• Brizola, morto há 20 anos, resistiu a golpe militar e defendia modelo desenvolvimentista

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  • 21/jun 16:52
    Por Rayanderson Guerra / Estadão

    Um misto de radicalismo e valentia alçou o jovem nascido de família humilde em Cruzinha, pequeno povoado perto da cidade gaúcha de Passo Fundo, Leonel de Moura Brizola ao posto de uma das figuras mais importantes da política brasileira no século XX. Prefeito de Porto Alegre, deputado estadual, deputado federal, governador por dois Estados, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, e candidato à Presidência por duas vezes.

    Com um extenso currículo e influência na construção da identidade de parte da esquerda brasileira, Brizola desafiou militares e liderou um movimento conhecido como “Campanha da Legalidade” que garantiu a subida de João Goulart à Presidência, em 1961.

    Herdeiro político de Getúlio Vargas, Brizola trabalhou como engraxate e ascensorista, antes de ingressar exclusivamente na política, para financiar o curso de engenharia em 1949. “Era um universitário atípico”, diria dele mais tarde o antropólogo e amigo Darcy Ribeiro, “porque não aderia aos ideais das elites e até se orgulhava de sua origem popular”.

    Crítico, combativo, radical, como era apontados pelos correligionários nos anos 1945 – ele tinha então 23 anos – quando entrou no recém-fundado Partido Trabalhista Brasileiro e mergulhou de cabeça na causa do trabalhismo pregada por Vargas.

    Embalado nas campanhas do PTB gaúcho, foi deputado federal em 1954. No ano seguinte, prefeito de Porto Alegre – e em 1958, aos 36 anos, elegeu-se governador do Rio Grande do Sul. Do Palácio Piratini seguiu para a política nacional.

    Deputado federal pelo PTB do Rio Grande do Sul, Brizola foi um dos defensores das reformas de base propostas pelo presidente João Goulart, que assumiria a Presidência em 1961. Brizola havia sido eleito governador do Rio Grande do Sul dois anos antes, em 1959. A atuação dele como governador ajudou a garantir a posse de Jango durante a crise da renúncia de Jânio Quadros.

    O País vivia um debate entre nacionalismo, mais à esquerda, e um modelo econômico liberal, pró-americano, à direita. A renúncia de Jânio Quadros, em 1961, o levou a criar e comandar uma “cadeia da legalidade” para garantir a posse de Jango, que os militares da época não aprovavam.

    Brizola não se intimidava com os militares. Com um microfone na mão, desafiou as Forças Armadas em comícios e auditórios em defesa das chamadas reformas de base.

    O movimento, liderado por Brizola, passou a utilizar a rede de rádios do estado buscando apoio à sua causa. Brizola, em boletins diários, conclamava o povo a ir para as ruas a fim de apoiar o retorno seguro e a posse de Goulart. E pedia que a população se postasse contra o golpe da junta militar, afirmando ser este o plano das Forças Armadas.

    Em 1962, foi o deputado mais votado do País, pelo Rio de Janeiro. Brizola, do PTB, de um lado, e Carlos Lacerda, do outro, pela UDN, disputavam a hegemonia por um modelo de País. Lacerda e os militares venceram, em 1964, e Brizola foi cassado. Exilado no Uruguai, foi de lá expulso em 1977, indo viver depois nos Estados Unidos e depois em Portugal.

    Ele retornou ao País com os anistiados de 1979. Como a sigla PTB havia sido “tomada” dele, Brizola fundou um novo partido, o Partido Democrático Trabalhista, PDT. Pelo PDT ele governou por duas vezes o Rio, em 1982 e em 1990. Tentou duas vezes a Presidência, perdendo para Fernando Collor em 1989 e para Fernando Henrique Cardoso em 1994. Amargou uma terceira derrota em 1998, como vice de Luiz Inácio Lula da Silva.

    Nos últimos dez anos de vida, o PDT perdeu espaço na esquerda nacional e Brizola passou a criticar Lula e o PT. “Acho o atual governo incapacitado para governar. O trabalhismo é o caminho de salvação para o nosso país. Esses neoliberais já fracassaram.”

    “Escrevo horas antes da votação, pela Câmara dos Deputados, do vergonhoso salário mínimo de R$ 260 (…) Esta decisão sobre o salário mínimo é uma espécie de epitáfio sobre as esperanças que o nosso povo trabalhador depositou em Lula.” A crítica foi escrita em maio de 2004 por Brizola quando a Câmara começava a debater o salário mínimo de R$ 260.

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