• Lula sugere uma nova eleição para superar crise política na Venezuela

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  • 14/ago 07:02
    Por Caio Spechoto e Sofia Aguiar / Estadão

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem falado em promover uma espécie de segundo turno na Venezuela para resolver a disputa entre o ditador Nicolás Maduro e a oposição. Até o momento, a ideia não foi mencionada publicamente. O Estadão/Broadcast apurou que o presidente já fez comentários sobre isso com ministros do governo.

    A hipótese de uma nova eleição vem sendo vendida como uma espécie de “segundo turno”, somente entre Maduro e o opositor Edmundo González Urrutia. O jornal Valor Econômico noticiou que o ex-chanceler Celso Amorim fez a sugestão a Lula e o presidente a teria levado para uma reunião ministerial, na semana passada.

    No fim de semana, María Corina Machado, maior aliada de Urrutia, jogou um balde de água fria na proposta. “De onde tiraram essa ideia de uma nova eleição? Aqui já houve uma”, disse. “A eleição foi sob os termos do regime, com uma campanha desigual. E nós ganhamos. A única saída é fazer Maduro entender que sua melhor opção é uma saída negociada.”

    O impasse vem desde a eleição de 28 de julho. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), dominado pelo governo, declarou Maduro vencedor, mas não mostrou as atas das urnas e ninguém sabe de onde vieram os seus votos. A oposição afirma que houve fraude e seu candidato, Edmundo González Urrutia, teria sido eleito.

    Urrutia e María Corina tiveram acesso a mais de 80% das atas de votação. Os dados foram examinados por agências de monitoramento eleitoral e jornais independentes, que atestaram a vitória da oposição. Foi o suficiente para convencer os EUA a reconhecerem Urrutia como vencedor – outros países, como Argentina, Equador e Peru, também fizeram o mesmo.

    AJUDA

    Brasil, Colômbia e México, no entanto, optaram por não condenar o resultado e pediram que o chavismo mostrasse as atas – embora sem prazo definido. Com a cautela, o governo brasileiro estaria buscando uma saída diplomática para o impasse político.

    Maduro prometeu divulgar as atas de votação, o que não teria sido feito antes, segundo ele, porque o CNE estava sofrendo “ciberataques”. Enquanto isso, ele entrou com uma ação no Tribunal Superior de Justiça (TSJ), também controlado por ele, para ser certificado como presidente eleito e intensificou a repressão aos protestos da oposição.

    Desde o dia 28 de julho, 24 pessoas morreram e mais de 2 mil foram presas. Segundo Maduro, os detidos serão enviados para dois presídios de segurança máxima que seriam construídos especialmente para a ocasião. Maduro pediu e a Procuradoria-Geral abriu uma investigação penal contra Urrutia e María Corina por “instigação à insurreição” e “conspiração”. Ambos rejeitaram ofertas de asilo político e mergulharam na clandestinidade.

    TRANSPARÊNCIA

    Supondo que Maduro entregue as atas de votação, o que parece cada vez mais improvável, a maior dificuldade seria montar uma apuração independente, o que deixa o Brasil insistindo em uma posição frágil. Diplomatas franceses e americanos, consultados pelo Estadão, fazem ressalvas à ideia brasileira de que o processo deve ser feito pelos venezuelanos.

    Quem conhece a realidade em Caracas sabe que é impossível obter dados detalhados e transparentes das instituições venezuelanas, todas completamente subservientes a Maduro. Por isso, EUA e União Europeia pedem que a recontagem seja feita por comissões independentes de fora da Venezuela. (COLABOROU FELIPE FRAZÃO)

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