Em dia de deflação no IPCA, dólar sobe e volta a superar R$ 5,65 com tombo do petróleo
O dólar acentuou os ganhos ao longo da tarde no mercado doméstico e fechou a terça-feira, 10, acima da linha de R$ 5,65 pela primeira vez desde o início de agosto. O mercado de câmbio local refletiu o aumento da aversão ao risco no exterior e o tombo do petróleo, na esteira de dados fracos da China e da redução da previsão de demanda pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O real liderou as perdas entre divisas emergentes, seguido de perto pelos pesos colombiano e mexicano, em meio a um provável desmonte de operações de carry trade desencadeado pela valorização do iene.
A deflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em agosto – a queda de 0,02% registrada foi o resultado mais baixo desde junho de 2023, quando o indicador recuou 0,08% – não trouxe alterações nas expectativas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) embarque em um ciclo gradual de aperto monetário na próxima semana. Lá fora, investidores aguardam a leitura da inflação ao consumidor nos EUA na quarta-feira para calibrar as aposta em torno do primeiro corte de juros pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano.
Analistas afirmam que a combinação de alta da taxa Selic e redução dos juros nos EUA pode abrir espaço para um recuo do dólar, mas ressaltam que um movimento mais consistente de apreciação do real ainda esbarra nos prêmios de risco associados ao quadro fiscal doméstico. Há dúvidas se o governo vai dar andamento à agenda econômica no Congresso em meio às eleições municipais e ao imbróglio jurídico em torno das emendas parlamentares.
Com máxima a R$ 5,6720, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 1,32%, cotado a R$ 5,6553 – maior valor de fechamento desde 6 de agosto. Após a disparada desta terça, a moeda passou a acumular leve alta (0,36%) nos sete primeiros pregões de outubro. No ano, o dólar apresenta valorização de 16,52% em relação ao real.
Na visão do head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, além de eventual desmonte de carry trade, o real sofreu com o mau humor em relação às perspectivas fiscais para o Brasil e a queda dos preços das commodities, em especial o mergulho das cotações do petróleo.
O tesoureiro observa que o calendário de indicadores americanos nos próximos dias é pesado, o que traz um clima maior de cautela ao mercado. “O melhor para o real seria que os próximos números de inflação e atividade nos EUA saiam em linha com as expectativas, com um cenário de soft landing”, afirma Weigt.
Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes – teve ligeira alta e operava no fim do dia na casa dos 101,600 pontos, graças ao avanço do dólar ante o euro. A moeda americana recuava quase 0,60% na comparação ao iene. As taxas dos Treasuries caíram em bloco com aumento da aversão ao risco após o vice-presidente do Federal Reserve, Michael Barr, anunciar propostas de regulamentação bancária, com novas exigências de capital.
O sócio da Astra Capital Guilherme Suzuki vê a taxa de câmbio muito influenciada por questões externas no curto prazo, como a queda das commodities, com a China “exportando deflação”, e as perspectivas em torno da condução da política monetária americana.
“O mercado está apreensivo com a precificação do corte de juros nos EUA, que vai depender muito de como vai vir a inflação americana amanhã”, afirma Suzuki, acrescentando que há temores relacionados a possível recessão nos EUA e ao arrefecimento da atividade na China.
Dados da balança comercial da segunda maior economia do mundo divulgados no início da madrugada mostram que as importações chinesas cresceram 0,5% em agosto na comparação anual, resultado bem abaixo da previsão dos analistas, de 1,9%.
“Temos riscos ainda grandes de o dólar se manter em patamares elevados principalmente por conta dessa dinâmica de menor crescimento da economia global. Esse movimento de alta do dólar pode ser intensificado por nossa questão fiscal”, afirma Suzuki.