• A Argentina, o tango e o Brasil

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 25/01/2016 11:10

    É famosa a rivalidade entre nós e os hermanos argentinos. O próprio uso da palavra hermanos traduz boa dose de dubiedade em relação a eles. Ou seja, dúvida e hesitação em relação a essa irmandade. Mas, felizmente, desde o início da década de 1990, prevaleceu o lado prático nas relações bilaterais que permitiu um salto espetacular no comércio entre os dois países de menos de US$ 1 bilhão em 1990 para mais de US$ 20 bilhões no início da década de 2010. Vários acordos bilaterais foram assinados em áreas de interesse mútuo.

     As vantagens de parte a parte poderiam ter sido maiores ainda não fosse a visão estrábica do kirscherismo: a dupla, marido e mulher, Néstor e Cristina Kirchner, que governou a Argentina de 2003 a 2015. Ambos acumularam uma coleção de erros crassos na condução da política econômica, em especial na área externa, que levou o país, após um pequeno sucesso inicial, a colher fra-casso após fracasso, vendo seu crédito zerado junto à banca internacional por não honrar os pagamentos de sua dívida externa ano após ano. Uma mistura esdrúxula de tango com chá-chá-chá e voodoo economics (magia econômica) que não deu em nada. Ou melhor, deu no que deu… 

    Após mais de meio século de peronismo fora do tempo e do espaço, a Argentina conseguiu eleger Mauricio Macri presidente da república. Depois de Perón, que chegou ao poder em 1946, foi o primeiro empresário a assumir o posto. Claro que o simples fato de ser empresário não lhe garante sucesso futuro. Mas certamente ajuda, e muito, ter uma visão prática na condução do governo, livrando a Argentina de um pesado passado em que a plataforma de muitos governos continha uma carga ideológica explosiva que deixou a Nação em frangalhos por décadas seguidas.

    Para nós, no Brasil, é muito instrutiva a entrevista publicado em O Globo, de 17/01/2016, de Marcos Peña, chefe de gabinete do novo governo argentino. A primeira resposta dele à jornalista Janaína Figueiredo sobre o que mais o surpreendeu no primeiro mês de governo foi direto no fígado: “A constatação de que temos um Estado muito mais deteriorado do que se percebia fora dele”. Se você pensou, caro leitor, que esta resposta bem poderia ser a do sucessor de Dilma, acertou na mosca. Não é preciso muita imaginação para ter a certeza das mazelas bem escondidas nas atuais gavetas presiden-ciais e ministeriais de Brasília. A operação Lava-Jato deixa isso muito claro a cada dia que passa, chegando cada vez mais perto do chefão oculto (apenas para quem se recusa a ver como parece ser o caso do STF) e da própria Dilma.

    Merece registro o choque de credibilidade que Macri conseguiu junto ao povo argentino, permitindo que se estreitasse a distância entre o dólar oficial e o paralelo. A despeito da abertura econômica iniciada por ele, não houve mais uma daquelas típicas corridas da população em direção à moeda americana. Em relação ao Brasil, Macri quer estabelecer uma aliança estratégica, que sempre deveria ter sido preservada em benefício mútuo. De nossa parte, sob um governo de credibilidade praticamente zerada, vai ser difícil encontrar chão comum, levando em conta a mediocridade, que vem desde o primeiro mandato de Dilma, de seus ministros cuja operacionalidade é praticamente nula.

    O caso argentino sob o novo governo Macri confirma o estudo do econo-mista Reinaldo Gonçalves sobre os benefícios de um impedimento da sra. Dilma. Ele pesquisou casos semelhantes em 15 países latinoamericanos cujos presidentes sofreram impeachment. A posse de um novo governo reforça o fator confiança, gerando o que o chamou de “bônus macroeconômico”. Ou seja, uma nova situação que se manifesta sob a forma do crescimento da renda, queda do desemprego, finanças públicas reordenadas e ajuste das contas externas. O processo de desequilíbrio político-institucional se interrompe. Cabe a nós todos, cidadãos e cidadãs, empunhar essa bandeira e mandar para casa Dilma, PT & Cia. para que o País possa retomar a vida e a esperança de dias melhores.

    gastaoreis@smart30.com.br // www.smart30.com.br

    Últimas