• Expansão fiscal impede País de surfar onda de corte de juros, diz economista-chefe da Veedha

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  • 21/out 14:56
    Por Francisco Carlos de Assis / Estadão

    O Brasil poderia estar surfando em ondas mais altas se não fosse a política fiscal expansionista, que tem exigido do Banco Central a manutenção do juro elevado enquanto economias avançadas reduzem suas taxas. A avaliação é da economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. Para ela, os incentivos fiscais têm assegurado o crescimento da economia e a redução do desemprego, mas a um custo muito alto. As faturas, afirma, começarão a chegar a partir de 2025.

    Camila prevê crescimento do PIB em 3% este ano e expansão de 1,70% no ano que vem, perto do consenso da Focus (3,05% para 2024 e 1,93% ára 2025). Isso porque, de acordo com ela, mesmo com o Fed e o BCE cortando juro, o BC terá de aumentar a Selic. O aumento de juro, nas palavras da economista da Veedha, se faz necessário para combater a inflação que cresce decorrente da injeção de dinheiro público na economia. “Estamos crescendo e reduzindo o desemprego, mas a um custo muito elevado”, diz, ao Broadcast.

    A Veedha espera que o BC promova duas altas de 0,50 ponto porcentual na Selic, em novembro e dezembro, e mais uma elevação de igual magnitude em janeiro, para 12,25% ao ano.

    O crescimento do PIB e a redução do desemprego que a expansão fiscal está promovendo, mesmo com a alta da Selic, estão levando ao aumento do crédito. Só que o efeito defasado dos aumentos da Selic este ano somado à alta de 0,50 ponto prevista para janeiro vão levar ao arrefecimento da economia em 2025, o que incorrerá no aumento da inadimplência, outra preocupação do BC.

    Hoje, segundo Camila, a expansão fiscal tira um pouco de potência da política monetária. A Selic alta, de acordo com ela, está servindo para impedir a inflação de escalar para muito além do que está, mas não para trazê-la para o centro da meta. O crédito continua crescendo e deve continuar se expandindo até o começo do ano que vem. Mas, no momento que as altas de juro começarem a bater na economia, a inadimplência voltará a subir.

    Sobre o cenário externo, na avaliação da economista da Veedha, não se sabe exatamente quanto o Fed e o BCE e outros bancos centrais como o da Inglaterra, por exemplo, vão cortar suas taxas de juro. Mas se sabe que a tendência é de taxas menores que as atuais. E o Brasil que poderia estar aproveitando do aumento do diferencial de juro e, no máximo manter a Selic onde está, terá de aumentá-la para impedir que a inflação vá para além do teto da meta. Na Veedha, a expectativa é de que o IPCA feche este ano em 4,5% e o próximo, em 4,3%.

    A inflação, de acordo com Camila, é algo que incomoda o BC – os diretores da autarquia têm tornado pública esta preocupação – e por isso o entendimento dela de que a nova diretoria do BC a partir de 1º de janeiro de 2025 não fará “uma política irresponsável” de sair cortando juros só por cortar.

    “Eles estão determinados em controlar a inflação. Agora, se vier uma coordenação entre as políticas fiscal e monetária, se houver a convergência para uma responsabilidade maior e uma sinalização crível do governo na direção de buscar o equilíbrio fiscal, sem dúvidas que há chances de termos um cenário surpreendente”, diz a economista.

    Segundo Camila, o Brasil precisa encontrar uma forma de ter uma taxa de juro mais próxima da neutra.

    “Estamos nos afastando cada vez mais da taxa neutra. O Fed está cortando, o BCE cortou e o BoE vai cortar mais. Quanto que a gente está ganhando com isso? O Brasil não é uma bolha e, portanto, o que acontece lá fora impacta a gente. Nós temos uma restrição muito menor com o Fed num movimento de corte de juros. Então, a gente tem uma onda que poderia ser favorável para nós, na qual poderíamos estar surfando, mas estamos sendo engolidos por uma outra onda, a da desconfiança com a política fiscal”, atesta a economista.

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