Corinthians: Cassundé diz que conheceu Vai de Bet pelo ChatGPT e não cobrou como intermediário
Um dos nomes envolvidos no suposto caso de desvios no acordo do Corinthians com a Vai de Bet depôs à Polícia Civil de São Paulo. Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, negou que tenha cobrado por sua parte na negociação. Ele é apontado como intermediário no acordo, que supostamente teve envolvida uma empresa “laranja”, para onde foi parte da verba paga pelo Corinthians ao empresário.
A Vai de Bet nega envolvimento em irregularidades, afirma que solicitou esclarecimentos sobre as suspeitas levantadas e rescindiu o acordo com o clube sob argumento de que “não se pode manter a parceria enquanto pairar qualquer suspeita em relação a condutas que fujam à conformidade com a ética e os preceitos legais”.
O depoimento de Cassundé foi nesta terça-feira e durou 3h30. Ele disse que não conhecia a empresa até perguntar por “dicas de como encontrar uma empresa de bet” ao ChatGPT, inteligência artificial generativa da OpenAI. Foi a partir da resposta, segundo ele, que encontrou a Vai de Bet e chegou ao contato de um sócio da casa de apostas. Ao escrever o mesmo comando, a reportagem do Estadão recebeu recomendações de elementos para analisar na escolha, mas nenhum nome de empresa do ramo foi citado.
O empresário alegou que foi o Corinthians que ofereceu R$ 25,2 milhões a ele por ter intermediado o negócio. O valor é o total de parcelas mensais de R$ 700 mil, que seriam pagos por três anos. Isso corresponde a 7% dos R$ 360 milhões acertados entre Vai de Bet e o clube, o que chegou a ser o maior acordo de patrocínio do futebol brasileiro.
Com CNPJ ativo desde janeiro de 2021, a empresa Rede Social Media Design recebeu duas parcelas (R$ 1,4 milhão) e possui um capital social declarado de R$ 10 mil, no nome Cassundé. Neste ponto que supostamente acontecia o desvio, quando a Rede Social Media Design repassava parte dos valores recebidos em comissão por meio de PIX à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, empresa com endereço na Avenida Paulista que serviria como laranja no acordo.
Do R$ 1,4 milhão pago à empresa de Cassundé, R$ 1 milhão foi transferido para a suposta empresa laranja. No depoimento, ele afirma que era por um serviço de telemedicina, mas que foi vítima de um golpe. Não foi feito registro de ocorrência sobre isso. Segundo o delegado Tiago Fernando Correia, da Delegacia de Crimes Financeiros do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), o Corinthians é uma potencial vítima no caso.
Cassundé apontou sua ligação com o clube por meio do atualmente licenciado superintendente de marketing do clube, Sérgio Moura, e Marcelo Mariano, diretor administrativo do Corinthians. Ele alega não ter envolvimento na operação, apenas na assinatura do acordo, em janeiro. O empresário também atuou na campanha de Augusto Melo, no final de 2023.
Os prints que acusam Cassundé e Augusto Melo e fizeram o presidente corintiano registrar um B.O. na semana passada não foram tema do depoimento. Enquanto lida com a investigação, Melo afirma que há traidores dentro do próprio Corinthians. Ele voltou a repetir a acusação na última sexta-feira, quando conversava com torcedores que protestavam no lado de fora do Parque São Jorge. A manifestação, que chegou a ter ameaças a Melo, foi convocada pela Gaviões da Fiel, a maior torcida organizada corintiana.
Desde o começo do ano, quando Melo assumiu, o clube tem sucessivos problemas, desde ao fracasso no Paulistão até reforços que não foram fechados, saída de diretores, além, é claro, do caso com a Vai de Bet. Um de seus principais aliados na campanha do ano passado e na gestão era Rubens Gomes, o Rubão, que disse ter ouvido de Melo que não havia intermediário na negociação. Pouco antes do caso se tornar conhecido, Rubão deixou o cargo de diretor de futebol do clube.
O Corinthians está na zona de rebaixamento do Brasileirão, em 18º. No quarta-feira, às 20h (horário de Brasília), o clube recebe o Cuiabá na Neo Química Arena, pela 12ª rodada do Campeonato Brasileiro.