• Gil Kempers é o novo colunista da Tribuna de Petrópolis e abordará temas relacionados a defesa civil e mudanças climáticas

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  • 14/jul 06:00
    Por Enzo Gabriel

    Gil Kempers é o novo colunista da Tribuna de Petrópolis. O ex-secretário municipal de Defesa Civil irá escrever, a partir da próxima quarta-feira (17), de forma quinzenal, artigos sobre temas relacionados a Defesa Civil e mudanças climáticas.

    Em um bate papo com a equipe da Tribuna, Kempers conta mais detalhes sobre os temas que serão abordados e a importância do debate em relação às mudanças climáticas.

    “Nos últimos anos, os desastres vêm se intensificando. Então os tempos de recorrência estão diminuindo, enquanto a intensificação dos desastres vai aumentando. No Rio Grande do Sul, no ano passado, tivemos uma cheia que atingiu 97 municípios, e, neste ano, o volume de chuva foi maior e atingiu 470 dos 490 municípios. A gente não vai falar só de Petrópolis. A ideia é a gente trabalhar com tudo. Então, por exemplo, falar das ondas de calor no Hemisfério Norte. Na última peregrinação para a Meca, morreram quase 1000 pessoas de calor que passaram mal na peregrinação. Então, a ideia é a gente falar de defesa civil, dos desastres do mundo inteiro. É claro que a gente vai acabar comentando de Petrópolis também, porque é o município. Por exemplo, o próximo assunto que eu vou abordar são os Núcleos de Defesa Civil, a importância do treinamento, da capacitação. Mas o objetivo é a gente conscientizar a população que os desastres são uma nova realidade”, conta Kempers sobre o objetivo da coluna.

    Espaço para falar com o cidadão

    O colunista explica que irá tratar o espaço como uma área para falar diretamente com o cidadão: “De um modo geral, nem na Defesa Civil, nem na Secretaria de Estado, você tem um espaço para falar com o cidadão, porque tem muito teor teórico de Defesa Civil. Muita gente acha que a Defesa Civil tem que alertar quando vai chover. Choveu, tem que mandar SMS. Não é isso. Então, a gente vai explicar alguns detalhes. Por exemplo, a Defesa Civil emite alerta quando existe risco. A função da Defesa Civil não é avisar se vai chover ou se vai fazer sol. Isso aí você tem um aplicativo do celular. A gente vai aproveitar e conscientizar a população de vários assuntos, de divulgar isso para que as pessoas tenham acesso à informação e aí elas possam entender por que nem toda vez que toca a sirene é para sair. Por quê? Porque as pessoas, de um modo geral, questionam isso. Ah, choveu muito, mas a sirene não foi acionada. Por quê? Porque tem um protocolo técnico feito pelos geólogos e pelos engenheiros. Quando atinge o limite de escorregamento de uma determinada área é que a sirene é acionada. Então, a ideia é levar ao cidadão a informação necessária para que ele saiba como se comportar numa situação de desastres. Existem dois tipos de intervenções, que são as obras e as não estruturais. As intervenções não estruturais dependem muito dessa comunicação de emergência e do treinamento da população”.

    Importância da educação

    “Começa evitando se jogar lixo na encosta. Uma educação ambiental que mostre que o cidadão que joga o sofá no rio é o mesmo que vai sofrer com a enchente. A gente tem que fazer essa relação para que ele entenda que ele também é responsável pela prevenção de desastres. Eu estou fazendo um mestrado na UFF sobre Defesa Civil. Tem uma matéria que eu fiz chamada Arquitetura de Desastres. Dá para você fazer uma série de intervenções na comunidade, de baixíssimo custo, que vão reduzir muito os números de desastres. Isso é uma coisa que a gente pode discutir. Por exemplo, calha feita de garrafa pet. São pequenas ações que podem diminuir muito o impacto de uma chuva na cidade”, explica.

