• Jornalista petropolitana analisa convívio entre animais e homens em livro

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  • 26/07/2019 16:35

    Uma onça-parda em cima de uma árvore no quintal de uma residência, um lobo-guará disputando espaço com veículos em uma rodovia. Episódios recentes que aconteceram em Petrópolis, mas que mostram um cenário cada vez mais frequente em várias cidades no país. Para entender esse fenômeno do aparecimento de animais silvestres em áreas urbanas, a pesquisadora e jornalista Eveline Teixeira Baptistella lança o livro “Animais e Fronteiras: um estudo sobre as relações entre animais humanos e não humanos”.

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    Por quatro anos, Eveline observou e estudou a relação entre animais humanos e não humanos na cidade de Cuiabá, no Mato Grosso. A partir disso percebeu que o surgimento de animais silvestres em centros urbanos têm sido cada vez mais comum. A chamada auto-domesticação tem feito com que os silvestres percam o medo do homem e se adaptem a viver no meio urbano. 

    Foto: Divulgação

    A pesquisadora é petropolitana, mas há pelo menos 17 anos, mora no Mato Grosso. A vivência no pantanal fez com que se aproximasse ainda mais da relação com os animais de um modo geral. No estudo Eveline traz a preocupação ecológica da aproximação destes animais com os seres humanos e também um olhar atento a capacidade de adaptação e sua inteligência para sobreviver em um novo habitat. 

    “Minha pesquisa foca na questão cultural e nas formas como os humanos se relacionam com os outros animais. O que percebemos foi que as pessoas se encantam com a presença destes bichos, tiram muitas fotos, fazem vídeos, mas ignoram os problemas que os levaram até ali. Fora o sofrimento vivido por um animal que precisa se adaptar a algo totalmente fora dos seus padrões, como, por exemplo, o caso do tamanduá bandeira que foi filmado na avenida Miguel Sutil (Cuiabá). Imagine, como este animal vive e o que precisa passar para se manter”, disse. 

    Durante a pesquisa, Eveline encontrou casos inusitados, como o de um jacaré que vive numa tubulação de águas fluviais e toma sol no estacionamento de uma grande instituição, e o casal de tucanos que construiu seu ninho na caixa d'água de um prédio público. “Entre as entrevistas e a observação, também mapeamos ocorrência de araras Canindé e vermelha, tuiuiús, capivaras, jacaré paguá, cervos, iguanas, macacos, lobinhos e jiboias”. 

    O desmatamento e a expansão imobiliária são alguns dos fatores apontados pela pesquisadora como as causadoras dessa migração das espécies. Por diversas vezes com a escassez de alimento na mata, estes animais vem para as zonas urbanas em busca da sobrevivência. E quando tentam retornar para a origem já não conseguem, não encontram mais o habitat. 

    Além disso, o livro também discute outros tipos de relações entre seres humanos e os demais animais, como o afeto, trabalho, a violência e o abandono, bem como a questão da proteção animais. Nos casos dos pets, a autora relata casos de abandono, maus-tratos, e lutas para garantir na justiça alguns direitos dos animais. 

    “O tratamento dispensado aos animais ainda é bastante assimétrico. Encontrei tanto cães vivendo no luxo, com direito à festa de aniversário, enquanto outros se encontravam em situação de maus tratos nas ruas. O diferencial em todos os casos é o afeto dos humanos. Isso vale até para os silvestres. Animais que conquistam o carinho e a atenção de um humano encontram condições de vida melhores”, conclui. 

    A autora

    Eveline é jornalista, professora e pesquisadora na Universidade do Estado de Mato Grosso, onde coordena o projeto de pesquisa “Estudos Animais e Mídia”. E é uma das coordenadoras do projeto da escala sociozoológica em Mato Grosso. 




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