Ensino marcial e empolgante
Boa série documental da Netflix, a “Wildcats – Marchando para o Futuro”. Mostra preparativos da banda universitária, Bethune Cookman Marching Band, conhecida como “The Pride”. Currículo notável. Apresentações no Superbowl, em paradas da Disney, corridas da Nascar, shows de rock, programas de TV, e diversos filmes de cinema. A série mostra o início da temporada de apresentações. Mais de 300 jovens em metais, percussão, e pequenos grupos de dançarinas, malabaristas de bandeiras e balizadores.
Comecei pelo final, que mostra a apresentação. Mesmo sob chuva num encharcado gramado de futebol americano, é estonteante a beleza, o ritmo, a ousadia, a sincronia de evoluções geométricas sensacionais. Coreografias por seção, tudo com absoluta harmonia e coerência. A plateia explode em aplausos. Os alunos encerram a apresentação com profissionalismo impecável. Depois, celebram a vitória.
Maravilhado pelo desfecho fui ao início da série. Disputadíssima seleção de calouros. Rigor impiedoso das bancas examinadoras. Candidatos que passaram o fundamental e o ensino médio sonhando com a banda. Universitários que voltam ao teste depois de 03, 04 insucessos. Veteranos regem a escolha com seriedade. O experiente maestro de bandas é severo e conhecedor do que seu grupo precisa para ser ótimo.
O treinamento. Sessões exaustivas, por naipes, depois grupos, até os ensaios gerais. Jornadas de até treze horas diárias! Os responsáveis por seções se reúnem com os veteranos balizadores das apresentações. Criam coreografias e evoluções. Mesmo quando não marcha, a banda dança.
O rigor é militar. Novatas do grupo de dança, por exemplo, não podem zanzar à toa pelo campus, namorar, ou usar redes sociais. Os calouros devem usar camiseta branca. Erros continuados geram sanções: correr várias vezes à volta do campo, ser excluído da apresentação e passar os treinos executando do lado de fora o que é feito pelos titulares em campo, porque também não podem ir embora. Se algo vai mal, pesadas broncas do maestro. Talvez por aqui, logo alguém logo se queixasse à direção, à Justiça, ao Conselho Tutelar, a alguém.
Por que os alunos suportam tão grande rigor? A maioria é de negros de origem humilde, os primeiros da família a fazerem faculdade. Vários têm bolsas universitárias. Dependem da banda para seu sucesso na vida. Mas não é esta a razão de suportarem a disciplina marcial. Eles querem o orgulho de fazerem parte de um esquadrão de excelência. O preço é rigor e disciplina, que aceitam de bom grado. Assim vão se tornando excelentes músicos. E, melhor, excelentes pessoas.
Amo bandas, sejam sinfônicas, de retreta, as marciais de show ou de tradição, e as fanfarras. Afeto construído desde a infância, ao som da campeoníssima Banda Marcial Wolney Aguiar, de histórico lindo e desempenho sempre contagiante. Que passava “cantando coisas de amor”. Devíamos multiplicar bandas pelas escolas. E mesmo onde não as houvesse, adotar métodos motivacionais e criadores, com a disciplina que produz alunos talentosos, orgulhosos e vitoriosos. Não quero abolir a educação dialogal, não. Nem estou entrando no mérito do debate sobre escolas militares. Acho que, acima de tudo, educação precisa é de respeito, diálogo e compreensão das peculiaridades e ritmos de cada aluno. Mas que precisamos urgentemente de um quê de banda marcial dentro de cada sala de aula, ah, isso precisamos sim. O ensino se tornará empolgante.