• Rebeldes tomam 2ª maior cidade Síria; tropas do governo se retiram

  • 01/dez 07:39
    Por Redação, O Estado de S. Paulo / Estadão

    Rebeldes concluíram neste sábado, 30, a conquista de Alepo, tomando o aeroporto civil e controlando a maior parte da segunda maior cidade da Síria. O Exército síria admitiu que os insurgentes avançaram, obrigando seus soldados a se retirarem sem muita resistência. A ofensiva dos últimos dias foi devastadora, deixou mais de 300 mortos e reacendeu a guerra civil.

    “Dezenas de homens de nossas Forças Armadas foram mortos e outros ficaram feridos”, admitiu o Exército. “Organizações terroristas conseguiram penetrar em grande parte dos bairros da cidade de Alepo”, afirmaram os militares, detalhando que os combates se estendiam por mais de 100 quilômetros.

    Controle

    Os rebeldes sírios, fortemente armados e vestidos com uniformes camuflados, patrulhavam ontem as ruas de Alepo, ainda decoradas com cartazes de Assad. Eles tiraram selfies na velha cidadela e derrubaram símbolos da ditadura de Assad.

    Imagens de TV mostraram os rebeldes destruindo uma estátua de Bassel Assad, irmão do ditador. O comando dos insurgentes, no entanto, afirmou que, embora controlasse quase toda a cidade, ainda não havia consolidado completamente sua posição.

    As forças lideradas pelo grupo armado Hayat Tahrir al-Sham (HTS) também tomaram uma importante base militar e assumiram o controle de Saraqib, um local estratégico na rodovia para a capital Damasco.

    O HTS e suas facções comandaram as operações, que pegaram não só o governo de surpresa, mas também Rússia e Irã, que dão suporte a Assad. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), ONG que monitora o conflito, afirma que os rebeldes controlam a maior parte da cidade, incluindo prédios do governo e prisões. Eles também avançaram em Hama e Idlib, capturando pontos estratégicos sem encontrar resistência do Exército.

    Mudança

    “Ninguém esperava que Alepo fosse tomada tão rapidamente, o que significa que não havia linhas defensivas reais dentro da cidade. Quando eles chegaram lá, parece que tudo estava escancarado”, disse Jerome Drevon, analista do International Crisis Group.

    Aliada do regime sírio, a Rússia lançou ataques em Alepo com aviões de guerra pela primeira vez desde 2016, quando Assad restabeleceu sua autoridade sobre a cidade. Pelo menos 16 civis foram mortos nos bombardeios russos, segundo o OSDH.

    A escalada é a mais intensa em anos de uma guerra civil que estava em grande parte adormecida e representa o desafio mais sério enfrentado pelo regime. A escolha do momento do ataque sugere que os rebeldes podem estar explorando fraquezas da aliança que une Irã, Hezbollah e Síria.

    Para Dareen Khalifa, também especialista do International Crisis Group, a operação vinha sendo preparada há meses. “O HTS e seus aliados perceberam a mudança regional e geoestratégica. Eles acreditam que agora os iranianos estão enfraquecidos e o regime sírio está encurralado”, acrescentou.

    Alianças

    Em meio à ofensiva, o Irã denunciou que seu consulado em Alepo foi atacado por terroristas armados. O Ministério das Relações Exteriores do Irã condenou o ataque e afirmou que todos os integrantes da missão diplomática estão a salvo.

    Foi graças ao apoio militar de Rússia, Irã e Hezbollah que o regime conseguiu recuperar o controle de grande parte da Síria, a partir de 2015. No ano seguinte, Assad retomou Alepo, uma das cidades mais afetadas pela guerra civil.

    Os rebeldes da aliança jihadista HTS, contudo, mantiveram o domínio sobre as Províncias de Hama e Latakia, nos arredores de Alepo, e partes de Idlib. Ontem, eles avançaram profundamente no território controlado por Assad, passando por Hama e Kafr Nabl, que era um símbolo da oposição ao regime.

    O avanço rápido sobre Alepo ocorre após a ofensiva que reviveu os temores em um país devastado por uma guerra civil que se arrasta desde 2011. “Pela primeira vez em cerca de cinco anos, ouvimos foguetes e artilharia o tempo todo e, às vezes, aviões”, disse Sarmad, de 51 anos, morador de Alepo. “Estamos com medo de que o cenário de guerra se repita e sejamos obrigados a fugir.”

    Guerra civil

    O conflito começou em 2011 como uma revolta popular que pedia a derrubada de Assad. Muito rapidamente, se transformou em uma guerra civil sangrenta, com a batalha pelo controle de Alepo no centro dos combates.

    As forças do regime sírio assumiram o controle da cidade em 2016, com a ajuda do poder aéreo russo e das forças terrestres iranianas. Enquanto lutava pelo controle do país, Assad também libertou combatentes jihadistas das prisões, conseguindo dar uma reviravolta na guerra.

    Os opositores do governo de Assad em outros lugares da Síria e no exílio agora voltarão suas atenções para o exemplo de Alepo, com a possibilidade de que a insurgência possa alimentar revoltas semelhantes em outros lugares da Síria. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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