• Gramado 2024: Dira Paes faz boa estreia na direção com ‘Pasárgada’

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  • 15/ago 07:01
    Por Luiz Zanin Oricchio, especial para o Estadão / Estadão

    A estreia na direção da atriz Dira Paes agradou ao público do Palácio dos Festivais. Pasárgada, que toma emprestado talvez o poema mais conhecido de Manuel Bandeira, funciona em duas dobras, por assim dizer – a crise existencial de uma mulher e a defesa da natureza, sob a forma de denúncia do tráfico de animais silvestres. Aves, no caso.

    Irene (vivida pela própria Dira) é uma ornitóloga, na ocasião trabalhando em um paraíso da Mata Atlântica, na serra fluminense. Ela registra cantos e imagens de pássaros e está atrás de um espécime em particular, uma raridade. Que, por isso mesmo, torna-se valioso para colecionadores do exterior.

    Nota: como explica um cartaz do filme, o tráfico de animais silvestres é o terceiro maior no mundo, perdendo apenas para o de drogas e o de armas. Informação perturbadora quando se pensa que esta é uma das maneiras mais cruéis de depredar a natureza, tirando os animais do seu hábitat e vendendo-os por uma fortuna para colecionadores.

    Mas a proposta de Pasárgada põe em cena não apenas a narração desse problema; ela propõe, especialmente, uma experiência imersiva ao espectador. É como se o desenho sonoro e fotográfico, a cadência lenta e espaçada de planos- sequência muito bem desenhados, obrigasse o público a uma experiência com a qual ele não está acostumado. Vai na contramão das narrativas chapadas do streaming e mesmo da velocidade, com planos picotados, da maior parte do cinema contemporâneo. É quase um filme zen.

    BUSCA

    Irene é essa personagem em crise. Ela contrata um mateiro para acompanhá-la nas caminhadas pela floresta. Primeiro, o veterano Ciça, que, por algum motivo, não comparece ao encontro marcado. Ele próprio indica um substituto, o jovem Manuel (Humberto Carrão), que passa a acompanhar a ornitóloga.

    Enquanto realiza seu trabalho, Irene busca em si mesma o significado de tudo aquilo. Conversa por skype com a irmã (Cássia Kis) e com um receptador europeu (Peter Ketnath). São conversas significativas para o desenho da personagem, do seu passado e do seu presente.

    O interessante é que as questões embutidas na história (culpa, desejo sexual, busca de identidade) surgem mais da matéria cinematográfica – imagens e sons – do que de diálogos explicativos. Nota-se um processo de enxugamento do roteiro, que se torna mais lacônico, em proveito de espaços vazios para serem preenchidos pelos espectadores.

    Pasárgada é uma ótima estreia, como diretora, dessa grande atriz, que sempre trabalhou em produções arriscadas, em filmes como Amarelo Manga, Divino Amor, A Festa da Menina Morta, etc, e leva essa experiência para o trabalho de realização. A fotografia, deslumbrante, é de Pablo Baião, marido de Dira Paes.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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