visto como uma relativa acomodação após a retração de 2,68% vista no último intervalo de novembro, então sob a pesada influência da má recepção ao escopo – tido como insuficiente e pouco exequível – do pacote fiscal. Nesta semana, as atenções se voltaram à tramitação no Congresso, com expectativa de alguma celeridade e de ajustes a princípio benignos à proposta encaminhada pelo governo – os mais recentes desdobramentos, porém, sugerem que em vez de melhorar o pacote, parlamentares de oposição e da situação possam diluí-lo ainda mais, o que se refletiu hoje, principalmente, no comportamento do câmbio e dos juros futuros.

    Neste contexto, apesar de um relativo alívio na semana, os investidores optaram hoje por colocar a recuperação do dia anterior no bolso, com os papéis de maior liquidez e peso no índice, como os de commodities e bancos, devolvendo a alta de ontem, que havia sido bem distribuída na sessão. Hoje, Vale ON caiu 1,71%, enquanto Petrobras ON e PN mostraram perdas de 2,07% e 1,54% no fechamento.

    Entre os grandes bancos, as ações chegaram ao fim do dia com variação entre -1,05% (Santander Unit) e -2,94% (BB ON). Na ponta perdedora do Ibovespa, nomes associados ao ciclo doméstico como CVC (-11,59%) e Magazine Luiza (-7,07%), sensíveis a juros ou a câmbio, bem como Pão de Açúcar (-8,14%) e Azul (-7,22%). No lado oposto, Embraer (+1,70%), B3 (+1,53%) e WEG (+1,22%). Apenas 12 dos 86 papéis da carteira Ibovespa conseguiram fechar a sessão com algum ganho.

    “Dia negativo para os ativos brasileiros, com alta no dólar e muito prêmio ainda na curva de juros doméstica, que já sinaliza Selic terminal a 15% no atual ciclo monetário, por conta da desancoragem provocada pelo governo”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, referindo-se à “comunicação errada” de um “pacote insuficiente”, que resulta em “frustração contínua” do mercado com relação ao “comprometimento e a responsabilidade fiscal” do governo. “Por melhor que tenha sido a notícia, o anúncio do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia acabou escanteado” na sessão, ante a aversão a risco que ainda prevalece.

    Dessa forma, “o rali de final de ano”, que começa a ser observado em mercados do exterior, acaba não se espraiando para as ações brasileiras, mantendo assim o Ibovespa na contramão do otimismo com que se vê outros índices, globalmente. “Sentimento para a B3 continua pesado, tendo em vista as preocupações e a perspectiva para o fiscal, mesmo com a promessa que chegou a ser sinalizada de endurecimento” na proposta do governo durante a tramitação pelo Congresso, acrescenta o analista. “Há ainda possibilidade de minimização de danos, mas o governo perdeu o benefício da dúvida”, diz Spiess, em referência à crise de credibilidade fiscal.

    Para Bruna Centeno, sócia e advisor da Blue3 Investimentos, a luta ao fim perdida do Ibovespa para sustentar os 126 mil pontos na sessão reflete também a dinâmica da valorização do dólar e a expectativa pela decisão do Federal Reserve, na próxima semana, sobre os juros dos Estados Unidos – em sexta-feira de dados mistos sobre a economia americana, que não se sabe bem, ainda, como serão interpretados pelo Fed na deliberação da quarta-feira, 11. “Mercado daqui refletiu hoje também o externo, especialmente o relatório oficial sobre o mercado de trabalho, o payroll, além das questões fiscais domésticas”, aponta.

    Destaque da agenda internacional nesta sexta-feira, o payroll de novembro, divulgado pela manhã, apontou a criação de 227 mil vagas de trabalho nos Estados Unidos, em leitura acima da expectativa de consenso para o mês. Houve também revisões em alta para os dois meses anteriores, que adicionaram 56 mil vagas ao intervalo, observa Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Ele acrescenta que, para novembro, já se esperava uma retomada do mercado de trabalho nos EUA, em relação aos efeitos transitórios do furacão Milton e de greves no setor industrial, como na Boeing, que haviam afetado o resultado de outubro.

    No Brasil, as expectativas do mercado financeiro quanto ao desempenho das ações no curtíssimo prazo estão mais equilibradas no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, a percepção de alta e a de estabilidade têm agora fatia de 40%, cada, enquanto para 20% a semana que vem será de perdas para o Ibovespa. Na pesquisa anterior, a projeção majoritária, com 50%, era de estabilidade para o índice na atual semana, contra 33,33% que esperavam avanço e 16,67% que previam baixa.

    Últimas