• Reposição hormonal pode aliviar sintomas da menopausa; saiba quando ela é indicada

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  • Por Aghata Paredes

    A reposição hormonal é um tema cada vez mais discutido no contexto da saúde da mulher, especialmente durante a menopausa. Trata-se de um tratamento que visa reintroduzir hormônios que o corpo deixou de produzir naturalmente, auxiliando a aliviar os sintomas desagradáveis desse período e prevenindo complicações de longo prazo. A Dra. Cristiane Martins do Couto, médica especializada em endocrinologia e menopausa, explica detalhadamente como essa terapia funciona, seus benefícios, e quando é recomendada.

    Segundo ela, a reposição hormonal é o processo de “colocar de volta no corpo hormônios que ele não produz mais adequadamente, seja por falência glandular ou redução na produção”. No caso da menopausa, os hormônios em questão são o estradiol e a progesterona, que deixam de ser produzidos em quantidades suficientes devido à insuficiência ovariana.

    Sintomas da menopausa e o papel da reposição hormonal

    A menopausa geralmente começa na fase do climatério, a partir dos 35 anos, quando a mulher começa a experimentar alterações no ciclo menstrual, como excesso ou redução de fluxo, variações nos intervalos menstruais e sintomas de tensão pré-menstrual (TPM) mais acentuados. “Podem ocorrer palpitação e sensação de angústia, irritabilidade, labilidade emocional, insônia, desânimo, falta de energia, aumento de gordura abdominal, perda de massa muscular, redução da libido, mais desejo por alimentos açucarados, confusão mental, memória alterada, dificuldade de concentração, alterações intestinais, digestão mais lentificada, cabelos, pele e unhas mais ressecados e enfraquecidos. A mulher se olha no espelho e não se reconhece mais. Os sintomas mais tardios são os fogachos, redução da lubrificação e atrofia vaginal, o que leva ao desconforto e dor no relacionamento sexual, depressão, síndrome do pânico, transtornos de ansiedade e demência, além de incontinência urinária”, explica Cristiane.

    Foto: Freepik

    A médica ressalta que iniciar a terapia de reposição hormonal (TRH) quando esses sintomas aparecem é fundamental. “Pequenas quantidades de hormônios já podem resolver a maioria dos sintomas e prevenir problemas cardiovasculares, cerebrais e ósseos, sendo esse o principal objetivo da TRH”, afirma a especialista.

    Quando a reposição hormonal é indicada?

    Segundo ela, todas as mulheres na menopausa deveriam considerar a TRH, pois ela reduz o risco de morte cardiovascular e fraturas por osteoporose. “Já a partir dos 35 anos, a mulher deve acompanhar seus níveis hormonais com um endocrinologista para iniciar o tratamento o quanto antes e evitar os danos causados pela falta de hormônios”, recomenda. Os exames para avaliar a necessidade de TRH incluem análises de sangue e imagens da mama, abdômen e pelve, podendo incluir também exames de crânio.

    Tipos de reposição hormonal e benefícios

    Existem diferentes tipos de TRH, segundo a especialista, como hormônios bioidênticos, que são idênticos aos produzidos pelo corpo humano, garantindo maior segurança e eficácia. “Há cerca de 20 anos, utilizavam-se hormônios derivados da urina de égua prenha, o que realmente aumentava o risco de câncer e outras complicações. Hoje, utilizamos hormônios isomoleculares ou bioidênticos, que são iguais aos nossos”, destaca, enfatizando os avanços e a segurança dos tratamentos atualmente.

    Ainda segundo ela, os benefícios da TRH vão além da redução de sintomas imediatos da menopausa. Cristiane enfatiza que a terapia “além de reduzir o risco cardiovascular e, consequentemente, o risco de morte por infarto do miocárdio ou AVC, reduz o risco de morte por osteoporose, o risco de Alzheimer e demências de outros tipos. Melhora a qualidade do sono, estados de depressão e síndrome do pânico, transtornos de ansiedade e compulsão alimentar. Aumenta a massa óssea e a massa muscular, auxilia no emagrecimento, melhora a textura da pele, o humor e a disposição. A qualidade de vida da mulher volta a ser plena.”

    Um conceito importante relacionado à TRH é a “janela de oportunidade”, que se refere aos primeiros dez anos após a menopausa. “Esses primeiros anos são cruciais para impedir o endurecimento dos vasos sanguíneos e a perda intensa de massa óssea”, explica a médica. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado, melhor. No entanto, mesmo após esse período, a TRH ainda pode oferecer benefícios significativos.

    Segurança e contraindicações

    A reposição hormonal bioidêntica é considerada segura, mas, como qualquer tratamento, possui contraindicações. “Esta terapia não deve ser feita em casos de câncer de mama ou endométrio prévio, cânceres de qualquer região em atividade ou em tratamento, meningioma, sangramento vaginal não esclarecido, doença hepática descompensada, doenças trombóticas não esclarecidas e não tratadas, porfiria. Casos de infarto do miocárdio ou AVC prévio, lúpus, tabagismo e algumas outras condições precisam ser avaliados de perto, mas talvez não possam realizar a TRH”, alerta a médica.

    Cabe ressaltar, ainda, que o tratamento hormonal requer ajustes regulares para garantir sua eficácia e segurança. “O acompanhamento deve ser semestral, com exames de imagem anuais”, orienta, ressaltando a importância de um monitoramento contínuo para adaptar o tratamento às necessidades individuais de cada paciente.

    Alternativas e abordagens naturais

    Embora fitoterápicos possam ajudar a aliviar alguns sintomas da menopausa, a médica reforça que “eles não funcionam como reposição hormonal e não evitam os riscos cardiovasculares e ósseos que queremos prevenir”. No entanto, óleos como o de prímula e extrato seco de amora, segundo a especialista, podem ser usados como complementos para melhorar o bem-estar.

    Foto: Freepik

    Melhoras dos sintomas

    Ao iniciar a TRH, os sintomas começam a melhorar após três semanas, com recuperação plena em cerca de 60 dias. “Não existe um prazo definido para interromper a TRH bioidêntica, desde que seja monitorada adequadamente”, afirma a médica, destacando que a terapia pode ser mantida por muitos anos.

    Questionada sobre as principais mudanças que as mulheres devem fazer em seu estilo de vida ao iniciar a reposição hormonal, a médica enfatiza que esta é apenas uma parte de um cuidado mais abrangente com a saúde e o bem-estar. “É uma pergunta muito importante, pois somente a TRH não será suficiente para melhorar a qualidade de vida. Temos que lembrar que nosso corpo está envelhecendo e, quanto mais agredirmos nossas células, mais dificuldade elas terão para se recuperar. Portanto, o estilo de vida é fundamental! Atividade física, tanto de força quanto cardiovascular, é essencial, assim como alimentação saudável, com redução de ultraprocessados, álcool e bebidas açucaradas. Sono adequado, saúde mental e espiritual, convívio interpessoal saudável e não fumar são todos fatores super importantes para que possamos ter uma vida plena e atingir a idade mais avançada com plenitude e autonomia”, conclui.

    Cristiane Martins do Couto é médica, expert em menopausa, formada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) em 2011. Possui pós-graduação em endocrinologia e metabologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO), além de especializações em medicina esportiva, longevidade saudável, medicina ortomolecular e preventiva.

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