• Estrelas que não se apagam

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  • 20/nov 08:00
    Por Afonso Vaz

    No passado que vai distante, ocasião quando atividades em lides literárias já se propagavam em nossa cidade, prestigiadas pela a presença de diversas personalidades do sexo masculino, ambientes, entretanto, indesejáveis, inóspitos, às mulheres.

    Assim é que eventos reservados apenas para destacados poetas, jornalistas e romancistas, enfim cidadãos desde que dotados de pendores literários , espaços que, segundo muitos, não poderiam ser frequentados por mulheres.

    Todavia, a perseverança de algumas delas fez demonstrar que lograriam alcançar êxito, até porque a palavra perseverar que fizeram abraçar já guardava o significado de determinação e as mesmas as tinham, de sobra.

    O verdadeiro e a realidade já demonstravam às mulheres que espíritos e bem assim inteligências determinados possibilitariam transformar sonhos em realidade.

    Premissas que certamente continuam acompanhando o ser humano até os dias atuais, creio que para sempre.

    A época corroborava justamente para a criação da Associação Petropolitana de Ciências e Letras e já escrevera a tal propósito, no início da crônica intitulada “Associação de Ciências e Letras e o Brado Feminista”, o eminente professor e historiador Joaquim Eloy Duarte dos Santos, “… a cultura ainda era privilégio do sexo masculino”.

    E prosseguindo fazia aduzir: “Poucas eram as damas de então que se ousavam competir com os homens nos campos do saber”.

    Inclusive, retratava que “… seguindo a francesa que a inspirava – a Academia Brasileira e Letras – não admitia a presença de mulheres no seu corpo social”.

    Ponderaria, ainda, que à época da criação da Associação ocorrida em 3 de agosto de 1922, “… nenhuma dama apresentou-se como candidata ao ingresso junto aos intelectuais”.

    Contudo, prossegue explicitando que “… na terceira reunião, realizada a 23 de agosto, estando ainda abertas as inscrições para fundadores da Associação, pasmou a todos a presença da Srta. Fausta Gouvêa, não se limitando a assistir a reunião mas solicitando sua inclusão como associada”.

    E mais, “…acompanhada, no mesmo dia, mais tímida, a Srta. Cecília de Vasconcellos solicitava o direito de ingressar “por carta”.

    O certo é que mais uma das gigantes mulheres também conseguiriam o mesmo intento, tal como a Srta. Hilda de Oliveira, justamente quando após a abertura dos trabalhos pelo Presidente da Associação e Prefeito Municipal, Dr. Eugênio Lopes Barcellos, fez-se ouvir a senhorita em questão declamando uma “Poesia à Bandeira” da autoria de Joaquim Gomes dos Santos”

    Lamentavelmente, pelo que se infere das considerações da lavra do professor Eloy, após ser ouvida a Srta. Fausta Gouvêa dissertando sobre a “A Literatura em Petrópolis”, acabou que o Jornal “O Centro”, edição de 15 de outubro de 1922, publicou: “… e a distinta professora senhorita Fausta Gouvêa, que dissertou brilhantemente sobre a literatura em Petrópolis”.

    Pois bem, cessados esses momentos “… foram suficientes para uma série de recriminações, críticas, discussões entre alguns membros da Instituição, obrigando ao Acadêmico Joaquim Gomes dos Santos viesse a publicar na Tribuna de Petrópolis um artigo sob o título “Costumes da nossa terra”.

    Em decorrência dessa publicação, em boa hora, os ânimos se acalmaram passando, assim, a figurarem nas lides literárias a senhorita Virgulina de França e Silva, além das irmãs Fausta e Francisca Gouvêa, tão logo acompanhadas pela também irmã, a professora Germana Gouvêa, já à época defensora da nobre causa.

    A professora Germana Gouvêa, a quem vimos prestar as mais sinceras homenagens, recordando sua inesquecível memória, seus feitos, dedicação ao ensino e, ainda, como membro atuante da Academia Petropolitana de Letras, ocupante da cadeira número 40, patronímica de Joaquim Manuel de Macedo.

    Na Academia deixou importante legado vez que manteve-se ativa junto à Instituição por mais de 50 anos, inclusive no desempenho de tesoureira durante três gestões.

    A professora foi nomeada Diretora do Grupo Escolar Dom Pedro II em maio de 1931, tendo anteriormente desempenhado a função de Diretora Adjunta.

    Certamente se orgulhava das irmãs Fausta e Francisca, idealistas que lutaram pela inclusão das mulheres em atividades literárias, conforme descrito em linhas anteriores, idos de 1922.

    Mas não foi só, já que também fez parte dos quadros do Instituto Histórico de Petrópolis, inclusive tendo participado da “Comissão do Centenário de Petrópolis”.

    No âmbito do Estado do Rio de Janeiro desempenhou o cargo de Secretária de Educação.

    Residiu por muitos anos nesta cidade à Rua Paulo Barbosa e o seu último domicílio no edifício Imperador, situado à Praça Alcindo Sodré.

    Duas curiosidades a mim transmitidas pela sobrinha, a advogada Júlia Gouvêa Schaefer: “no Natal tia Germana fazia reunir toda família, inclusive ficando sob sua responsabilidade os lindos presépios que armava”.

    E mais, a professora Germana “estudou e tocava cavaquinho”.

    Conclui o seu depoimento aduzindo: “foi assim uma grande mulher para a época”.

    Realmente, estrelas que nunca se apagam e que devem ser reverenciadas, para sempre!

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