Projeto de capoeira promove inclusão de deficientes
A capoeira é uma expressão da cultural nacional que mistura arte marcial com cultura popular e música. Os golpes rasteiros como chutes, joelhadas e acrobacias aéreas foram incorporados à musicalidade por descendentes de escravos africanos nos séculos passados. Essa expressão é conhecida por estimular a formação de cidadania, ensinar conceitos básicos de valores, educação, respeito, disciplina, e agora está sendo voltada para a inclusão de um público que sofre com o preconceito social: os portadores de necessidades especiais e moradores de comunidade.
O primeiro passo para integrar esses públicos na sociedade é dar a eles a sensação de inserção, de fazer parte do meio social em que vivem. Para isso, o petropolitano Evandro de Souza, de 45 anos, que dedica sua vida à capoeira. O professor, conhecido como “Evandro Fumacinha”, buscou aperfeiçoamento em outras cidades para tratar especificamente de capoeira com deficientes. “Quando se fala de capoeira se fala em inclusão, inserção, integração social e disciplina. A partir dessa reflexão, e da percepção eu comecei a sentir a necessidade de incluir esse público (dos deficientes) na roda de capoeira”, explicou.
Fumacinha, como é chamado por seus alunos, com 30 anos de capoeira começou o seu projeto de inclusão com apenas 15 alunos. “Me especializei, fiz cursos até fora da cidade, e comecei a acompanhar projetos sociais com capoeira para ver como funcionava, para que eu pudesse implantar aqui na cidade. Então comecei com 15 pessoas, e essa participação foi aumentando cada vez mais, à medida que eles iam se interessando pelo projeto. O nosso objetivo é sempre o mesmo: dentro da disciplina levar alegria a todos eles. Tirá-los da cadeira de rodas e colocá-los no tatame, mostrando que eles podem jogar capoeira e que são pessoas como outras quaisquer.”, revelou.
Evandro hoje conta com 250 alunos em quatro projetos diferentes em Petrópolis e São José do Vale do Rio Preto. “Tenho um projeto para crianças carentes da comunidade do Contorno, no Bingen. Lá são 45 crianças que podem ter a oportunidade de jogar capoeira durante dois dias na semana”, disse. O projeto chamado “Aldeia da Criança”, funciona por intermediação de uma organização não governamental alemã. Além disso, Evandro se empenha em uma atividade semanal no projeto C3, que fica no bairro Valparaíso, onde dezenas de crianças são beneficiadas, e também em escolas particulares, como o Centro Educacional Maurício Barroso (Cemb) e o Colégio Ipiranga, que têm atividades uma vez por semana com o mestre. “A gente trabalha bastante. São onze locais diferentes, mas o objetivo é um só: a capoeira” contou.
O emprenho e a dedicação de Evandro ganharam destaque e o seu trabalho se tornou tema de um documentário produzido por uma emissora de TV a nível nacional com exibição para outros 10 países da América Latina. “Essa divulgação do documentário foi uma oportunidade muito boa para que eu pudesse expor o meu trabalho e mostrar minha dedicação, incentivando outras pessoas a fazer o mesmo pela inclusão e pelas crianças de comunidade. Porque todos são iguais”, completou Fumacinha, que foi premiado pelo Lions Clube do Rio de Janeiro, na última segunda-feira (23). O petropolitano foi procurado até por instituições norte-americanas, que pretendem estudar a metodologia de suas aulas para uma possível aplicação nos Estados Unidos. O projeto Capoeira Especial funciona na Escola Santos Dumont, na rua Sete de Abril; na Escola Paulo Freire, no centro, e também no Centro de Referência à Pessoa Com Deficiência, na Avenida Koeller. Além disso, o mestre dá aula para 50 crianças de comunidades da cidade vizinha, São José do Vale do Rio Preto.