• Vera Holtz e Federico Puppi falam sobre o espetáculo “Ficções” em entrevista à Tribuna de Petrópolis

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  • Por Aghata Paredes | Foto: Flavia Canavarro

    “Estive aqui!” – A simples marca de uma mão humana em uma caverna da França, datada de 30 mil anos, foi o que permitiu ao homo sapiens sair de sua condição meramente animal para se tornar um criador de narrativas. Essa habilidade de criar ficções coletivas, como descreve o historiador e escritor Yuval Noah Harari, em “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, é a espinha dorsal de “Ficções”, espetáculo protagonizado por Vera Holtz. Idealizado pelo produtor Felipe Heráclito Lima e com texto e direção de Rodrigo Portella, o monólogo, que conta com música original de Federico Puppi, italiano radicado no Brasil, estará em cartaz no Teatro Imperial, em Petrópolis, neste fim de semana.

    A Tribuna de Petrópolis conversou com a atriz Vera Holtz e o músico Federico Puppi sobre o espetáculo, que terá duas apresentações na cidade: uma no sábado (30), às 20h, e outra no domingo (1º), às 18h. Confira a entrevista na íntegra: 

    Aghata Paredes – Vera, “Ficções” marca seu retorno aos palcos após três anos. Como foi para você esse reencontro com o teatro e com o público?

    Vera Holtz – Fiquei muito tempo fazendo teatro pontualmente, depois fiz televisão, e só então pensei em retomar o teatro com mais frequência. O teatro, de fato, é um lugar de transformação, um lugar de reflexão. Eu vejo o teatro como o verdadeiro espaço do ator, onde você pode exercitar sua técnica, sua relação com a plateia e com os próprios criadores. A interação com os criadores, com a mídia, com o público, tudo isso é muito importante. Esse retorno foi essencial, e chegou no momento certo. Tinha 61 anos [agora com 71] quando aceitei o convite para “Ficções”, e comecei a perceber que precisava passar por várias atualizações — tanto no corpo quanto na voz, na minha visão de mundo e na forma de interpretar. Então, esse retorno foi muito inspirador, cheio de energia e de novos aprendizados!

    AP – O espetáculo se inspira no livro “Sapiens”, de Yuval Noah Harari, e aborda a capacidade humana de criar ficções. Como foi se aprofundar nesse universo tão amplo e filosófico?

    VH – Eu já tinha lido o livro antes de saber do projeto, e ele realmente me interessou bastante. Claro que, ao adaptá-lo para o palco, fomos mais a fundo. A cada uma das 270 apresentações, o espetáculo nos leva a uma profundidade ainda maior, porque exploramos mais detalhes do livro. Apesar da peça ser um recorte da obra, ela se concentra na capacidade humana de criar ficções coletivas, e como essas ficções são o catalisador para a cooperação humana. Esse é um argumento muito atual, porque a cooperação é o que move o nosso dia a dia, seja no microssistema, seja no macrossistema. É uma reflexão profunda, e é muito bonito e importante levar esse tipo de reflexão ao público por meio da linguagem teatral. A peça permite que a gente crie drama e reflexão a partir das nossas próprias origens como homo sapiens e das nossas capacidades…

    AP – Você interpreta diferentes personagens no monólogo, além de cantar e improvisar. Qual foi o maior desafio em dar vida a tantas camadas em cena?

    VH – Quando começamos a montar o espetáculo, o texto ia chegando aos poucos, e fomos ensaiando com a presença constante da música. O maior desafio foi equilibrar a linguagem do nosso diretor, que tem uma abordagem mais performativa, com o conteúdo do texto, que é filosófico e científico. A principal dificuldade foi evitar cair em uma apresentação que não fosse performativa, mas sim algo mais explicativo. Fazer várias personagens, mas não ser elas, foi uma experiência interessante. Em cena, eu sou um fóssil, depois uma nômade — e cabe ao público acreditar nisso ou não. Esse encontro de linguagens foi o grande desafio para mim. Não foi difícil trabalhar com a música, porque o instrumento se alinha perfeitamente com a voz humana, né? Isso só acrescentou à experiência, tornando o trabalho ainda mais especial. Foi um encontro que fluía muito bem, e acho que hoje nossa interação no palco é natural, como se tivéssemos um ritmo biológico em sintonia.

    Foto: Guga Melgar

    AP – O texto de Rodrigo Portella convida o público a diversas reflexões. Como você acredita que “Ficções” impacta os espectadores?

    Federico Puppi – O texto de Rodrigo transita entre a visão de Yuval Harari sobre a evolução da espécie humana e seus sistemas, e a dimensão pessoal de cada ser humano. A grande reflexão que a peça propõe é como esses macrosistemas impactam a vida de cada um. Como você, espectador, se posiciona diante das ficções coletivas? Quais são as suas crenças? Quais você aceita, quais discute? A peça nos convida a olhar para dentro e refletir sobre as ficções que moldam nossas vidas pessoais.

    AP – Vera, a interação com Federico Puppi, que assina a trilha sonora e divide o palco com você, é uma das particularidades do espetáculo. Como é construir essa parceria em cena?

    VH – Essa parceria com Federico já vem de um processo muito anterior, quase como uma ancestralidade [risos]. Há um legado italiano que sinto que se reflete nesse encontro de energias, sabe? [risos] Logo no início, o diretor nos desafiou a ver se haveria empatia entre nós. Não houve nenhum problema de adaptação. A interação foi muito natural, e ele me permitiu explorar vários regiões da música, experimentando sonoridades diferentes, guturais… Não houve nenhuma resistência. A música e a palavra se complementam, e acho que nossa sinergia no palco reflete isso. Hoje temos um tipo de ‘biorritmo’ muito alinhado [risos].

    AP – Após uma temporada de sucesso em Portugal, o espetáculo chega ao Teatro Imperial. O que o público pode esperar dessa experiência, e o que vocês gostariam que os espectadores levassem para casa?

    VH – Chegamos aqui com o coração aberto, né? Cada cidade, cada público nos transforma de alguma forma. E é exatamente isso que esperamos, que o público também nos transforme, nos inspire com suas reações e nos leve a novos insights, digamos assim. Estamos muito felizes de nos apresentar em Petrópolis, e este encontro será especial para nós. Tenho certeza de que quem tiver a oportunidade de assistir, terá uma experiência especial! Alegre, né?

    FP – Exatamente, esperamos um grande encontro. O que o público vai poder levar para casa são ótimas conversas, novas ideias, o começo de um diálogo que vai se estender pela semana. E, para nós, depois que a plateia sai, a conversa continua!

    Serviço – “Ficções” no Teatro Imperial

    Quando: 30 de novembro, às 20h, e 1º de dezembro, às 18h

    Onde: Teatro Imperial (R. Mal. Deodoro, 192 – Centro)

    Ingressos: R$45 a R$150: disponíveis para compra on-line (Ingresso Digital) ou na bilheteria do Teatro Imperial.

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