• Peste suína africana põe em risco produção de prosciutto, que movimenta 20 bi de euros

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  • 09/out 08:32
    Por AP / Estadão

    Uma das porcas de Giovanni Airoli testou positivo para peste suína africana no fim de agosto. Em uma semana, todos os 6,2 mil leitões, porcos e porcas de sua fazenda ao sul de Milão, Itália, foram abatidos sob protocolos rigorosos para conter a doença que ameaça a indústria de € 20 bilhões por ano (por volta de R$ 121,3 bilhões) de prosciutto (presunto cru), linguiças curadas e carne suína da Itália.

    Desde que a peste suína apareceu na península em janeiro de 2022, a Itália abateu quase 120 mil porcos – três quartos deles apenas nos últimos dois meses, à medida que a emergência se intensificou.

    “É uma desolação”, disse Airoli, fora de sua fazenda na região da Lombardia, no norte, epicentro da epidemia de peste suína da Itália. Ninguém pode entrar ou sair, exceto funcionários, e esses sob rigorosos protocolos de higiene que exigem o uso de macacões e botas limpas dentro das instalações. “Isso aconteceu conosco, apesar de aplicarmos todas as medidas de segurança exigidas. Houve, obviamente, uma falha. Não entendemos o que pode ter sido”, disse Airoli.

    A doença aumentou com 24 surtos no início de setembro, a maioria na Lombardia. A área de maior preocupação, onde a infecção foi confirmada em porcos domésticos, se estende por 4,5 mil km² e inclui as regiões vizinhas do Piemonte e da Emília-Romanha, uma região mundialmente famosa por seu renomado presunto de Parma.

    O impacto do surto de peste suína vai além. Os agricultores na área de 23 km² também enfrentam restrições devido a javalis infectados ou por estarem em uma zona de contenção. A doença, que é quase sempre fatal para os suínos, inicialmente infectou javalis e rapidamente se espalhou para porcos domésticos. Ela não afeta humanos.

    Alerta

    A Coldiretti, o poderoso grupo de lobby agrícola da Itália, estima que os danos à indústria até agora somam € 500 milhões (R$ 3 bilhões), em parte devido às proibições de importação, e alerta que alguns agricultores correm o risco de perder seus meios de subsistência.

    “A propagação da peste suína atingiu níveis alarmantes, colocando em risco não apenas a saúde dos animais, mas todo o setor da suinocultura”, alertou o presidente da Confindustria, Ettore Prandini, em uma recente carta ao Ministério da Agricultura.

    O governo nomeou um novo comissário especial para enfrentar a epidemia no verão, escolhendo Giovanni Filippini, veterinário treinado e ex-diretor da autoridade de saúde animal da Itália, que erradicou a peste suína da ilha da Sardenha.

    Dois comissários anteriores concentraram esforços no envio do Exército para caçar javalis, enfrentando resistência de caçadores esportivos e da União Europeia, que destacou que a caça poderia espalhar animais infectados para novas áreas. Em vez disso, Filippini impôs novas restrições ao acesso às fazendas e à movimentação de animais, e ampliou as zonas de contenção, medidas que parecem estar surtindo efeito. Na Lombardia, apenas um novo surto foi relatado durante a última semana completa de setembro.

    “É um sinal positivo, mas ainda não é uma vitória”, disse Giovanni Loris Alborali, diretor do Instituto de Saúde Animal da Lombardia e da Emília-Romanha. “Devemos manter altos os padrões sanitários e isso ajudará a saúde dos animais com melhores taxas de crescimento para os agricultores e menos antibióticos para os consumidores no futuro.”

    Prejuízos

    Assim que a peste suína foi confirmada na Itália, 12 países, incluindo China, Taiwan e México, impuseram uma proibição imediata à importação de iguarias suínas italianas, como o presunto cru, independentemente de terem sido produzidas em uma área onde a peste suína foi detectada ou não. Japão, Coreia do Sul e outros quatro países limitaram as importações.

    Isso causou uma perda imediata de € 20 milhões (R$ 121,3 milhões) por mês em exportações para um setor que registrou € 2,1 bilhões (R$ 12,7 bilhões) em vendas no ano passado, segundo a Assica, a associação das indústrias de carne da Itália. Mercados como os Estados Unidos e o Canadá não pararam de importar produtos suínos, desde que viessem de áreas não afetadas pela peste suína.

    Airoli, que produz presunto tanto para o San Daniele quanto para o Parma, como muitos outros agricultores, não espera retomar seu negócio de criação de cerca de 13 mil porcos por ano até que a peste suína seja controlada. E não há indicação de quando isso pode acontecer, impactando a produção de presunto da Itália.

    “A disponibilidade limitada de pernas de porco frescas está gerando fortes limitações na produção”, segundo um comunicado do Consórcio do Presunto de Parma, que produz presunto com certificado de origem projetado para proteger alimentos de alta qualidade feitos por métodos tradicionais.

    Sergio Visini, que dirige a fazenda Piggly, livre de antibióticos, na província de Mantova, na Lombardia, exige que os caminhões que transportam porcos sejam higienizados uma segunda vez quando entram na zona estéril onde os porcos são mantidos.

    “Fazemos outra esterilização detalhada de todas as rodas e qualquer parte do caminhão que possa trazer contaminação”, disse Visini, que abriu a fazenda em 2017 com o objetivo de criar porcos com menos estresse e mais espaço. Ele espera que mais agricultores adotem seus métodos. “Este surto também pode se transformar em uma oportunidade para melhorar a saúde e o bem-estar dos animais”, disse.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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