• Mesmo com leve alta nas duas últimas sessões, minério deve demorar a se recuperar

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  • 21/ago 09:53
    Por Beatriz Capirazi, Júlia Pestana e Jorge Barbosa* / Estadão

    Após atingir na semana passada o menor patamar desde novembro de 2022, o preço do minério de ferro voltou a subir nesta semana, impulsionado pelos preços do aço na China, principal mercado consumidor da commodity. Mesmo com a recuperação dos últimos dois dias, analistas ouvidos pelo Broadcast apontam que dúvidas sobre a demanda e a falta de estímulos vigorosos no mercado chinês devem limitar uma recuperação mais expressiva ao longo do ano.

    No mercado futuro da Dalian Commodity Exchange, o contrato mais negociado do minério de ferro para janeiro de 2025 fechou nesta quarta, 21, com alta de 1,21%, a US$ 99,5. Na Bolsa de Cingapura, o minério de referência de setembro teve alta de 0,92%, fechando a US$ 95,50. Já em Qingdao, a commodity registrou uma alta de 0,25%, a US$ 94,71.

    Apesar da alta nesta semana, analistas ouvidos pelo Broadcast duvidam da sustentabilidade do movimento de recuperação no curto prazo, considerando que os fatores fundamentalistas que levaram a queda na semana anterior seguem no radar do mercado, com a falta de estímulo fiscal na China também pesando negativamente sobre as perspectivas de demanda nos próximos meses.

    O Citi avalia que a alta desta semana acontece em meio a um maior esforço das mineradoras por reajustes e redução de descontos, mas o movimento deve ter efeito limitado e os preços podem cair ainda mais nos próximos meses. Em seguida, haverá uma nova recuperação impulsionada pelo reabastecimento das siderúrgicas, o que deve acontecer no início de 2025.

    O banco entende que a China provavelmente não implementará políticas de flexibilização importantes para apoiar o setor imobiliário, o que pesará na demanda pela commodity. “A China está em transição para uma economia liderada por ‘novas forças produtivas’ que requerem menos aço”, dizem os analistas do Citi.

    A gerente sênior para metais da S&P Global Commodity Insights, Adriana Carvalho, destaca que a alta dos dois últimos dias foi também impulsionada pela recuperação nos preços do vergalhão. “A alta nos preços do minério de ferro hoje pode ser atribuída simplesmente à recuperação nos preços do vergalhão, que dispararam devido aos estoques relativamente baixos”, avalia.

    Carvalho lembra que a confiança geral do mercado permanece baixa, o que deve fazer com que as compras continuem limitadas, somada ao fato de que a demanda de aço da China está em uma tendência estrutural de baixa no longo prazo. “Enquanto algumas usinas de aço de baixa eficiência não forem eliminadas do mercado, a rentabilidade da indústria não deverá melhorar”, aponta.

    Ela prevê que as importações de minério de ferro pelo país desacelerem no segundo semestre do ano, pois a produção de aço continuará sendo limitada até 2025 para se alinhar melhor com a demanda.

    O CEO da Tarraco Commodities, Gilberto Cardoso, menciona que a alta atual representa uma recuperação em relação à queda da semana anterior, motivada pelo mercado que busca aproveitar preços considerados baixos para repor estoques. “As importações permaneceram altas, indicando excesso de oferta”, afirmou.

    Tendência

    O analista de commodities da Genial Investimentos, Igor Guedes, prevê que as cotações da commodity devem registrar volatilidade, dada a sua dependência em relação à construção civil chinesa, que vive um momento de incertezas. Incentivos pontuais podem favorecer os preços, mas com impactos limitados na economia real devido às deficiências persistentes do setor. Para ele, os desafios enfrentados atualmente pelo mercado imobiliário mostram uma necessidade de reformulação, que pode levar de cinco a seis anos para ser executada.

    No segundo trimestre de 2024, houve aumento nos embarques de minério de ferro, decorrente da sazonalidade favorável no Brasil e do aumento de produção da Vale. Contudo, Guedes aponta que as mineradoras precisam reavaliar suas estratégias comerciais para evitar uma saturação no mercado siderúrgico, visto que o excesso de oferta prejudica uma potencial recuperação de preços.

    A expectativa de Guedes é que a cotação do minério de ferro deve ficar próxima da média de US$ 100, com uma projeção de fechamento anual em torno de US$ 95. Ele justificou que os valores não devem reduzir muito, devido ao impacto nos custos de produção das mineradoras menores. Por outro lado, não devem aumentar significativamente por conta dos desafios na construção civil na China. *Com informações da Dow Jones.

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