• As padarias e suas multifunções

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  • 06/08/2019 10:00

    Os espaços mais democráticos das manhãs são as padarias. E, não importando se ficam nos bairros ou nas ruas nobres e históricas da cidade, todas têm em comum o encanto necessário da gentileza coletiva. 

    O bom dia nas padarias é uníssono e pertence a todos os clientes, assim como o pão francês na manteiga e o café com leite nos copos americanos. Nessa hora, não importa muito quem conta os níqueis de cobre com a desculpa de acabar com os trocados ou se a conta será paga com cartão de crédito ilimitado. Esse prazer todo mundo pode pagar. 

    Há quem deixe em casa a mesa posta ao estilo hotel mineiro, simplesmente para caminhar até a padaria mais próxima e se debruçar no balcão, degustando um pretinho básico. É que esses seres já compreenderam que padarias são como templos, escritórios ou divãs, dependendo da necessidade particular de cada um. 

    Em Petrópolis, arranjos políticos, negócios de imóveis e outros investimentos, são comumente iniciados nas padarias dos bairros nobres ou do Centro Histórico. Do Valparaiso a Correas, da 16 de Março até a Posse, é sob o aroma do pão quentinho que as notícias mais quentes reverberam e os profissionais da fofoca multiplicam informações.  

    Quando transito minha pressa pelas ruas das vias principais, já procuro  os rostos tão usuais nessa paisagem. No centro da cidade, alguns marcam ponto e fazem plantão.

    Mas é no calor  das padarias dos bairros, naquela ida matinal para buscar “meia dúzia de francês”, que amizades se consolidam ou se rompem por causa do futebol da noite anterior.  É no calor das padarias dos bairros que os ânimos são acalmados e casamentos são mantidos no aconselhamento amigo do colega de balcão e de encontro diário na mesma hora do dia. 

    Há muita poesia nos cafés de padaria!  Não sei se em todos os lugares, mas nos estabelecimentos tradicionais de Petrópolis, existe. É que para acordar bem, além de café forte e quente,  precisamos de uma dose caprichada de vida. E isso é comum nas conversas com estranhos, nos sorrisos depositados nos olhos de quem nunca se viu, na cumplicidade de afeto que existe em quem se vê todo dia, mas jamais trocou um dedo de prosa. 

    Ah, as padarias! Quantas crônicas minhas, quantas conversas sobre literatura e cultura já escrevi e iniciei em seus espaços. Quanto eu amo essa oportunidade! 

    Podem abrir cem novos cafés gourmets, jamais vão substituir sua magia.

    Se um dia os petropolitanos entenderem a importância das padarias e fizerem desse templo uma rotina, uma coisa eu garanto: vão parar de abrir farmácia na cidade!

    Até a próxima, vou à padaria tomar meu café! 

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