• O poder do solilóquio

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  • 07/07/2019 08:00

    – Olha aquele cara ali encostado no poste falando sozinho. O outro: – Deve estar gagá. O primeiro:– Não, ele está falando consigo mesmo e, talvez, com o seu cérebro. Do latim soliloquium, um solilóquio é uma reflexão que se realiza em voz alta e, regra geral, de forma solitária. O solilóquio é um tipo de discurso que está associado ao monólogo, no entanto, é fundamental traçar as diferenças entre ambos os conceitos.

    No monólogo, o personagem se dirige ao espectador ou leitor; no solilóquio, o enunciador dialoga consigo mesmo, falando em voz alta o que se passa em sua consciência. Existe também diferença do monólogo interior, caso em que as expressões orais se passam no subconsciente do protagonista, ocorrendo a estruturação e emissão de emoções e pensamentos de uma maneira ilógica, sem qualquer coerência. 

    Os monólogos e solilóquios também têm uma característica em comum: os pensamentos e sentimentos partem de um único ser, não existindo um diálogo entre interlocutores, mas sim um personagem que expõe – em uma tarefa solitária – as suas ideias e sentimentos. O solilóquio é um discurso ininterrompido (isto é, que não incita nem permite que um interlocutor participe ou responda) que transmite pensamentos ou emoções. 

    Trata-se de uma declamação subjectiva e de valor psicológico, pois permite aceder ao interior do sujeito em questão. Apesar das suas características, o solilóquio pode encobrir um diálogo que a pessoa mantém consigo mesma, com um objecto ou com um ser incapaz de falar (como uma planta ou um animal). Este recurso permite que o sujeito exteriorize os seus sentimentos mesmo que esteja sozinho. Um dos solilóquios mais famosos da história é aquele que escreveu William Shakespeare para a sua obra “Hamlet”, onde o personagem principal pega numa caveira e exclama: “Ser ou não ser, eis a questão. Para a alma, O que é mais nobre, suportar os dardos E as pedras da ultrajante sorte, ou contra Um mar de erros se erguer, aniquilando-o? Morrer, dormir, não mais. E com o sono, Dizem, a dor do coração findamos E as lutas mil que são da carne a herança. Qual mais buscado fim: Dormir, morrer. Dormir! Talvez sonhar…” 

    O solilóquio, por conseguinte, é um discurso que a pessoa mantém consigo mesma. Ao ser pronunciado em voz alta, o que teria sido um monólogo interior converte-se noutro tipo de expressão, muito útil para as representações teatrais. Na linguagem quotidiana, o solilóquio tem uma carga pejorativa, tendo em conta que está a ser associado à loucura ou à falta de vontade ou capacidade para a comunicação interpessoal: “Depois de um solilóquio de quase meia hora, o homem abandonou a sala e deixou os assistentes atônitos”. 

    A ciência, cada vez mais, confirma que as palavras dirigidas a própria pessoa pode ser uma forma de dialogo com o próprio cérebro que pode se deixar influenciar pelas mesmas. Não é raro que em processos de cura o terapeuta peça para o paciente ficar repetindo frases que facilitem o objetivo. Já escrevi vários artigos sobre o poder do cérebro que hoje está comprovado cientificamente. O livro “Com a vida de novo” foi lançado em Nova York e sua primeira edição é de 1978. 

    No livro, os autores mostram como nossa reação ao stress e outros fatores emocionais podem contribuir para o início e a progressão de uma doença e como expectativas positivas, consciência e cuidado consigo mesmos podem contribuir para o controle e até a sua cura. No Brasil, o método Simonton é aplicado pelo Centro Oncológico de Recuperação e Apoio, criado em São Paulo no ano de 1986. Então fale sozinho e deixe a opinião publica falar de você.

    achugueney@gmail.com

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