    Interação entre políticas públicas

    “O grande erro do processo é que as políticas públicas não estavam se falando. Quando você conversa com o pessoal do meio ambiente, eles estão muito preocupados com crédito de carbono, com desmatamento legal. Mas só que você tem que interagir as políticas públicas. Então a política pública de meio ambiente, de mudanças climáticas, tem que conversar com a política pública de defesa civil, de habitação, de assistência social. Se as políticas forem realizadas de forma isolada, você vai ter lacunas ali que vão prejudicar o processo e a população. Existe a previsão de um Plano Estadual de Mudanças climáticas e a gente está participando dessa discussão. A consequência direta da mudança climática é o desastre, como tem acontecido. Cidades que não eram impactadas passaram a ser impactadas. Muitos especialistas falavam que são chuvas que ocorrem a cada 100 anos, só que, no Sul, teve no ano passado e teve esse ano. Em Petrópolis, teve chuva forte em 2022 e morreram 240 pessoas. Esse ano teve de novo. Então o tempo de recorrência vem diminuindo”, detalha Kempers.

    Avanços na responsabilização e criação de verbas

    “Já existe a tendência de uma responsabilização dos prefeitos e governadores. Aqui em Petrópolis, por exemplo, se não forem feitas algumas intervenções, a tendência é que o gestor possa responder, assim como em outras cidades, porque o Ministério Público já entende que a gente não pode mais alegar que a chuva aconteceu e que ninguém esperava isso. Isso não pode mais acontecer. Esse é um movimento que o Governo Federal vem adotando, então já existe o desenvolvimento da criação de um Fundo Federal de Defesa Civil. O Estado está se movimentando para fazer o Fundo Estadual de Defesa Civil. O Ministério Público agora está fazendo uma recomendação para que todos os municípios tenham os seus fundos e a gente faça como é, mais ou menos, o SUS para que você tenha repasse para ações de prevenção. O que estamos falando é sobre uma nova forma de se enxergar a defesa civil”.

    Exemplos de temas a serem debatidos e simplificados

    “Um exemplo do que busco na coluna é a discussão dos radares. A gente vai falar um pouquinho de por que se instala radar e qual é a necessidade de um radar. O meu primeiro pedido para instalação de radar em Petrópolis foi em 2015. Eu era diretor do Cemaden e fui a primeira pessoa a pedir. Se tivessem instalado um radar em 2015, quantas pessoas não teriam sido salvas? A gente não vai levantar a culpa de ninguém e nem ficar aqui acusando. Mas é fato que o que aconteceu em 2022 motivou uma série de mudanças que se tivessem sido atendidas lá atrás, a gente teria diminuído muito o risco na cidade”, finaliza Kempers.

    Sobre Kempers, autor da coluna:

    Mestrando em Defesa e Segurança Civil pela UFF, possui Pós Graduação em Ciência Política, MBA em Gestão Pública, Pós Graduação em Cidades Inteligentes: Tecnologia e Inovação, Curso Superior de Bombeiro Militar, Pós Graduação em Gerenciamento Operacional nas Organizações, Pós Graduação em Gestão de Emergência e Desastres, Gestão em Cidades e Planejamento Urbano e Gestão Ambiental.

    Possui especialização em Investigação e Perícia Criminal, especialização em Perícia de Incêndios e Explosões. Possui Graduação em Curso de Formação de Oficiais pela Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Oficiais e Licenciatura e Bacharelado em Física.

    Atualmente é Ten Cel BM – Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro e Assistente Técnico do GTT – Saneamento Básico, Desastres Socioambientais e Mudanças Climáticas do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (GTT-SBDSMC/MPRJ).

    Ex-secretário Municipal – Secretaria Municipal de Proteção e Defesa Civil de Petrópolis/RJ e ex Diretor do CEMADEN/RJ. Tem especialização em Gestão Integrada de Desastres por Sedimentos pela JICA (Japão) e Curso de Mapa de Risgos Naturales y Sistema de Alerta Temprano, pela Escuela Nacional de Proteccion Civil, Madrid – Espanha. Experiência na área de Secretariado Executivo, com ênfase em Gestão de Desastres. Perito Criminal e de Incêndio. Consultor de Segurança contra Incêndio e Pânico e Consultor de Gestão de Risco e Gerenciamento de Desastres.

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