• Dólar fecha com forte queda, a R$ 5,4628, após anúncio de estímulos na China

  • 24/set 17:45
    Por Antonio Perez / Estadão

    Após dois pregões consecutivos de alta, o dólar apresentou queda firme no mercado local e voltou a fechar abaixo do nível técnico de R$ 5,50, alinhado ao movimento de baixa da moeda norte-americana no exterior. O real ganhou tração com o avanço das commodities, em especial do minério de ferro, após o anúncio de estímulos financeiros massivos na China.

    Divulgada pela manhã, a ata do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada não trouxe mudanças significativas em relação ao tom do comunicado em que o comitê anunciou elevação da taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, para 10,75%. A avaliação predominante entre os analistas é a de que o Copom evitou dar sinais explícitos tanto sobre o ritmo de alta dos juros quanto em relação à magnitude do ciclo de aperto monetário.

    Em baixa desde a abertura, o dólar furou o piso de R$ 5,50 ainda na primeira hora de negócios e registrou mínima a R$ 5,4470 no fim da manhã.

    Com leve moderação das perdas ao longo da tarde, a moeda americana encerrou a sessão desta terça-feira, 24, em queda de 1,31%, cotado a R$ 5,4628.

    O real exibiu, ao lado do peso chileno, o melhor desempenho entre as divisas emergentes e de exportadores de commodities mais relevantes. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o índice DXY operou em queda, com mínima abaixo dos 100,400 à tarde, em meio ao aumento de apostas em novo corte dos juros em 50 pontos-base pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

    “Estamos vendo hoje uma melhora no apetite por todas as moedas emergentes com as medidas fortes na China. Como tinha subindo ontem e na sexta-feira e é a moeda mais líquida, o real se valoriza bastante hoje”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.

    A China anunciou o pacote mais agressivo de estímulo à atividade desde a pandemia da covid-19. O banco central da China cortou a taxa de depósito compulsório em 50 pontos-base, o que deve liberar mais de 1 trilhão de yuans (US$ 142 bilhões) no sistema financeiro. Outras reduções do compulsório estão no radar. Também houve diminuição das taxas de hipotecas para aquisição de segunda residência.

    Foi a senha para uma valorização expressiva das cotações do minério de ferro, cujos contratos futuros subiram mais de 4% na Bolsa de Dailan, na China. Por aqui, as ações da Vale apresentaram ganhos de quase 5%, contribuindo para valorização de mais de 1% do Ibovespa. Os preços do petróleo também avançaram, embora de forma mais modesta. O contrato do Brent para dezembro fechou em alta de 1,72%, a US$ 74,47 o barril.

    Analistas observam que uma recuperação dos preços das commodities, aliada ao aumento do diferencial entre juros interno e externo, pode dar fôlego extra ao real. Não se descarta a possibilidade tanto de que o Fed volte a cortar os juros sem 50 pontos-base quanto de o Copom acelerar o ritmo de alta da taxa Selic.

    Em sua ata, o comitê afirmou que o ciclo de aperto será ditado pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta”, mas ponderou que os próximos passos dependem “da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária”.

    “Ficou bem claro que não foi dado ‘forward guidance’ e que estão em aberto o ritmo de ajustes futuros e o tamanho total do ciclo de elevação dos juros”, afirma o estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein, que mantém, por ora, projeção de três altas seguidas da Selic em 0,25 ponto porcentual, para 11,50% em janeiro de 2025. “Reconhecemos que aumentou a possibilidade de um ciclo mais intenso, em particular se a trajetória do real não contribui para o processo de desinflação”.

    Em evento do Banco Safra, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou a opção por não dar um guidance para a política monetária e disse que parece ter “havido um exagero” nos prêmios de riscos embutidos nos ativos domésticos em razão da questão fiscal, dado o que foi feito na área pelo governo.

    “O dólar apresentou uma forte desvalorização hoje acompanhando o movimento da moeda em relação a outras divisas. Mas a volatilidade tende a persistir, dado que as incertezas fiscais continuam a influenciar o mercado”, afirma o analista de câmbio Bruno Nascimento, da B&T Câmbio.

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