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  • 15/set 08:00
    Por Ataualpa A.P. Filho

    – A vida tem preço? Qual o valor que damos à nossa própria existência?

    Quando chega ao nosso conhecimento a notícia sobre uma pessoa que agiu de forma letal contra a própria vida, logo vem um porquê em busca de explicações diante uma profunda dor.

    O dia 10 de setembro passou a ser dedicado à reflexão sobre atos suicidas. É considerado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, oficializado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A campanha do Laço Amarelo (Yellow Ribbon) é de suma importância, principalmente perante os dados registrados pela Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgados pelo Ministério da Saúde, que apontou um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de jovens de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil, entre 2016 e 2021. No Brasil, há uma estimativa de 14 mil casos por ano. Isso significa que aproximadamente 38 pessoas cometem suicídio por dia. Fato este que demonstra a gravidade do problema. E a maioria dos casos está relacionada a transtornos mentais. Depressões, transtornos bipolares, abuso de substâncias químicas estão entre as principais causas…

    Diante desses dados, volto a afirmar que a luta pela sobrevivência não se restringe à conquista do pão de cada dia. Há outro item imprescindível: o amor.

    “Nem só de pão vive o homem”. Ninguém é feliz sem amar e ser amado. O alimento é indispensável, porém não é o suficiente para a manutenção da integridade do ser humano em sociedade.

    Viver só para o estômago é animalizar-se. Viver pela vaidade é futilizar-se. Viver para servir consiste em optar pela possibilidade de sentir-se útil, porque se trata da oportunidade de dar sentido ao viver. A tão almejada felicidade não se dissocia do ato de amar e servir.

    A paz entre os homens é um desejo universal. Mas, primeiramente, é preciso que haja paz dentro deles. Manter a paz interior é uma vitória. Não vencer a luta travada dentro de si é a pior derrota. Não se suportar é um dilema que pode provocar um conflito interior com consequências drásticas. Por isso é fundamental respeitar as aflições que cada um traz dentro de si. Sem conhecê-las, sem saber a dimensão delas, qualquer julgamento que se faça sobre as reações das pessoas diante de seus problemas será impreciso. Portanto não se deve tratar o suicídio com um ato de covardia.

    “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Esse ditado popular, Machado de Assis o expressou de uma forma mais sutil em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”: “Suporta-se com paciência a cólica dos outros”. A dor do outro não pode ser mensurada pela escala que usamos para medir as nossas. É preciso entender que cada pessoa tem um modo de agir e reagir diante dos problemas. Por isso sempre tive dificuldade de tecer comentários sobre casos de suicídio. Há uma complexidade que requer conhecimento técnico para abordá-lo.

    Os meus conhecimentos de psicanálise e psiquiatria são parcos. Mas, atrevo-me a afirmar que o desequilíbrio psíquico não está dissociado do afetivo, por isso que vejo o amor como parte da solução desse problema. A meu ver, a tão falada autoestima tende a crescer quando nos sentimos úteis, quando nos permitimos amar e ser amado, quando não transferimos o eixo da nossa vida para os bens materiais. Acredito que, nos casos de suicídio, a pressão interna seja maior do que a pressão externa. A cobrança interior, o grau de exigência sobre si, o não se perdoar criam um sistema de autopunição que traz a noção de fracasso.

    Para que a morte seja vista como um alívio, é preciso que o viver seja uma tortura.  Esse é um dos pontos mais evidenciados nas cartas de despedidas: a busca da vida sem sofrimento em outra dimensão. Por essa razão, não se deve subestimar a dor do outro. Nessa hora, as atenções de familiares e amigos são necessárias. A identificação do problema ajuda na condução do tratamento com profissionais especializados.

    Quando alguém se encontra em estágio depressivo; críticas, indiferenças, ironias não ajudam em nada. As frequentes piadinhas com remédios de tarjas controladas banalizam um problema sério, além de ridicularizar situações depressivas. Não vejo graça nisso.

    É preciso desarmar mentes e corações. As armas de fogo apenas materializam o que cada um carrega dentro de si. A natureza humana é da paz.  As amizades, os laços de família, os gestos fraternos, os momentos de lazer somam, ajudam a quebrar o gelo da solidão com o calor humano. O carinho é uma forte arma contra o suicídio.

    – Ligue para os amigos.

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