• Velhos e jovens

  • 08/06/2019 08:30

    O IBGE informa que, em 1900, nossa expectativa de vida era de 33 anos! Chegar aos 40 era façanha. Mesmo sem IBGE, quando adolescentes, achávamos qualquer pessoa beirando os 40 um decrépito. Depois aprendemos que não é bem assim. Ainda mais agora, que a expectativa de vida subiu para 75. Definições de velhice passam, tradicionalmente, pela perspectiva da morte. Velho é quem tem ainda uns 15 anos por viver. Por isso é que, até juridicamente, os sessenta se tornaram um marco de início da terceira idade. Mas, a melhoria geral da saúde da população fez aumentar os casos de vidas longevas. Vieram doces eufemismos. Chamar o idoso de "maior idade", ou com ironia maior e bem-intencionada, de "melhor idade". E ditos populares para os novos tempos. Comum se ouvir, por exemplo, que os "60 são os novos 40". Fato é que, com a crescente longevidade da população idosa, já se fala em uma "quarta idade". Lá pelos 80 anos, que seriam, então, "os novos 60". A velhice se transforma. Deixa de ser vestíbulo de introspecção e tristeza. Impressiona o aumento dos belos exemplos de octogenários vigorosos, que vão à faculdade, adquirem novos empregos, praticam esportes, e ainda conseguem produzir e criar. Morrem ainda em ação. Bibi trabalhou até os 95. Niemeyer até mais de 100.

    Justo nesse quadro é que se trava o difícil debate da Reforma da Previdência. Claro que o aumento da expectativa de vida, combinada com o avanço tecnológico que produziu redução do nível de emprego e aumento da informalidade, parece mesmo uma bomba relógio para um sistema baseado no princípio da solidariedade. Uma geração trabalha para pagar as pensões das gerações que a antecederam. Mas, se menos gente ingressa no mercado de trabalho e mais gente envelhece, e com vida mais longeva, em algum momento, essa conta pode não fechar mesmo. Não quero descer a minúcias desse assunto penoso, complexo, e para o qual não vislumbro solução que não seja muito difícil. Apenas registro mais um dado neste quadro, de mudança do perfil etário da população. 

    Mas o tema hoje serve também para anotar a preocupação com o efeito na outra ponta da tabela de idades. Se os 60 são os novos 40, se os 80 são os novos 60, é ainda mais preocupante ver que os 27 são os novos 17. Vinte e sete é exatamente a idade de Neymar. Ainda chamado de "garoto", ainda tratado e se comportando como um adolescente irresponsável. Como se viu no absurdo episódio em que, mesmo se provada sua bem possível inocência quanto ao estupro denunciado, ficou evidenciada a imaturidade de seu comportamento desregrado. 

    Embora trabalhe, Neymar é só um ícone da geração conhecida como "nem-nem". A que abdica de responsabilidades. Nem trabalha, nem estuda. Gente adulta, morando ainda com os pais, se portando como adolescentes. Essa realidade tem a ver com estreitamento do mercado de trabalho, sim, mas tem a ver também com a postura mesmo de uma geração birrenta e equivocada, criada por toda uma vasta geração de pais equivocados, quando não frouxos e levianos mesmo. Muitos engoliram o discurso errôneo de que o ECA é um liberou geral para crianças e adolescentes desobedientes e infratores. Por isso se portam como "amiguinhos" de filhos que precisariam de autoridade, responsabilização e até de boa palmada terapêutica na hora certa. Sem maus tratos, e com diálogo e amor verdadeiro, que cuida, mas exige.

    É bom que os velhos rejuvenesçam, mas é urgente que os jovens se tornem adultos.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

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