• Dólar cai 1,06% e encerra a semana com desvalorização de 3,40%

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  • 09/ago 17:57
    Por Antonio Perez / Estadão

    Uma nova rodada de queda da moeda no exterior, em dia de agenda esvaziada, e a boa receptividade ao discurso duro do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, ontem à noite, derrubaram o dólar no mercado doméstico na sessão desta sexta-feira, 9.

    A leitura acima do esperado do IPCA de julho poderia ter abalado a recuperação recente do real, que se beneficiou nos últimos dias da volta do apetite por divisas emergentes. Mas a conjunção da ata do Copom, divulgada na terça-feira, 6, com a fala de Galípolo ontem diminuiu a percepção de risco associada à condução da política monetária, dando suporte à moeda brasileira.

    Pela manhã, o dólar registrou mínima (R$ 5,4922) abaixo do piso técnico e psicológico de R$ 5,50. No fim do dia, a moeda recuava 1,06%, cotada a R$ 5,5152 – menor valor de fechamento desde 17 de julho. Foi o quarto pregão consecutivo de baixa do dólar, que terminou a semana com desvalorização de 3,40% – maior recuo semanal desde a semana encerrada em 31 de março de 2023.

    O real exibiu o melhor desempenho entre as principais moedas globais no acumulado dos últimos cinco dias. Do momento mais agudo, na segunda-feira, 5, quando fechou a R$ 5,7414 (máxima a R$ 5,8656), até o fechamento de hoje, o dólar acumulou queda de 3,94% por aqui.

    O fortalecimento do real veio em meio a uma mudança de humor nos mercados internacionais. A abertura da semana foi de muita aversão ao risco. Temores de recessão nos EUA, após o relatório fraco do mercado de trabalho americano (payroll) divulgado na sexta-feira, 2, e a valorização do iene, depois de alta de juros no Japão, levaram a liquidação de posições em moedas emergentes.

    A maré virou com a safra de indicadores nos EUA, como índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços e pedidos de auxílio-desemprego, que desautorizou a tese de desaquecimento agudo da atividade. Houve também uma pausa no rali do iene após o vice-presidente do Banco do Japão (BoJ), Shinichi Uchida, afirmar que a instituição não vai aumentar os juros enquanto os mercados estiverem instáveis.

    O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, afirma que o mercado cambial parece tecnicamente mais equilibrado, dado que a onda mais forte de desmonte de operações com carry trade, deflagrada pela valorização recente do iene, pode ter ficado para trás.

    “Essa história do desmonte do carry trade talvez comece a pesar menos para o câmbio. Provavelmente, voltamos a um cenário mais próximo da normalidade, com as moedas emergentes e o real respondendo a corte de juros pelo Federal Reserve nos próximos meses”, afirma Costa, que trabalha com um cenário de “pouso suave” da economia americana.

    Com agenda esvaziada hoje no exterior, as atenções se voltaram aos números de inflação no Brasil. O IPCA acelerou de 0,21% em junho para 0,38% em julho, acima da mediana de Projeções Broadcast (0,35%). O índice acumulado em 12 meses passou de 4,23% até junho para 4,50% até julho. Embora o índice de difusão tenha recuado, mostrando inflação menos espalhada, houve aumento dos serviços subjacentes, uma das principais preocupações pelo BC.

    Após o Copom afirmar em sua ata que não “hesitará” em elevar a taxa Selic se necessário, Gabriel Galípolo, nome mais cotado a substituir Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central, reforçou ontem à noite a busca pela meta da inflação. Mais: disse que não faz sentido pensar que integrantes do Copom indicados pelo governo Lula, crítico da gestão da política monetária, não possam subir os juros.

    Para Costa, da Monte Bravo, a percepção é a de que houve uma coordenação melhor do governo do ponto de vista do discurso na política fiscal ao mesmo tempo em que o Banco Central busca passar a ideia de unidade em torno da busca da meta de inflação.

    “Galípolo reforçou a ideia de união entre os integrantes do Copom que apareceu na ata. Isso contribuiu para o bom desempenho do real”, diz Costa, que trabalha com um retorno do dólar para a faixa entre R$ 5,30 e R$ 5,40, caso não haja picos de estresse no exterior. “Aqui, o desafio continua sendo o fiscal, com a busca da meta de 2024 e a redução de despesas para 2025”.

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