• Dólar retoma R$ 6 e puxa juros com fiscal em meio a falas de Galípolo

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  • 29/nov 09:58
    Por Silvana Rocha / Estadão

    Os juros futuros sobem junto com o dólar, que já bateu máxima intradia a R$ 6,0545 (+1,09%) no mercado à vista nesta sexta-feira, 29. Investidores estendem o mau humor com o pacote fiscal e precificam também o discurso que pode ser visto como hawkish de ontem de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, que volta a falar hoje em almoço na Febraban com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (11h30). Também olham os números do setor público consolidado e da taxa de desemprego incluída na Pnad Contínua.

    Ontem, dólar e juros futuros já dispararam e a curva passou a precificar Selic terminal em 14,75% em meados de 2025, dos atuais 11,25%, após o anúncio dos cortes de gastos e isenção de imposto para quem ganha até R$ 5 mil a partir de 2026, que desagradaram o mercado. A curva apontava 72% de chance de aumento de 75 pontos de dezembro e 100 pontos para as reuniões de janeiro e março do Copom.

    Economistas contestam a economia de R$ 71,9 bilhões anunciada pelo Executivo. Para a Warren Investimentos, a economia do pacote deve ser de 62% do valor anunciado, ou cerca de R$ 45 bilhões. O Itaú Unibanco calcula um potencial de economia de R$ 53 bilhões nos próximos dois anos, 2025 e 2026, enquanto nas contas da Monte Bravo, as medidas resultarão numa contenção de despesas em torno de R$ 40 bilhões a R$ 45 bilhões.

    Galípolo enfatizou em evento ontem do Esfera Brasil que a autarquia segue comprometida com a meta de inflação de 3%, mesmo em um cenário de desancoragem das expectativas inflacionárias, que ele classificou como uma preocupação significativa para o BC. Com uma economia aquecida, crescimento surpreendente e desemprego baixo, Galípolo reforçou a necessidade de uma política monetária mais restritiva. Ele comparou o papel do BC ao “chato da festa”, que diminui o som quando as coisas parecem estar indo bem. “Mas isso acontece para desacelerar e as coisas não saírem do controle”, disse.

    O ministro da Casa Civil, Rui Costa, atribuiu ao BC a responsabilidade pela alta do dólar, e disse que o governo deve explicar as medidas e que o dólar vai baixar. “Estamos em contagem regressiva para ter não um Banco Central que seja com olhar para o Executivo, mas um Banco Central que tenha um olhar para o Brasil”, acrescentou.

    O setor público teve superávit primário de R$ 36,883 bilhões em outubro, o maior para o mês desde 2016, porém, inferior à mediana das previsões do mercado, de R$ 40,5 bilhões. Neste ano, o setor público acumula déficit primário de R$ 56,678 bi até outubro (0,59% do PIB) e em 12 meses, déficit primário R$ 223,521 bilhões até outubro (1,95% do PIB).

    A taxa de desocupação no Brasil ficou em 6,2% no trimestre encerrado em outubro, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados há pouco pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi idêntico à mediana das expectativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast. O intervalo das estimativas ia de 6,0% a 6,4%. Em igual período de 2023, a taxa de desemprego na Pnad estava em 7,6%. No trimestre encerrado em setembro de 2024, a taxa de desocupação estava em 6,4%. A renda média real do trabalhador cresceu 3,9% na comparação anual, a R$ 3.255 no trimestre encerrado em outubro.

    Estão no radar também os nomes dos novos diretores do BC. Costa disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já escolheu os nomes, que devem ser encaminhados hoje ou, no máximo, na próxima semana.

    No exterior, os sinais das commodities estão mistos. O minério de ferro subiu 1,14% na Bolsa chinesa de Dalian, mas o petróleo recua, pressionado por expectativas sobre o encontro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), que foi adiado para o dia 5 de dezembro. Em Nova York, em sessão encurtada e liquidez reduzida pós feriado, os juros dos Treasuries e o dólar recuam com investidores ponderando recente bateria de dados macroeconômicos dos EUA e implicações para os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), além das incertezas quanto as propostas de tarifas do presidente eleito dos EUA, Donald Trump.

    Às 9h30, o dólar à vista subia 0,73%, a R$ 6,0370. O dólar futuro de janeiro ganhava 0,29%, a R$ 6,0580, após abrir cotado a R$ 6,02, em baixa de 0,32%.

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